Quarta, 23 de dezembro de 2014
Por
Siro Darlan, desembargador do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro e Coordenador Rio da Associação Juízes para a democracia.
Siro Darlan, desembargador do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro e Coordenador Rio da Associação Juízes para a democracia.
Esopo foi um pensador grego que escreveu no século VII antes de
Cristo fábulas de caráter moral e alegórico que permanece aplicável até
os tempos atuais. Uma delas me chama muita atenção pelo seu caráter
pedagógico e a prevalência do instinto animal da força sobre a razão.
Conta Esopo que um Lobo estava bebendo água num riacho, logo mais abaixo
um cordeiro começou a beber. O Lobo, fazendo uso de sua superioridade,
de sua força e de sua arbitrariedade reclamou arreganhando os dentes:
Como você tem a ousadia de vir sujar a água que estou bebendo? O
Cordeiro, com subserviência e humildade respondeu: Como sujar? A água
corre daí para cá, logo não posso estar sujando sua água.
O Lobo, autoritário, replicou: Não me responda. Pois sei que você
estragou o meu pasto. O Cordeiro humilde respondeu: Como posso ter
estragado seu pasto, se nem dentes tenho? Ao que emendou o Lobo, fiquei
sabendo que você andou falando mal de mim há um ano. O Cordeiro,
inocente, respondeu: Como poderia falar mal do senhor há um ano se
sequer completei um ano? E o Lobo arrogante não tendo mais argumentos,
atacando o Cordeiro, ainda disse: Se não foi você, foi seu pai, sua mãe,
algum parente. Devorando o mais fraco.
A história é a mesma. O Lobo reformou um estádio com superfaturamento e
entregou para seus amigos construtores, destruiu o parque aquático e a
pista de atletismo às vésperas de uma olímpiada. Expulsou os índios,
aumentou a tarifa dos transportes, colocou o helicóptero oficial para
transportar animais de estimação e contratou a esposa para administrar
as concessionárias públicas responsáveis pela má prestação do serviço e
alto custo para o rebanho.
O Cordeiro oprimido pelo alto custo de vida e entristecido pelo uso
feito das taxas e impostos cobrados pelo Lobo foi às ruas reclamar
contra essa exploração exigindo respeito aos mais humildes e oprimidos. O
Lobo, tal como no século VII A/C, deu ordens a seus guardas para que
prendessem os Cordeiros e os levassem para as masmorras acusando-os de
incendiarem a Casa das Leis, que nunca foi incendiada; quebrarem as
vidraças dos banqueiros, que nunca reclamaram qualquer dano.
Enfim, mais uma vez, o autoritarismo e a força venceram a razão e os
argumentos disponíveis dos mais frágeis. Os cordeiros estão nas
masmorras. Mas, quem se importa?