Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

A hora do ultimato

Quinta, 25 de fevereiro de 2016
De 
Sítio da tendência petista Articulação de Esquerda

Por Geovanni Medeiros*
Foto: Lula Marques / Agência PT
Foto: Lula Marques / Agência PT

Após o período curto de armistício, os últimos dias estão sendo de intensas batalhas, provocando indignação e “perplexidade” em amplos setores da esquerda brasileira. No ano santo de 2016, deparamo-nos com um fato intragável: o governo Dilma aprofunda a genuflexão à agenda da direita.

Nesta quarta-feira (24), o governo apoiou o projeto de lei de autoria do senador José Serra (PSDB-SP), que retira da Petrobras a exclusividade nas atividades do pré-sal, entregando uma das maiores riquezas do povo brasileiro às multinacionais. No mesmo dia, a Câmara Federal aprovou o projeto de lei enviado pelo governo que tipifica o crime de terrorismo no país, texto que possui termos perigosos para a criminalização dos movimentos sociais. A política externa, que assumiu um caráter de defesa da soberania nacional e fortalecimento da integração latino-americano e caribenha autônoma a partir da vitória do Lula, em 2002, sofre uma inflexão, a exemplo do recebimento, pelo chanceler brasileiro, da delegação da Comissão de Relações Exteriores da Assembléia Nacional da Venezuela, controlada pela oposição de direita e que visa desestabilizar o governo popular de Nicolás Maduro. Ademais, prossegue a política econômica de altos juros e cortes nos investimentos sociais, gerando recessão, desemprego e dilapidando o legado social do governo Lula. Não há meias-palavras: o governo Dilma está sendo coautor de um imenso retrocesso para a classe trabalhadora e as camadas populares.

Curiosa mas não paradoxalmente, a direita avança em sua “fina” operação dedicada ao golpismo contra o mandato presidencial, à interdição do PT e de Lula, à restrição das liberdades democráticas e de ataque aos direitos e conquistas dos trabalhadores brasileiros. A exótica situação nos remete para a lembrança do governo Vargas, que entregou o controle da economia para a direita e seguiu sendo atacado. Deu no que deu. Com o devido cuidado para as imprecisas comparações históricas, a experiência demonstra que a política de recuar, atacar a própria base e aderir à agenda da direita na perspectiva que estes hesitarão no golpismo demonstra-se um grave erro.
 
O que está ocorrendo, contudo, não configura raio em céu azul, pois o governo Dilma responde à mesma fixação estratégica hegemônica no PT desde 1995: aliança com o grande capital, com partidos de centro e de direita e postura passiva frente ao oligopólio da mídia. Merece destaque, entretanto, que, embora não apontem para urgente mudança da estratégia partidária e tampouco façam a necessária crítica ao programa aplicado, as resoluções do PT sugerem outra linha programática, a exemplo da resolução do Diretório Nacional de novembro de 2014 e da mais recente resolução da Comissão Executiva Nacional. Merece destaque, também, a evidente frustração do movimento maior da esquerda brasileira e do PT, as bases sociais militantes, com o programa aplicado, inclusive das bases dos setores historicamente partidários da estratégia aprovada em 1995.

O PT deve dizer publicamente que a presidenta Dilma está seguindo um caminho incorreto, defender uma agenda global e uma política econômica alternativa, bem como convocar um Encontro Nacional Extraordinário para rever a posição do partido frente ao governo. Em tempos de guerra, o recurso do ultimato é utilizado em situações de esgotamento. Parece chegada a hora.

* Geovanni Medeiros é militante do PT