Sexta, 27
de fevereiro de 2015
Janot
elevou segurança após ser informado sobre a possibilidade de ser alvo de
atentados
Janot apresenta relatório no Senado, em outubro. / Antônio Cruz (ABr)
Do El País - Brasil Fontes oficiais confirmaram na
quinta-feira a este jornal que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot,
elevou sua segurança e a de sua família depois que o ministro da Justiça, José
Eduardo Cardozo, ter anunciado pessoalmente na quarta-feira a preocupação dos
serviços de inteligência diante da possibilidade concreta de que ele seja alvo
de atentados relacionados com as investigações do 'casoPetrobras'. A Operação Lava Jato, que mantém o país em suspense há quase um
ano, está a ponto de dar um passo decisivo e de repercussões históricas com a
apresentação de denúncias formais contra deputados e senadores, aguardadas para
esta sexta-feira, mas que serão conhecidas na próxima semana, conforme
informações obtidas pelo EL PAÍS.
As ameaças não provêm de células
terroristas, mas de elementos “radicalizados” que extremaram suas posturas como
consequência do processo de polarização que vem sendo observado na sociedade brasileira desde as
eleições de outubro (vencidas por Dilma Rousseff com apenas com 51% dos votos,
contra 49% do oposicionista Aécio Neves). Segundo fontes confiáveis, essa
polarização pode conduzir à “violência” e dificulta o trabalho “firme e
equilibrado” da Procuradoria e da Polícia Federal, que junto com o juiz federal do Paraná Sergio Moro trouxeram à luz o maior caso de corrupção da
sétima economia mundial, tornando pública a podridão escondida pela maior
empresa do Brasil, a maior empresa pública da América Latina (outrora “o
orgulho dos brasileiros”), que hoje é considerada a petroleira mais endividada
do mundo depois de ter perdido, em dois anos, 70% do seu valor de mercado.
Nos últimos meses, a fanatização de determinados grupos
que atribuem a corrupção ao PT e a Dilma Rousseff (presidenta do Conselho de
Administração da Petrobras durante a maior parte dos anos investigados) e dos
círculos próximos ao Governo, que defendem sua atuação, é claramente
perceptível em blogs e inclusive nos meios de comunicação tradicionais. “As
denúncias vão deixar insatisfeitos ambos os extremos”, explica outra fonte
muito próxima da investigação iniciada em Curitiba há dois anos, que aponta para
a possibilidade de que as ameaças tenham sido “estimuladas” por setores com
interesses na Lava Jato.
Rodrigo Janot (com seu dispositivo de segurança já
aumentado) participou na quinta-feira de um ato público em Uberlândia (Minas
Gerais) em repudio à tentativa de assassinato sofrida pelo procurador Marcus
Vinicius Ribeiro, de Monte Carmelo, atingido por 3 dos 12 disparos feitos por
um desconhecido na semana passada e que, segundo o procurador-geral, “é um
ataque à democracia”.
Espera-se que ao menos trinta políticos sejam denunciados
na próxima semana: a lista vem sendo vazada há meses por alguns jornais
brasileiros e compromete muito seriamente o partido do governo e sua base
aliada (PP e PMDB). As autoridades reconhecem que o montante total de dinheiro desviado pela rede de subornos, superfaturamento de
contratos, financiamento irregular de partidos e lavagem de dinheiro poderia
inclusive duplicar a quantidade inicialmente calculada pela Polícia Federal e o
Tribunal de Contas, que era de 4 bilhões de dólares (cerca de 11,4 bilhões de
reais) entre 2004 e 2012.