Quarta, 16 de março de 2016
Da Tribuna da Imprensa
Helio Fernandes
Nas
duas campanhas presidenciais, o brigadeiro Eduardo Gomes gostava de
citar uma frase de Aldous Huxley: "O preço da liberdade é a eterna
vigilância". Como não sabe quem é Huxley e estava nascendo na campanha
presidencial, Lula adaptou a frase, ficou assim: "O preço da liberdade é
a eterna complacência". E está praticando todas com diversos objetivos.
Inicialmente é uma preferência geográfica, gosta mais de Brasília e São
Paulo do que de Curitiba.
Depois
a saudade do poder, está fora dele ha 5 anos. Sempre quis voltar, não
dessa forma, mas o ineditismo o seduz. Ser Ministro depois de presidente
e lançando nova candidatura para 2018, que maravilha viver.
Para
que surja essa eleição de 2018, é indispensável que não haja
impeachment com eleição agora. E com os plenos poderes que receberá com a
nomeação, ele poderá se projetar como o grande aglutinador da batalha
contra a derrubada da presidenta. Como seus poderes serão amplos,
intervirá na certa na recuperação econômica. Já procura alguém para ser
Ministro da Fazenda.
O
problema é encontrar alguém que aceite sabendo que não mandará muito e a
duvida a respeito da duração no cargo. Talvez tenha que transformar Ruy
Falcão em Ministro da Fazenda. Nenhuma pergunta, nenhum problema com a
ausência de conhecimentos, tudo compensado com a total fidelidade.
As
questões individuais não preocupam Dilma e muito menos Lula. Ela sabe,
(sabe?) que a contagem do impeachment está controversa, sem vantagem
para ninguém, mas já disse a Jaques Wagner: "Foi uma grande idéia,
trazer o Lula como o maior participante. Ele é o único que pode mudar o
placar, não vou interferir em nada".
Surgiu
um "probleminha" de ultima hora, onde Lula irá morar. Não pode ir toda
noite para São Bernardo,voltar pela manhã, e assim a semana toda .O
Alvorada é enorme, bem diferente do triplex, "que é menor do que os da
minha casa, minha vida".
Lula
de hoje, bem diferente do Lula do passado e logicamente do Lula do
futuro. Tem total independência para assumir e realizar, e o mais
importante: em plena liberdade. E analisando bem, se resguardando
escondido no Supremo, Lula prestou um grande favor ao juiz Moro. Julgado
lá, com as provas formidáveis que existem, Lula seria condenado. Se
fosse absolvido, as ruas consagradoras de domingo, não entenderiam tudo o
que o juiz Moro já fez pelo Brasil.
Delação, no Supremo
O
Ministro Zavascki prometeu para hoje, quarta, a homologação da delação
do Delcídio. Mas ontem, terça, aceitou essa delação. E liberou todo o
depoimento. Foi muito cumprimentado, e não apenas internamente por
outros Ministros. Motivo: ha visível insatisfação e até constrangimento
com o fato do ex-presidente Lula, "fugir do juiz Moro e se refugiar no
Supremo, acreditando que com a troca, levará vida fácil". (Textual).
Comentários de "corredores”, deixam claro que no Supremo, o processo
andará com mais velocidade.
A
respeito da "delação" do senador, já escrevi que é um dos fatos mais
importantes desta tumultuada e desesperada fase da historia brasileira.
Ele conta fatos envolvendo Lula, Dilma, deputados, senadores,
Ministérios, principalmente de Minas e Energia. Dona Dilma muito citada
junto com a usina de Belo Monte. Não é a primeira vez que isso acontece,
mas agora com outra profundidade. Alem de ter incluído FHC, e Temer na
estranha "operação etanol". E Aécio Neves em Furnas.
