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(Millôr Fernandes)

sábado, 24 de janeiro de 2015

Auditoria nas contas do GDF é necessária para responsabilizar Agnelo e controlar Rollemberg

Por Aldemario Araujo Castro*
Brasília, 24 de janeiro de 2015
PostO PSOL/DF, vários de seus dirigentes e filiados formalizaram, no dia 21 de janeiro, um pedido de auditoria popular nas contas do GDF em relação aos anos de 2014 e 2015. Essa iniciativa, alvo de algumas críticas, é necessária para responsabilizar o ex-Governador Agnelo Queiroz e controlar o governo Rodrigo Rollemberg.
Preliminarmente, é preciso registrar e acentuar que não existe governo, num ambiente democrático, que não esteja submetido a críticas e controles e não seja compelido a ser transparente quanto à condução dos negócios públicos. Nesses campos, temos ainda muito a evoluir. Apenas a título de ilustração, pode-se anotar que a legislação sobre transparência na Suécia admite o acesso de qualquer cidadão até mesmo às correspondências oficias (físicas e eletrônicas) das autoridades públicas, inclusive do primeiro-ministro.
Eis algumas e emblemáticas passagens do programa de governo do candidato Rodrigo Rollemberg:
A população participará de todas as ações administrativas – do planejamento à avaliação das políticas públicas – e terá acesso ao andamento das obras e à execução orçamentária, a serem divulgados de forma transparente e em linguagem adequada./ O controle social será estimulado e facilitado por medidas que incluem a constituição de um Conselho de Transparência e Contas Públicas, autônomo e independente, e a divulgação dos contratos e gastos realizados com dinheiro público, em linguagem clara e acessível, na internet e em painéis colocados em locais de grande afluência da população, tais como rodoviárias e estações de metrô./Fortalecer os espaços de participação popular e as instâncias de controle social com o objetivo de implantar a gestão colaborativa e construir um governo ético, democrático e transparente.
Portanto, o anunciado “rombo” de quase 4 (quatro) bilhões de reais, herdado da gestão anterior, precisa ser especificado (composição, credores, empenhos, etc) e devidamente publicizado. Assim, e só assim, será possível definir a exata dimensão da situação financeira do GDF. Ademais, serão esses dados e elementos que permitirão responsabilizar o ex-Governador Agnelo Queiroz, inclusive por violação à Lei de Responsabilidade Fiscal.
É tão evidente a necessidade de explicitar o conteúdo do tal “rombo” (e sua origem) que o Tribunal de Contas dos Distrito Federal (TCDF) fixou prazo justamente para o governo distrital realizar essa demonstração. Segundo noticia a imprensa local, o TCDF decidiu que o GDF “... precisará apresentar dados que comprovem a crise financeira e a falta de condições para cumprir as obrigações com o funcionalismo”.
Outra vertente fundamental da auditoria nas conta do GDF envolve a análise cuidadosa dos pagamentos realizados nestes primeiros vinte dias do mês de janeiro. Com efeito, algumas dezenas de milhões de reais foram pagos a uma série de empresas em função de: execução de infraestrutura em parcelamentos, manutenção da frota oficial de veículos, manutenção de serviços administrativos, manutenção do ensino, manutenção de bens imóveis, manutenção do sistema socioeducativo, limpeza pública, reforma de prédio, construção de prédio, gestão descentralizada do Sistema Único de Assistência Social, sinalização de trânsito, campanhas educativas de trânsito, promoção do turismo, proteção e atendimento integral à família, realização de eventos e até premiações (pesquisa no portal das contas públicas, mantido pela Controladoria-Geral do Distrito Federal).
Dois grandes pagamentos despertam atenção especial. No dia 16/01, mais de R$ 6 milhões foram pagos, de uma dívida reconhecida (empenhada) em 12/09/2014, em aquisição de veículos. Já no dia 21/01, o GDF pagou mais de R$ 2 milhões a uma conhecida empresa de engenharia por conta da "execução de obras de urbanização". Essa empresa fez a maior contribuição individual para a campanha do candidato Rollemberg (foram R$ 1 milhão de reais).
Qual o critério para que certos empenhos sejam liquidados (e outros não)? Por que esses recursos financeiros, ao menos nesse momento de anunciada crise fiscal, não são direcionados para as despesas “essenciais” com direitos trabalhistas, alimentação em creches, insumos de saúde e compromissos dessa natureza.
Foram essas as informações pedidas ao Governador Rodrigo Rollemberg para viabilizar o início da auditoria popular nas contas do GDF:
a) em relação ao anunciado “rombo” de quase 4 (quatro) bilhões de reais. Arrolar, em ordem decrescente de valor, as obrigações de despesas (“dívidas” ou “compromissos”) superiores a R$ 50 (cinquenta) mil, com indicação, em relação a cada item, da sua origem (fato gerador), credor, montante, data de vencimento e data do empenho (se houver)?
b) listar as receitas, próprias e transferidas, devidamente identificadas e especificadas, que ingressaram nas contas bancárias do GDF nos meses de novembro e dezembro de 2014 e até a presente data;
c) arrolar os pagamentos realizados pelo GDF superiores a R$ 50 (cinquenta) mil, em ordem decrescente de valor, desde o dia 1o de novembro de 2014 até a presente data, com especificação das notas de empenho, ordens bancárias, datas de desembolsos, objetos e beneficiários (por órgão, quando se tratar de folha de pagamento de pessoal);
c.1) em relação aos pagamentos efetivados no exercício de 2015, indicar o critério utilizado para a liquidação de certos empenhos em detrimento de outros;
d) listar os pagamentos já realizados e previstos para serem efetivados pelo GDF para viabilizar a realização da corrida da Fórmula Indy em março do corrente ano;
e) indicar e especificar, se for o caso, se nos últimos dois quadrimestres de 2014, o GDF contraiu obrigação de despesa que não podia ser cumprida integralmente dentro daquele exercício, ou que tenha deixado parcelas a serem pagas no corrente exercício, sem a suficiente disponibilidade de caixa (art. 42 da “Lei de Responsabilidade Fiscal”).
Não custa insistir. Sem participação, controle e crítica os governos tendem para o desgoverno, para toda sorte de autoritarismo e para a distância dos interesses da maioria da população. Com o governo Rollemberg não é, nem será, diferente.

*Aldemario Araujo Castro é Mestre em Direito, Procurador da Fazenda Nacional, Professor da Universidade Católica de Brasília, Conselheiro Federal da Ordem dos Advogados do Brasil
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