Quinta, 17 de março de 2016
Da Tribuna da Internet
Moacir Pimentel
Às vezes milagres acontecem… Um exemplo? O jornalista Ricardo
Kotscho. É um homem de esquerda do qual sou leitor desde 1983.Tendo
passado pelo Estadão , Folha , IstoÉ, Época e várias TVs, ele foi o
cronista das Diretas Já, autor de vários livros e ganhador por quatro
vezes do Prêmio Esso de Jornalismo. Como é sabido, Kotscho é amigo de
Lula, tendo sido de 2003 a 2004, durante o primeiro governo petista,
secretário de Imprensa e Divulgação da Presidência da República.
Ricardo é um repórter correto, da velha guarda, um humanista e um
cristão sem qualquer amor ao poder. Seu texto é idealista, porém jamais
desonesto ou bajulador. O habitual e absoluto entusiasmo dele com
relação ao novo ministro investigado jamais me afastou da sua coluna por
um simples motivo: Kotscho é bem informado e escreve como poucos.
Nestas últimas semanas – de um jeito doído – ele está reencontrando o
equilíbrio e o senso comum e se distanciado das brumas Brasil Maradilma.
Ainda bem.
Veja a sua coluna de hoje.
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PARA SALVAR LULA, DILMA PÕE EM RISCO AS INSTITUIÇÕES
Ricardo Kotscho
Nove horas da manhã de quinta-feira, dia 17 de março. A uma hora da
posse de Lula na Casa Civil, ainda não oficialmente confirmada, o País
está em pé de guerra. A avenida Paulista já foi mais uma vez fechada por
manifestantes, que começam a se aglomerar também em frente ao Palácio
do Planalto, onde o policiamento foi reforçado para evitar confrontos,
como ocorreu na véspera, com o reforço do Batalhão da Guarda
Presidencial.
Com a nomeação de Lula para salvar o ex-presidente da Lava Jato e
evitar o impeachment, Dilma conseguiu provocar o efeito contrário e
jogar quase todo mundo contra ela. Agora, ao insistir na política do
vale tudo, ameaça colocar em risco em risco as próprias instituições
democráticas. A crise política está chegando a um ponto terminal e
absolutamente fora de controle.
O vazamento dos grampos nos celulares de Lula acabou sendo a gota
d´água que faltava para encurralar um governo agonizante. Na gravação,
Dilma diz a Lula, pouco depois de ser anunciada a sua nomeação:
“Seguinte, eu tô mandando o Messias junto com o papel pra gente ter
ele, e só usa em caso de necessidade, que é o termo de posse”.
A revelação desta espécie de salvo-conduto foi o estopim para
deflagar uma rebelião na Câmara, com os deputados pedindo aos gritos a
renúncia da presidente, e para levar novamente milhares de pessoas às
ruas, com protestos em Brasília e nas principais capitais brasileiras.
Nas gravações divulgadas pelo juiz Sergio Moro no final da tarde,
aparecem ataques grosseiros de Lula ao Congresso Nacional, aos tribunais
superiores, à PF e à Receita Federal, em conversas com ministros,
parlamentares e dirigentes do PT.
A anunciada saída do PMDB da base governista pode ser seguida agora
por outros partidos no mesmo dia em que a Câmara se prepara para
instalar a comissão especial do impeachment.
Com Lula no governo, Dilma pretendia recuperar o apoio do PMDB,
acalmar os mercados e ressuscitar a economia. Aconteceu tudo ao
contrário. E, para piorar a situação, o vazamento das gravações expôs
diretamente a presidente Dilma nas tentativas de obstrução da Justiça.
Enquanto especialistas discutem a legalidade da decisão de Moro, o
governo anuncia que pretende processar o juiz e a oposição tenta impedir
a posse de Lula na Casa Civil, o fato é que mais uma vez o Supremo
Tribunal Federal será convocado para decidir os destinos do País.
Agora não se discutem mais meios para garantir a governabilidade, que
já havia entrado em colapso nas últimas semanas, mas a sobrevivência do
próprio governo petista e o que poderá vir depois dele.
Para a maioria das pessoas com quem converso, é melhor um final
horroroso do que um horror sem fim, como já se resignou outro dia um
assessor próximo da presidente Dilma. De fato, estamos vivendo dias de
horror, de revolta e de vergonha. Já faltam palavras a velhos
comentaristas como este que vos escreve para contar o que está
acontecendo. Ninguém aguenta mais.