Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

HOJE EM DIA, SER BOM VASSALO O QUE É? É RESPALDAR O LEVY!

Terça, 27 de janeiro de 2015
Do Blogue Náufrago da Utopia
Por Celso Lungaretti
-->
"Os ajustes que estamos fazendo, eles são necessários para manter o rumo, para ampliar as oportunidades, preservando as prioridades sociais e econômicas do governo que iniciamos há 12 anos atrás."

 
Assim a presidenta Dilma Rousseff justificou, nesta 3ª feira (27), o elenco de medidas recessivas, de inspiração neoliberal, com que seu ministro Joaquim Levy tenta enfiar goela dos explorados abaixo a conta do esfarelamento da economia brasileira na atual década. Dos bancos, grandes capitalistas, herdeiros das maiores fortunas e rentistas nenhuma quota de sacrifício se exigirá, como sempre. 

Enquanto isto, o novo governo grego garante que a contabilidade perversa do capital não é razão suficiente para imporem-se rigores e penúria ao povo. 

"Vai ser ruim para a comunidade econômica europeia e vai ser ruim para a Grécia num prazo mais longo", observa o signatário do AI-5 e milagreiro de araque Delfim Netto, ao mesmo tempo em que defende Levy, preferido por 11 entre 10 viúvas da ditadura, antigos serviçais dos milicos e cuervos que a direita troglodita criou.

No que é apoiado pelo porta-voz mais estridente do neofascismo tupiniquim, Reinaldo Azevedo: ele rasga seda para Levy e qualifica os novos governantes gregos de "porras-loucas do calote", augurando-lhes catástrofes e desgraças.

Para ambos, Alexis Tsipras é um desatinado e Dilma age com sabedoria ao bancar Levy.Permito-me acrescentar que se trata daquela sabedoria sobre a qual discorreu o grande Brecht:
"Nos livros antigos está escrito o que é a sabedoria:  manter-se afastado dos problemas do mundo e sem medo passar o tempo que se tem para viver na terra;  seguir seu caminho sem violência, pagar o mal com o bem, não satisfazer os desejos, mas esquecê-los.  Sabedoria é isso!  Mas, eu não consigo agir assim".
E,  por falar em Brecht e brechtianos, ocorreu-me também que a situação presente tem tudo a ver com o trecho abaixo da magistral peça Arena conta Tiradentes, que é de 1968 mas continua atualíssima:
CORINGA Ser bom vassalo o que é? Me responda quem souber.
CORO Ser bom vassalo é esquecer aquilo que a gente quer. Ser bom vassalo é morrer. Ser bom vassalo, quem quer?  Me responda quem quiser.
CORINGA Só quer ser um bom vassalo, quem vive seu bom viver, quem explora e não é explorado, quem tem tudo pra perder!

Em tempos idos, os bons vassalos defendiam apenas seus privilégios. Agora a coisa piorou: até os que deveriam ser contra os privilégios estão se tornando bons vassalos, pois temem que a governabilidade seja prejudicada se entrarem em atrito com o suserano.
 
Uma característica, contudo, permanece imutável: ser bom vassalo é esquecer aquilo que a gente quer. Aquilo pelo que um dia lutamos. Aquilo em nome do qual companheiros estimados morreram e sofreram.