Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

domingo, 30 de agosto de 2015

Um país de cordeiros, que sempre aceitam ser explorados


Domingo, 30 de agosto de 2015
Tribuna da Internet
Luiz Cordioli
Enquanto isto, os contratos destes canalhas continuam andando. O Brasil não pode parar. Penso muito na Camargo Corrêa quando entro na Bandeirantes, estrada construída e paga com meu dinheiro, seu dinheiro, leitor paulista, nosso dinheiro cidadão. Empresa bandida, cobrando pedágio de pessoas comuns, que não têm como impedir. De minha cidade à capital, ida e volta, R$ 80,00 reais, por viagem! E toca o bonde que, em 2016, chegaremos a R$ 100,00…
À noite, então, dá pena ver o espetáculo dantesco: aquela fila imensa de faróis contra e aquela outra fila imensa de lanterninhas vermelhas, a favor… Não é exatamente isto mesmo o que se conseguiu, na vida política deste país?

Os cidadãos restritos à faixa liberada para suas “vontades”, um pagamentinho de cada um, que ninguém é de ferro e por isto mesmo, ninguém reclama eficazmente e na escuridão circundante os fantasmas, comendo por fora, sem que se veja nada.
Este cidadão aqui exige a pista lateral obrigatória, construída pela concessionária, e não pedagiada, como se faz em outros países mais civilizados. Sei não, mas acho que minha exigência não vai prosperar…
PESSOAS SUBMISSAS
As pessoas querem mais é só andar, mesmo que seja só onde lhe deixam, mesmo que seja perdendo um pouco e isto é bem claro quando ouço dizerem: “pelo menos, temos a estrada…”
A tristeza por esta resposta suicida, submissa, bem senzala, é que o malfeito, aceito ou contornado, vira justificativa para o próprio malfeito! Façamos errado, porque mesmo se formos pegos, os contratos continuarão andando e, portanto, malfeitando… Este é o chamado à luta desigual que vemos.
Acabei de ouvir o mesmo raciocínio, quando expus o problema do Artigo 166 da Constituição (artigo fraudado, mas em pleno vigor), a uma eminência jurídica, que me antecipou os rumos da questão: lá no final, Luiz, ainda assim, com tudo provado, os decisores ainda podem adotar a “Teoria do Caos” e deixar tudo como está.
É só alegarem que, se mudar, vai ficar pior do que está e nada se fará. Em outras palavras: mesmo que esteja correto, não vamos fazer. Porque não fazer será melhor para o Brasil… Bem assim, bem claro, bem objetivo, bem direto.
POR CIMA DA RAPADURA
A ideia jurídica colocada me pareceu perfeita, mas só para quem está por cima da rapadura. Imagine um problema criado pelo 0,01% e a resposta dos 99,9% chegando aos Supremos e seus decisores democráticos. O Juiz decisor pega o caso e nesta linha, que eles dizem possível, toma sua decisão. Primeiro, descreve um futuro, agora, como qualquer de nós. Segundo, descreve um futuro ruim provocado exatamente com a mudança pretendida. Terceiro, alega que será pior, amanhã, se a mudança for feita. Quarto, fundamentadamente, pois, ante a “Teoria do Caos” do bom direito, para o bem da população, recusa a mudança e deixa tudo como está, tudo que você mesmo já determinou, hoje… Fundamentar é fundamental!!!
Me recordo de uma piada de 50 anos atrás, quando a personagem estrangeira vivida pela lindíssima atriz Kate Lyra, ao final do quadro, sempre concluía o absurdo colocado em foco, com esta frase antológica: “Brasilerrro é muuuuito bonzinho.”
AUDITORIA DA DÍVIDA
A outra, não é piada, é realidade escrita e documentada: no relatório final da CPI da Dívida, em 2010 (!), expostas as barbaridades encontradas, o relator, Pedro Novais, languidamente, colocou na sua conclusão, a seguinte frase:
“Pela importância que o cumprimento do serviço da dívida tem na restauração e manutenção da credibilidade do País, entendemos que esta rubrica deva ser preservada do processo de formulação de emendas, conforme consta atualmente do texto constitucional”.
E ficou tudo como estava. Nada se auditou. E bola pra frente… Chorando, hoje? Por quê?