Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Dilma flexibiliza o pré-sal: É um tiro no pé ou uma saída pela direita?

Sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016
Celso Lungaretti
Publico abaixo o artigo Atravessou o samba, do Bernardo Mello Franco, não exatamente por concordar com ele, mas sim para informar bem o meu público, colocando-o a par do que rola nos bastidores da Corte.

Detesto o José Serra por ter, pateticamente, tentado repetir a trajetória do Carlos Lacerda, que começou na esquerda e acabou direitista selvagem; e não compactuo com a infinidade de erros que o governo da Dilma tem cometido, principalmente os que sacrificam terrivelmente o povo indefeso, como o ajuste fiscal e a reforma da Previdência.

Mas, passei a vida inteira sendo contra a xenofobia patrioteira e defendendo ardentemente o internacionalismo revolucionário, então não serão os maus bofes do Serra e da Dilma que me farão mudar de ideia.

Monopólio estatal, no caso de uma empresa que não está nem jamais esteve sob o controle dos trabalhadores, nada tem de revolucionário. É mero capitalismo de estado. 

Como sou inimigo figadal do capitalismo em todas as suas manifestações, não tenho motivo nenhum para prezar e preservar a Petrobrás. Para mim, não passa de uma empresa capitalista como todas as outras.
Então, lanço um olhar pragmático para tal questão: depois de haver quebrado a Petrobrás e a tornado incapaz de bancar investimentos de monta sabe-se lá até quando (pouco tempo não será!), faz sentido que a Dilma flexibilize as regras para a participação estrangeira na exploração do pré-sal. É isto ou nada. Até porque a energia suja tem os dias contados e poderá tornar-se obsoleta antes de a Petrobrás conseguir se reerguer.

A posição assumida pela Dilma parece, contudo, ter colocado o PT em pé de guerra contra ela. Pode não passar de outro tiro pela culatra (especialidade da casa), mas também há chance de ser uma saída pela direita (ou seja, a presidente estaria criando um atrito que justificasse seu desligamento do partido, deixando-a com as mãos livres para formar um ministério de centro-direita e, com isto, talvez conseguir terminar o mandato).

O certo é que a posição da Dilma, como presidente eleita pelo PT e que deveria governar segundo os princípios e valores do partido, torna-se cada dia mais insustentável. Os acontecimentos se precipitam e março tende a ser um mês decisivo na política brasileira.

Por Bernardo Mello Franco
ATRAVESSOU O SAMBA
Até o início da semana, Dilma Rousseff enfrentava a crise econômica, a Lava Jato, a oposição oficial e a ala pró-impeachment do PMDB. Agora ela está prestes a conquistar um quinto inimigo: o Partido dos Trabalhadores.

As relações entre a presidente e a própria legenda nunca foram tão ruins. Dilma já enfrentava forte bombardeio desde que prometeu mexer na Previdência. Nesta quarta, a tensão chegou ao limite. O estopim foi o acordo para aprovar, no Senado, um projeto que permite reduzir a participação da Petrobras no pré-sal.

O governo se dizia radicalmente contra a proposta, apresentada pelo tucano José Serra. Os senadores petistas passaram meses discursando a favor do modelo atual, que reserva uma cota mínima de 30% para a Petrobras em todos os consórcios.

Na noite da votação, o Planalto costurou um acordo que, na prática, permitirá que empresas estrangeiras participem sozinhas dos próximos leilões. A revolta no PT foi generalizada. Nem o novo líder do governo, Humberto Costa, aceitou apoiar o combinado. "Eu não poderia ficar contra o governo e não poderia ficar contra a minha bancada", disse, ao se abster de votar.

A reação do petismo foi feroz. O presidente do partido, Rui Falcão, classificou o texto avalizado por Dilma como um "ataque à soberania nacional". A CUT acusou o Planalto de traição. "O governo renunciou à política de Estado no setor de petróleo e permitiu um dos maiores ataques que a Petrobras já sofreu em sua história", atacou a central.

Ontem um ex-ministro da presidente definia o acordo como suicídio político. "Se a Dilma quer se matar, problema dela. Mas não pode exigir que a gente se mate junto."

O PT comemora o 36º aniversário amanhã, no Rio. Dilma está sendo aconselhada a não dar as caras na festa. O partido contratou o cantor Diogo Nogueira para tentar reanimar a militância, mas o acordo do pré-sal atravessou o samba.