Delação em Curitiba
Quando
o casal Santana foi preso, analisei que não sairia mais, o que tinha
para revelar era espantoso. Comentei que deixaria a Odebrecht em
situação mais insustentável do que já estava. João Santana disse no
primeiro depoimento: "Não farei delação, aceitarei um acordo". (Como foi
feito com Duda Mendonça no mensalão.
Foi
absolvido e autorizado a receber 10 milhões de reais em Portugal. Em
troca se comprometia a não exercer mais a atividade de marqueteiro. O
que vem cumprindo, desde 2006).
Agora
está perto de atingir o objetivo. A mulher concordou com a delação,
como é sócia do marido, conhece todos os detalhes e acordos das
"marquetagens". Contará principalmente a razão de a Odebrecht ter
contribuído com mais de 30 milhões, "para financiar o casal em trabalhos
em Angola, Panamá, Republica Dominicana”. A mulher ficará um tempo,
pequeno, em prisão domiciliar. O marido está perto do acordo pretendido.
Falta um detalhe: está muito rico, quer morar no exterior, viajar, não
trabalhar mais.
O desemprego cresce assustadoramente
Foi
publicado ontem, o numero de brasileiros sem trabalho: 2015 acabou com 9
milhões e 100 mil pessoas procurando e não encontrando ocupação. Podiam
ter atualizado esse quadro lancinante, revoltante, deprimente. Agora,
março de 2016, os desempregados já são 11 milhões e 200 mil. E a
tendência é crescer, nenhuma chance de diminuir.
Conhecida a delação de Delcídio, o personagem do dia foi Mercadante
Assim
que foi lida a delação liberada pelo Ministro Zavascki, o nome do
Ministro da Educação, comentadissimo. Trapalhão, intrigante, derrotado,
ninguém desacreditou do depoimento do ex-líder do governo e ex-diretor
da Petrobras. A primeira coisa que se disse, foi esta: "Mercadante
mentiu e se desdisse, afirmando que ele e Delcídio eram grandes amigos".
Pelo contrario. Estavam bem distantes, Mercadante não cultivava
amizades. Eleito senador em 2002, assumiu como Ministro da fazenda
certo. Lula nomeou Palocci, nem falou com Mercadante. Em 2006 candidato
ao governo de São Paulo, derrotadíssimo, o que se repetiria em 2010.
Depois
da primeira derrota, foi líder do governo Lula, dois anos sendo
ignorado, depreciado, isolado. Por pressão da família, pediu demissão
irrevogável. Lula respondeu: "No meu governo quem diz o que é
irrevogável sou eu". Mercadante ficou, derrotado em 2010, sem mandato,
sem amigos, foi surpreendido pelo chamado da então presidentA Dilma, foi
para o Ministério da Educação, Casa Civil, novamente Ministro
da Educação.
Agora,
cheia de problemas e sem opções, tem que resolver sem perder muito
tempo. Demite Mercadante e confirma Delcídio. Mantém Mercadante e será
ridicularizada. A nota oficial sobre o assunto, é tão simplória e
contraditória, que deve ter sido escrita por ela mesma. A situação de
Mercadante no ministério, numa palavra:periclitante. Ou então por outra
também codificada: mercadejante.
PS-
Tumulto, confusão e incógnita nos partidos e nos personagens, todos
desorientados. A oposição quer entrar na justiça tentando impedir a
nomeação de Lula. Sem ser contra, ou a favor, ele é nomeável.
PS2-
Dona Dilma é tão extravagante, que perdeu tempo conversando com 7
membros do PMDB, que são Ministros. Na convenção ficaram totalmente em
silencio. O PMDB tem 67 deputados e 17 senadores. Lula é bem capaz de
"conquistar” um quarto desse numero, 21.
PS3-
O depoimento de Delcídio tem 238 paginas. Por tudo o que consta do
documento, cumprirá 2 anos e meio de prisão domiciliar. E 600 horas de
serviço comunitário. Deste vai gostar, terá que sair de casa e conversar
com muita gente.