Terça, 8 de março de
2016
Por Adriano Benayon
Doutor em Economia, pela Universidade de Hamburgo, Alemanha; autor de Globalização versus Desenvolvimento.
Doutor em Economia, pela Universidade de Hamburgo, Alemanha; autor de Globalização versus Desenvolvimento.
Tenho assinalado que os processos de
desnacionalização da economia, de desindustrialização e de desestruturação do
Brasil foram desencadeados desde o golpe de Estado de agosto de 1954.
2. A corrupção na política e em
instituições públicas e privadas, que viabilizou esse golpe, tornou-se uma
constante ao longo de nossa história, desde então, ficando o País destituído de
verdadeira autonomia.
3. Refiro-me à corrupção proveniente
de fontes estrangeiras, no interesse do sistema financeiro e dos carteis
transnacionais, mais que à gerada internamente, da qual se faz grande alarde,
como instrumento de mais intervenções contrárias aos interesses nacionais.
4. Em todas as intervenções políticas
sofridas pelo País, desde 1954, tem estado subjacente, a ameaça de intervenção
armada estrangeira, muitas vezes velada, salvo no próprio golpe de 1954 e no de
março de 1964.
5. Ela faz parte do leque de
instrumentos intervencionistas, em que tem sobressaído, cada vez mais, a
corrupção sistêmica, por parte de fontes estrangeiras, valendo-se, pois, da
Quinta Coluna, ampliada e desenvolvida dentro do País ao longo dos últimos 62
anos.
6. A desnacionalização da economia, a
desindustrialização e a desestruturação - resultantes do modelo econômico
implantado - produziram, entre outros efeitos perversos, minar as
finanças do País, formando dívidas públicas imensas.
7. A seguir, transformaram essas
dívidas em fonte adicional de empobrecimento, mediante a decretação de juros,
correção monetária e outras taxas exorbitantes, cuja capitalização as fez
crescer exponencialmente.
8. De fato, a dívida pública
interna teve seu saldo multiplicado mais de 25 vezes, somente após a edição do
Plano Real (1994), cujos mentores fraudulentamente o proclamaram como
estabilizador da economia e da moeda, e eliminador da correção monetária.
9. A dimensão dessa mentira criminosa
pode ser avaliada, compulsando a taxa SELIC acumulada no ano seguinte ao Plano
Real (1995): 53% aa. Em 1994, já ultrapassara 12%.
10. Isso ilustra a cumulatividade do
processo do processo de subdesenvolvimento, já que o enfraquecimento financeiro
decorrente do serviço da dívida pública se soma ao proveniente das demais
mazelas geradas pelo modelo econômico: déficits externos colossais advindos da
desnacionalização da economia, superfaturamento escandaloso dos bens vendidos
no Brasil pelas empresas e carteis transnacionais, inclusive os das ex-estatais
privatizadas, infraestrutura inadequada e geradora de custos altos.
11. Tem feito parte dessa cascata de
consequências deletérias do modelo implantado desde 1954, debilitar as Forças
Armadas, abaixar a qualidade cultural, o grau de identificação das pessoas com
a Nação, o nível da educação em todos os graus, e causar o êxodo, por falta de
oportunidades de trabalho, de residentes qualificados.
12. Tudo isso concorre para explicar
por que, em todos os governos, tenham, no cômputo geral, prevalecido os
interesses dos que saqueiam a economia do Brasil sobre os dos residentes.
13. Explica também por que as
potências imperiais, que lideram esse saqueio, não precisaram recorrer a
ameaças de intervenção armada explícita nas diversas sucessões presidenciais
ocorridas desde 1967.
14. Há que ter presente que essas
potências não costumam abster-se de tal tipo de intervenção, quando o julgam
necessário, mesmo fora do Continente Americano, incluídas as ilhas e o Mar do
Caribe, considerado um lago norte-americano, do ponto de vista real.
15. Atualmente, desde a participação
da aviação e de mísseis da Rússia para deter a devastação da Síria (repetindo
as do Iraque e Líbia, para citar só as mais recentes), o quadro do poder
mundial pode estar tendo modificação após a situação de 1990 em diante, quando
o império anglo-americano se viu de mãos livres para invadir direta ou
indiretamente qualquer nação cuja liderança estivesse deixando de cumprir
integralmente os ditames imperiais.
