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(Millôr Fernandes)

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Com o "voto crítico" o Syriza jamais teria chegado ao poder

Segunda, 26 de janeiro de 2015
Do Blog do Tsavkko
O partido grego de esquerda Syriza bateu na trave da maioria absoluta pese sua imensa e elástica vitória nas eleições do último domingo. Terá de negociar para conseguir ao menos os 2 votos, já que conseguiu 149 cadeiras ao invés das 151 necessárias para a maioria absoluta no parlamento. De fato, caso o partido consiga estes dois votos necessários e forme um novo governo forte, a Europa poderá ver mudanças significativas nos próximos anos, especialmente com o Podemos na Espanha crescendo e podendo até mesmo governar o país.
 
Mas o que me interessa aqui não é analisar o Syriza e sua vitória, e sim chamar à atenção para a derrocada do PASOK, o Partido "socialista" ao estilo do PS francês, PSOE espanhol e... do PT.
 
O partido derreteu, não chegou aos 5% dos votos, e se tornou basicamente irrelevante. O objetivo das esquerdas no Brasil deveria ser não apenas o de formar algo como Syriza/Podemos, mas relegar o PT, como o PASOK ,à irrelevância, mas esbarra em um problema (dentre muitos): O "voto crítico".
 
Como já escrevi antes, o "voto crítico" no PT é um câncer, a tese do "mal maior" apenas perpetua este câncer e impede seu tratamento. Ou melhor, ajuda a espalhar o câncer ao invés de tratá-lo. Não puxa o PT para a esquerda, Levy e os cortes em direitos deixam claro, mas simplesmente acomoda o partido que pensa ter votos garantidos sempre que no aperto. Pensa e realmente os tem.
 
Sabem como o PASOK (o PT grego) afundou? Galera de esquerda parou de votar neles, de dar "voto crítico" e buscou alternativa. É uma receita simples. Claro, foi preciso nascer uma alternativa, mas ao invés de simplesmente repetir "não há alternativa" os gregos (e espanhóis) foram às ruas e criaram uma. E a dica vale também para os sectários de esquerda, o Syriza originalmente era uma coalizão, mas (os partidos) conseguiram superar as principais divergências e concorrer como um só.
 
Imaginem se a esquerda grega ficasse repetindo o mantra do "voto crítico para combater o mal maior" e continuasse a votar no PASOK? O Syriza continuaria como um partido pequeno, pese incômodo. O PASOK no fim se aliou ao ND, apoiando políticas criminosas de austeridade, veremos o PT e o PSDB aliados em algum momento? Possivelmente, e há petistas que já pedem por isso.
 
O Syriza prova que é sim possível lutar contra a direita e contra os amigos da direita travestidos de esquerda, basta querer e se mobilizar. O Brasil precisa prestar muita atenção e buscar seguir o exemplo, ao contrário do Syriza que já foi questionado pelo FT se iria ser mais Lula ou mais Chávez.
 
Eu diria que nenhum deles, a Grécia não é a Venezuela ou o Brasil, mas sem dúvida, não devem nem sonhar em copiar o Lula, ou em pouquíssimo tempo terão se transformado no PASOK ou no PT e estarão basicamente pactando com a pior direita e realizando os "ajustes" exigidos pela troika e fazendo o povo grego sofrer novamente.
 
O desafio do Syriza é exatamente não copiar Chavez e muito menos Lula, mas inovar, buscar uma via grega para a saída da crise e inspirar.
 
A nós, brasileiros, cabe buscar inspiração, mas também buscar um caminho ou uma via própria e parar de uma vez por todas de manter no poder aqueles que se submetem aos mandos e desmandos das elites.

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Atualização 26/01/15:
 
Tem gente (corretamente) criticando a aliança do Syriza com o Gregos Independentes, de direita. Mas é preciso ter algumas coisas em mente.

O apoio do KKE (Comunistas) teria evitado isso, mas como os stalinistas se acham puros demais pra apoiar o Syriza...
Mas tem uma questão, o Gregos Independentes é sim de direita, mas fechou um acordo baseado num programa que é capitaneado pelo Syriza, que é o combate à austeridade. Ou seja, o Syriza não rebaixou (até o momento) seu programa, mas incluiu um partido que concorda com esse programa, seria como se a Katia Abreu defendesse reforma agrária ao invés do PT ir defender o agronegócio. Vamos ver no que dá. Aliás, era o que o PT deveria ter feito ha 12 anos, ter aproveitado o apoio crítico de setores da esquerda (mesmo internos) e imposto um programa aos aliados, não o contrário. É uma diferença fundamental.
O problema principal do Syriza (ou do PT) não foi em si ter se aliado com "a direita", mas sim ter rebaixado ou mesmo abandonado seu programa pelo da direita. E no caso do PT com um agravante, com claro e descarado estelionato eleitoral. Esta última eleição de Dilma, aliás, chega a ser um acinte.