Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

sexta-feira, 11 de março de 2016

Dilma ainda pode prestar um inestimável serviço aos brasileiros

Sexta, 11 de março de 2016
Do Blogue Náufrago da Utopia
Por Celso Lungaretti
Os ratos da política, assim como os de esgoto, sabem muito bem qual é a hora de procurar comida e quando importa mais garantirem sua sobrevivência. 

Assim, após fartarem-se com o queijo que havia a bordo do Titanic, agora se preparam para abandonar o navio que está afundando a olhos vistos.

É o que se depreende da reaproximação das bancadas de PMDB e PSDB no Senado, selada num jantar que reuniu, na última 4ª feira (09/03), nove caciques dos dois partidos, dentre eles Aécio Neves, José Serra, Renan Calheiros e Tasso Jereissati.

Segundo a imprensa ficou sabendo (e era mais do que previsível), a única discrepância se dá quanto à forma como a presidente Dilma Roussef será defenestrada: o PSDB prefere a impugnação da chapa pelo Tribunal Superior Eleitoral, que leva à convocação de nova eleição, e o PMDB lucra mais com o impeachment, para que a presidência da República caia no colo do amigo da onçaMichel Temer.

Parece que ainda não resolveram esta questão, mas teriam se despedido dispostos a trabalhar juntos para desatar o nó. O principal já está decidido: partilharão o queijo... quer dizer, o poder. 

Se Lênin estivesse vivo e Dilma fosse perguntar-lhe o que fazer?, creio que sairia com as mãos abanando. Não há mais nada a fazer, pelo menos para salvar o mandato dela.

Sei lá se o Vladimir Illitch teria a humildade de informá-la disto ou sairia pela tangente, com um calaboca do tipo "vá perguntar pro Eduard Bernstein (*), já que agora você joga no time dele!".

Como sou um homem generoso, vou dar à presidente uma dica de como ela ainda pode poupar-se de ir pela porta do fundo como cão escorraçado e, ao invés disto, sair atirando, não só para deixar uma última marca na trincheira inimiga, mas também, e principalmente, para prestar um serviço inestimável ao povo brasileiro, comparável ao suicídio e carta com que Vargas evitou que seu governo fosse herdado pelos ratos da época: 

Dilma, convoque a imprensa para um pronunciamento decisivo e comunique ao País e ao mundo que você está disposta a abrir mão do seu mandato para o bem da Nação, desde que o Michel Temer faça o mesmo. 

Argumente que a crise política, econômica e moral é tão profunda que os governantes atuais se deslegitimaram e é hora do poder voltar à fonte do qual emana, o povo. Que o Brasil, novamente, precisa ser passado a limpo. Que os brasileiros devem escolher livremente aquele(a) a quem querem delegar a difícil missão de tirá-los do fundo do poço, ao invés de serem obrigados a engolir um político que, por ação ou omissão, é co-responsável por tudo que tem sido feito de errado e desastroso pelo Governo federal desde 2011.

Exorte o Michel Temer a agir com o mesmo desapego pelo poder e a mesma disposição de colocar os interesses do povo sofrido acima dos cálculos mesquinhos da política e até das frustrações pessoais, por piores que elas sejam. 
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Parafraseando uma afirmação que tanto nos empolgou lá no comecinho da nossa trajetória, a esta altura do campeonato você não tem mais nada a perder, Dilma. E um passado glorioso a honrar e preservar.

(*) o primeiro grande revisionista da teoria marxista. Segundo ele, a melhora constante das condições de vida dos trabalhadores sob o capitalismo tornaria a revolução desnecessária.