16. Notável é que, não só na grande
mídia brasileira - que pratica, sem cerimônia, toda desinformação possível a
serviço do império, inclusive distorções semânticas das palavras – também o
grosso da mídia dos países ocidentais e Japão, entre outros, apoia
sistematicamente a deformação das consciências, ocultando-lhes a realidade dos
fatos e inculcando-lhes preconceitos e ideologias facilitadores da aceitação do
governo mundial.
17. Exemplo impressionante disso é a
cobertura da intervenção militar por meio de mercenários e terroristas,
patrocinada pelos EUA e seus satélites da OTAN e regionais, por parte do jornal
francês Le Monde.
18. Esse diário - que foi um dos mais
acatados, mercê da qualidade e independência dos jornalistas, proprietários
dele – foi recebendo participações de capital de grupos financeiros, até estes
passarem a ditar a linha editorial.
19. Assim, o Le Monde refere-se
como “guerra civil”, à brutal intervenção armada estrangeira
na Síria - comandada pelo governo dos EUA, que resolveu proclamar que o
presidente da Síria, Assad, tem de sair, e pronto. E só fala dos
mercenários, terroristas e degoladores do ISIS (Estado Islâmico), como os “rebeldes”,
como se fosse cidadãos locais em conflito com o respectivo governo.
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DÍVIDA PÚBLICA EXTERNA E INTERNA
Por Adriano Benayon
Doutor em Economia, pela Universidade de Hamburgo, Alemanha; autor de Globalização versus Desenvolvimento.
Doutor em Economia, pela Universidade de Hamburgo, Alemanha; autor de Globalização versus Desenvolvimento.
I – O que é a dívida?
O povo brasileiro sofre demais, em
função da dívida pública, cujo estoque passou de 4 trilhões de reais (em
dezembro de 2015, R$ 3,94 trilhões) e envolve despesa no orçamento federal,
próxima a 1 trilhão de reais = 42% do total do orçamento.
2. Essa despesa equivale a 1/5 (um
quinto ou 25%) do PIB, muito superior ao total dos investimentos públicos
e privados realizados no País (14% do PIB). Se fosse eliminada, o Brasil
poderia investir na economia e na infraestrutura econômica e social,
percentual de 34%
do PIB. Certamente, mais que
isso, pois, antes não investia tão pouco como atualmente.
3. Essa dívida formou-se basicamente
pela capitalização dos juros absurdamente altos que o cartel dos bancos exige
do Banco Central para adquirir títulos do Tesouro: taxa SELIC mais margem, em
torno de 3% aa., o que eleva a atual taxa efetiva para mais de 17% aa.
4. Assim, a dívida interna
cresceu 30 vezes, de 1994 para cá. 1994 foi o ano do Plano Real, um
conjunto de fraudes, entre as quais a de o “governo” de então proclamar
que a moeda estava estabilizada e que dever-se-ia acabar com a correção monetária.
5. Em seguida, em 1995, as
taxas SELIC, decretadas pelo Banco Central desse “governo” acumularam
53%. A dívida interna de R$ 136 bilhões em dezembro de 1994, chegou agora
a R$ 4 trilhões.
6. A dívida externa voltou a subir e
retornou a patamar muito alto (US$ 545,4 bilhõesem dezembro de 2015),
devido aos enormes déficits de transações correntes com o exterior, que
acumularam US$ 337,9, de dezembro de 2010 ao final de 2015.
7. Além disso, o saldo dos
investimentos diretos estrangeiros, US$ 1 trilhão, mais os investimentos
estrangeiros em carteira, cerca de US$ 700 bilhões, elevam o passivo
externo bruto a mais de US$ 2,2 trilhões (equivalente a R$ 8 trilhões, o dobro
da dívida interna.)
8. A esse passivo externo ainda
haveria que adicionar boa parte da dívida interna, detida por estrangeiros e
brasileiros residentes no exterior. Diante disso, as reservas brasileiras (US$
356,35 bilhões) e os investimentos brasileiros no exterior, cerca de US$ 400
bilhões (difíceis de retornar, em situações de crise) não significam
situação confortável.
