Terça, 22 de março de 2016
Felipe Pontes - Repórter da Agência Brasil
A força-tarefa responsável pelas investigações da Operação Lava
Jato apreendeu e-mails relacionados ao esquema de pagamentos de propinas
identificado na Odebrecht datados de novembro de 2015, quando o
presidente-executivo da empresa, Marcelo Odebrecht, já estava preso
preventivamente em Curitiba.
De acordo com a Polícia Federal (PF)
e o Ministério Público Federal (MPF), a empresa mantinha uma
“contabilidade paralela complexa” para o pagamento de propinas dentro do
Brasil, num departamento chamado de “Setor de Operações Estruturadas”. O
repasse do dinheiro era feito com frequência em hotéis e flats alugados
unicamente para este fim, de acordo com a investigação.
Segundo a
procuradora da República Luana Gonçalves, a interceptação de e-mails
comprovando a continuidade do esquema, mesmo com o presidente da
Odebrecht preso, foi vista com surpresa. “Para a gente chega a ser de
certa foram assustador”, disse a procuradora. “Ainda se teve a ousadia
de continuar a operar o pagamento de propina com o conhecimento do Poder
Público.”
Os detalhes foram revelados hoje (22) em entrevista coletiva após a deflagração da 26ª fase da operação, chamada de Xepa.
Em
planilhas apreendidas ainda na 23ª fase da Lava Jata, chamada Acarajé,
foram identificados pagamentos em espécie a centenas de recebedores,
feitos entre janeiro de 2014 e meados de 2015. O dinheiro seria
fornecido por meio de até oito contas mantidas por doleiros em favor da
Odebrecht. Em apenas uma das contas, foram identificados recursos de R$
66 milhões disponíveis para o pagamento de propinas.
“Nós
identificamos também a existência de um sistema informatizado para o
controle desses pagamentos paralelos dentro da Odebrecht”, informou a
força-tarefa da Lava Jato. Tal sistema incluiria até mesmo um
instrumento de troca de mensagens entre os profissionais alocados
naquele setor da empresa, e foi destruído a partir do momento em que a
companhia passou a ser investigada.
Nas tabelas, constavam
valores, endereços e codinomes de recebedores de propina e dos
executivos de alto escalão da Odebrecht que autorizavam os pagamentos,
entre eles a sigla MBO, que, segundo a força-tarefa responsável pela
investigação, corresponde a Marcelo Bahia Odebrecht,
presidente-executivo da companhia.
De acordo com a procuradora
Luana Gonçalves, a sigla MBO surge em diversas planilhas. “A nosso ver
não há qualquer dúvida da participação pessoal de Marcelo Bahia
Odebrecht, não só no sentido de ter conhecimento, mas também de
pessoalmente agir para pedir o pagamento a terceiros.”
Outro
codinome identificado foi o de “Feira”, que aparece como destinatário de
diversos pagamentos constantes das tabelas apreendidas e que, de acordo
com os investigadores, corresponde ao casal de publicitários João
Santana e Mônica Moura. O dois encontram-se detidos em Curitiba.
Grandes obras
Os
pagamentos, de acordo com a avaliação dos procuradores do MPF, foram
aprovados por diretores responsáveis pela supervisão de obras ligadas ao
governo federal e a diversos governos estaduais e municipais. Foram
citadas como exemplo as construções da Arena Corinthians, em São Paulo,
palco da abertura da Copa do Mundo de 2014, de metrôs no Rio de Janeiro e
no Rio Grande do Sul, do aeroporto de Goiânia e do Canal do Sertão, no
Nordeste.
O procurador da República Carlos Fernandes Lima afirmou
que a Lava Jato investigará as provas relacionadas à Petrobras,
remetendo os indícios relacionados a obras em outros estados aos
ministérios públicos locais. “Seja qual for o partido, seja qual for o
governo, a operação de hoje é a prova exatamente disso, que estamos
combatendo a corrupção independentemente de partido, independentemente
de governo”, afirmou Lima.
Chamada de Operação Xepa, a 26ª fase
da Lava Jato foi deflagrada hoje e envolveu cerca de 380 policiais
federais, no cumprimento de 110 ordens judiciais nos estados de São
Paulo, Rio de janeiro, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Bahia, Piauí,
Distrito Federal, Minas Gerais e Pernambuco. Foram cumpridos 67 mandados
de busca e apreensão, 28 mandados de condução coercitiva, 11 mandados
de prisão temporária e 4 mandados de prisão preventiva.
Em nota, o grupo empresarial Odebrecht garantiu que está ajudando
nas investigações: "A empresa tem prestado todo o auxílio nas
investigações em curso, colaborando com os esclarecimentos necessários.”