Segunda, 27 de julho de 2015
Para o Prêmio Nobel
da Economia não é surpreendente que uma figura anti-austeridade, como Jeremy
Corbyn, surja como sério concorrente à liderança do Partido Trabalhista
britânico. "Fora da Alemanha a ideia de que a austeridade é prejudicial
está muito disseminada. Acho que é a visão correta, entende".
27 de Julho, 2015
As pessoas irão lutar contra as políticas de austeridade, entende o Prémio Nobel.
“Não estou surpreendido de todo que exista uma
reivindicação por um forte movimento anti-austeridade em torno do aumento das
preocupações com a desigualdade. As promessas do New Labour no Reino Unido e
dos Clintonites nos EUA têm
sido uma deceção”, afirmou o ex-economista do Banco Mundial e professor na
Universidade da Columbia nos EUA.
Joseph Stiglitz entende ser natural que os jovens sejam os
defensores mais prováveis da candidatura de Jeremy Corbyn à liderança do Labour por se sentirem mal e estarem desiludidos com
a política mainstream.
“Infelizmente, os partidos de centro-esquerda
acobardaram-se. Juntaram-se a dizer: Ah, sim, nós temos que ter uma versão mais
amável da austeridade, uma versão mais suave da austeridade. Mas uma das
desilusões da zona euro, e da Europa de forma mais ampla, é que tens estas
eleições, estes partidos de centro-esquerda a serem eleitos e a submeter-se
perante a Alemanha e depois fazem uma retórica que é mais suave, mas o
resultado não é muito mais suave”.
Stigliz citou um estudo que demonstra que nos EUA todos os
ganhos económicos desde os inícios da década de 1980 foram para os 10% mais ricos.
“A parte inferior dos 90% da economia tem visto estagnação há já um terço de
século”.
“É apenas muito difícil de dizer que estes partidos de
centro-esquerda – com ênfase no “centro” – tenham vindo a servir para a maioria
das pessoas. Os seus modelos económicos não têm servido e a sua mensagem não
está a funcionar. Então, para mim não é surpreendente que se veja, digamos, nos
Estados Unidos que, obviamente conheço melhor, os progressistas
[anti-austeridade] estejam a ganhar uma voz muito mais forte no Partido
Democrata”.
Stiglitz argumentou que a crise desencadeada na zona euro,
por aquilo que considera ser uma política errada de bullying sobre a Grécia,
para que esta aceitasse um acordo que apenas oferece “depressão sem fim”, corre
o risco de alimentar o sentimento anti-UE no vindouro referendo britânico sobre
a manutenção na União Europeia.
“O Reino Unido tomou uma boa decisão [que] foi não aderir
ao euro. Pode tê-lo feito pela razão errada, mas ainda assim foi a escolha
acertada”, afirmou numa iniciativa organizada pelos seus editores em Londres.
Para Stiglitz o modelo monetário global da zona euro não
foi um sucesso e não se consegue lembrar de alguma coisa que tenha sido mais
divisionista para a União Europeia do que a forma como foi gerida a crise da
dívida grega.
Segundo o economista, a melhor maneira de salvar o projeto
político europeu é “permitir que o euro se vá… Não só foi evidente a falta de
solidariedade, como não existiu sequer um mal-entendido sobre o que é
solidariedade. Não se pode ter um grupo de países com os mesmos mecanismos
económicos sem algum grau de solidariedade”.
O mais recente acordo sobre a dívida grega e as políticas
de austeridade impostas à Grécia pelos líderes europeus e o FMI estão fadados
ao fracasso, entende.
“Fora da Alemanha a ideia de que a austeridade é
prejudicial está muito disseminada. Acho que é a visão correta. Obviamente, irá
dar origem a um sentimento mais forte, com as pessoas a dizer de que é
necessário lutar contra a austeridade”.