A
esta altura, considero que o PT e Dilma Rousseff perderam quaisquer
condições morais de continuarem detendo a Presidência da República.
Não por causa do mensalão e do petrolão,
mas por algo muito pior: estarem dando carta branca, na formulação e
execução da política econômica, a um ministro que representa a negação
de tudo que o partido vem defendendo desde que surgiu. Está lá, no
manifesto de fundação:
"O
PT nasce da decisão dos explorados de lutar contra um sistema econômico
e político que não pode resolver os seus problemas, pois só existe para
beneficiar uma minoria de privilegiados".
Discípulo de Milton Friedman, neoliberal até a medula, Joaquim Levy é
criatura inconteste desse sistema econômico e político que só existe para beneficiar uma minoria de privilegiados.
Afora representar o Bradesco no poder, pois foi o subalterno escolhido
para a vaga depois que o presidente do banco, Joaquim Trabuco, recusou o
ministério.
Um partido dos trabalhadores não pode apoiar um ajuste econômico
recessivo, que sacrifica impiedosamente os explorados mas poupa o grande
capital e os grandes parasitas (os herdeiros das maiores fortunas).
Muito menos depois de ter vencido uma eleição jurando por Deus e todos
os santos que jamais agiria assim, enquanto soltava os cachorros em cima
de uma adversária, acusando-a de pretender entregar o Brasil para os banqueiros. As voltas que o mundo dá.
Enfim, a única saída digna neste instante é a renúncia de Dilma Rousseff.
Até porque, enquanto durar a agonia lenta de um governo que já não
oferece esperança nenhuma à sociedade, cada vez mais vai crescer o
prestígio da direita e será esvaziado o da esquerda. No auge da
recessão, lá por agosto, a correlação de forças nos será tão
desfavorável que o impeachment vai acabar acontecendo de qualquer jeito.
Só não vê quem não quer.
Será muito melhor se renunciar enquanto esta ainda não parece ser a
alternativa à destituição iminente (quando as coisas chegarem a tal
ponto, o ato se tornará uma confissão de derrota, não uma demonstração
de dignidade).
Para quê isto servirá? Para evitar que a direita se robusteça ainda
mais. Enquanto durar o impasse, ela estará acumulando forças.
Antes motivo de piada cada vez que botava a cara nas ruas (lembram do Cansei?),
a dita cuja agora dá de goleada nas manifestações favoráveis ao
governo, cujos índices de rejeição são assustadores se levarmos em conta
que ainda não estamos no olho do furacão econômico.
E, claro, em tempo de penúria brava, a direita conquistará cada vez mais
adeptos, até encostar Dilma nas cordas. A verdadeira opção é entre sair
com elegância neste instante ou nocauteada depois.
Antecipando-se ao impeachment com sua renúncia, Dilma abortará a
apoteose direitista na qual seu impedimento se constituirá; e vai evitar
que se acrescentem mais danos aos desastres acumulados até agora,
recolocando a esquerda no papel que melhor desempenha: o de estilingue.
Pois, como vidraça, foi estilhaçada em mil pedaços.
Torço para que Dilma seja capaz de tal gesto de grandeza.