Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

domingo, 28 de dezembro de 2014

Por Escrito: Segurança pública não chega para o pobre

Domingo, 28 de dezembro de 2014
Do Blog PorEscrito
Ao anunciar a permanência no cargo do secretário da Segurança Pública, Maurício Barbosa, o governador eleito Rui Costa [Bahia] explicou sua decisão com o argumento de que “o sistema é bem organizado”, sendo necessário apenas “avançar em alguns indicadores”.

Uma rápida observação de números oficiais mostra que a taxa de homicídios por 100 mil habitantes cresceu de 9,4 para 41,1 na Bahia de 2000 a 2010, registrando avanço de 339,5%, enquanto em São Paulo e no Rio de Janeiro tiveram queda, respectivamente, de 66,6% e 35,4%.

Números concretos e mais recentes, estes levantados pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, demonstram que, no ano passado, a Bahia foi líder absoluta dos assassinatos no país, com 5.440 ocorrências, contra 4.761 do Rio e 4.739 de São Paulo, Estados com populações maiores.

Estamos, portanto, em palavras claras, diante de “um plano bom que não deu resultado”, o que permite uma reflexão: ou o prestígio do secretário está além da compreensão comum ou o governo jogou discretamente a toalha, admitindo conviver com índices desastrosos que, afinal, não lhe tiraram a vitória nas urnas em outubro.

Não seria de todo espantoso. Segurança, hoje em dia, neste Estado, não é pública. É privada, um bem exclusivo dos mais bem situados socialmente. As pessoas se isolam em prédios e casas com recursos eletrônicos e vigilância e, a trabalho ou lazer, deslocam-se para pontos igualmente protegidos.

Correm risco, é verdade, mas, estatisticamente, estão longe do braço da violência. As listas de mortos são preenchidas por anônimos, dos quais raramente se identificam os matadores. Quando a vítima é uma pessoa da classe média para cima, é um deus-nos-acuda, e aí todos conhecemos seu nome, endereço e o sofrimento da família.

O perigo está amplamente disponível é para a grande massa, que transita a pé ou de ônibus, à noite e de madrugada, nos becos e vielas de nossas encostas, ou mesmo nas ruas centrais e de bairros considerados “seguros”. Fora desse padrão, determinado pela extrema necessidade diária da sobrevivência, ninguém se expõe