II – De onde vem a dívida pública
brasileira?
9. Se não identificarmos as causas
das dívidas que nos estão sugando, de nada adiantaria acabar com elas, mesmo um
milagre as extinguisse. Por que? Porque não se removendo as causas, se
estaria formando, em pouco tempo, nova dívida tendente a crescer
exponencialmente, como aconteceu com a atual.
10. A dívida externa foi a primeira a
surgir e a gerar crises tremendas no País, agravadas por arrochos violentos sob
a direção do FMI.
11. Houve muitas dessas crises, desde
o ponto de viragem para o subdesenvolvimento, decorrente da deposição do
presidente Vargas, em 1954. A primeira, ao final do mandato de J.
Kubitschek, 1960/61.
12. Essa, como as seguintes
recorrentes, resultou da desnacionalização da economia, com a entrega aos
carteis transnacionais dos mercados industriais do País, desde janeiro de 1955.
Então, foram baixadas as Instruções da SUMOC, que propiciaram subsídios inacreditáveis,
para esses carteis, donos de grandes empresas em grande número de países se
apoderarem de nosso mercado industrial.
13. Esse crime contra o Brasil foi
cometido pelo governo egresso do golpe de 1954, por militares pró-EUA e
políticos da UDN. São raríssimos os economistas que atribuem
importância, a tais modificações na política industrial e de capitais
estrangeiros, aplicadas com entusiasmo e ampliadas, por JK, enganosamente tido
por desenvolvimentista.
14. Ele adotou o falso conceito da
CEPAL (Comissão para a América Latina das Nações Unidas), segundo o qual o
importante era industrializar-se, sem se importar com quem controla o capital
e a tecnologia das indústrias.
15. Resultado: sob JK e sob os
governos militares, o País teve altas taxas de crescimento do PIB, por algum
tempo, mas crescia errado. Por isso, o Brasil pagou caro demais: décadas
perdidas, desde a dos anos 80. A dívida externa subiu de menos de US$ 1 bilhão
em 1954, para US$ 90 bilhões em 1982.
16. Os falsos desenvolvimentistas
jactaram-se da industrialização, mas mentiam, ou ignoravam que o Brasil se
industrializava na primeira metade do Século XX, sem aporte significativo de
investimentos diretos estrangeiros.
17. O modelo de “desenvolvimento
dependente” é uma contradição em termos, uma impossibilidade. Promovendo e
subsidiando os “investimentos” estrangeiros, causou fabulosos déficits
externos, cujo financiamento, juntamente com os empréstimos públicos para
apoiar esses “investimentos”, fez a dívida externa crescer exponencialmente.
18. A contradição foi defendida por
FHC, no péssimo livro Dependência e Desenvolvimento na América Latina
(coautoria com Enzo Faletto).
19. Por essas e outras provas de ser
inimigo dos interesses nacionais, FHC foi conduzido pelo império anglo-americano
à presidência da República, a fim de aprofundar o desastre da economia
brasileira, com as privatizações, dando continuidade ao pacotão de leis
antinacionais que Collor fez o Congresso aprovar em menos de dois meses.
20. Diziam promover a industrialização
e garantiram que o País se desindustrializasse, consequência natural da
desnacionalização da economia, em razão de: a) empobrecimento do Brasil com os
arrochos acarretados pelas crises de dívida externa; b) praticarem
os carteis transnacionais preços absurdos (múltiplos de mais de 3
do real custo de produção) e transferirem os lucros para as matrizes,
através de vários mecanismos; c) concentrarem nas matrizes a produção dos
componentes de maior valor agregado e conteúdo tecnológico.
21. O resultado é a industrialização,
não apenas por ter o produto industrial caído a menos de 10% do PIB, mas por
ser constituído, cada vez mais, por bens intensivos de recursos naturais
e decrescente conteúdo tecnológico.
22. São tendências terríveis e que se
manifestam também em termos do emprego, que decai tanto quantitativamente como
do ponto de vista da qualificação.
* - Adriano Benayon é doutor em Economia, pela
Universidade de Hamburgo, Alemanha; autor de Globalização versus
Desenvolvimento.