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(Millôr Fernandes)

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

“Mostrei quem eram os verdadeiros bandidos”


 
Há dois anos, Daniel Eustáquio lutava para provar que seu filho e o amigo dele haviam sido executados por quatro policiais militares. Ontem, ele conseguiu. Um júri condenou os PMs a 24 anos de reclusão.
Daniel e sua esposa, Graça, na saída do Forum Criminal da Barra Funda. | Foto: Fausto Salvadori Filho
Daniel e sua esposa, Graça, na saída do Forum Criminal da Barra Funda. | Foto: Fausto Salvadori Filho

“Eu vou provar que vocês mataram um inocente.” Foi o que o eletricista Daniel Eustáquio de Oliveira, hoje com 52 anos, disse para um grupo de policiais que encontrou na saída do Hospital Municipal de Osasco, na Grande SP, na manhã de 1º de julho de 2012. Daniel havia acabado de ver o corpo de seu filho, César Dias de Oliveira, morto a tiros pela PM junto com um amigo, Ricardo Tavares da Silva. Os dois tinham 20 anos.

Ontem (27/1), Daniel cumpriu a promessa. O sargento Marcelo Oliveira de Jesus, 43 anos e os soldados Cringer Ferreira Prota, 39, Denis da Costa Martinez, 38, e Raphael Arruda Bom, 31, foram condenados a 24 anos de reclusão pelas mortes de César e Ricardo, na 5ª Vara do Júri da Capital.

“Foram dois anos, seis meses e 27 dias de espera. Agora o Brasil todo sabe quem era meu filho e quem são os verdadeiros bandidos”, comemorou Daniel, na saída do Fórum Criminal da Barra Funda. No antebraço direito, carregava uma tatuagem com o rosto de César, em cima da inscrição Meu Herói. Daniel olhou para cima, em direção aos relâmpagos que faiscavam no céu escuro, e disse: “Um abraço, filho”.

Para limpar o nome dos meninos e conseguir a condenação dos policiais, o pai lutou do começo ao fim. Primeiro, tirou uma licença de 45 dias do seu emprego como funcionário público da prefeitura de Vargem Grande Paulista para investigar o crime por conta própria. Conseguiu encontrar uma mulher que havia visto as mortes da sua janela e convenceu a testemunha a falar com os policiais do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa). A batalha de Daniel prosseguiu até o dia do julgamento, quando conseguiu localizar e levar ao fórum uma testemunha-chave que estava desaparecida após sair do Programa de Proteção à Testemunha.