Quinta, 28 de abril de 2016
Kelly Oliveira - Repórter da Agência Brasil
A
taxa de juros do cheque especial chegou ao recorde de 300,8% ao ano, em
março, de acordo com dados do Banco Central (BC), divulgados hoje (28).
A série histórica do BC tem início em julho de 1994. De fevereiro para
março, a taxa subiu 6,9 pontos percentuais.
Também é recorde a
taxa média do rotativo do cartão de crédito (449,1% ao ano), em março,
com alta de 5,2 pontos percentuais em relação a fevereiro. O rotativo é o
crédito tomado pelo consumidor quando paga menos que o valor integral
da fatura do cartão. A série histórica do rotativo do cartão de crédito
tem início em março de 2011.
O chefe do Departamento Econômico do
BC, Tulio Maciel, enfatizou que o cheque especial e o rotativo do
cartão de crédito são modalidades de empréstimos que devem ser usadas
com “muita cautela” devido ao custo elevado. Maciel orienta que, se for
preciso usar, deve ser por pouco tempo para não comprometer a capacidade
de pagamento no futuro.
Parcelamento
A
taxa de juros das compras parceladas no cartão de crédito ficou em
145,5% ao ano, em março, com redução de 0,6 ponto percentual em relação a
fevereiro. A taxa do crédito consignado (com desconto em folha de
pagamento) atingiu 29,9% ao ano, com aumento de 0,4 ponto percentual na
comparação com fevereiro.
A taxa do crédito pessoal chegou a 126,1% ao ano, com alta de 3,3 ponto percentual em relação ao mês anterior.
A
média de juros do crédito para as pessoas físicas ficou em 69,2%, em
março, com alta de 1,3 ponto percentual em relação a fevereiro. Já a
taxa média cobrada das empresas caiu 0,9 ponto percentual para 31% ao
ano.
Em março, a inadimplência (considerados atrasos acima de 90
dias) ficou estável em 6,2% para as famílias e subiu 0,1 ponto
percentual para 4,9%, no caso de empresas. Esses dados são do crédito
livre, em que os bancos têm autonomia para aplicar o dinheiro captado no
mercado e definir as taxas de juros.
Segundo Maciel, a
inadimplência das famílias está “bem comportada” e a das empresas segue
em crescimento lento e persistente. Maciel acrescentou que a
inadimplência deve crescer, em ritmo lento, nos próximos meses.
No
caso do crédito direcionado (empréstimos com regras definidas pelo
governo, destinados basicamente aos setores habitacional, rural e de
infraestrutura), a taxa de juros cobrada de empresas subiu 0,1 ponto
percentual para 11,9% ao ano e das famílias aumentou 0,5 ponto
percentual para 10,1% ao ano. A inadimplência das empresas ficou estável
em 1% e das famílias caiu 0,1 ponto percentual para 2,1%.
Crédito
Maciel
destacou que a desaceleração do saldo de crédito reflete a retração da
atividade econômica, queda da confiança de empresas e famílias e custo
dos empréstimos mais elevado. Acrescentou que, no início do ano, é comum
haver redução nos empréstimos e citou, também, a influência do câmbio
em operações referenciadas em dólar.
Ele explicou que o crédito
não deve crescer mais de “forma muito significativa” como ocorreu ao
longo de mais de 10 anos e citou o crescimento de 30% registrado em
2008. Para este ano, a previsão do BC é de expansão de 5%. “À medida que
se retoma a confiança dos agentes, também iremos observar a reação do
crédito. Mas não veremos crescimento do crédito a taxas vistas em anos
anteriores”, disse o chefe do Departamento Econômico do Banco Central.
No
total, o saldo das operações de crédito chegou a R$ 3,160 trilhões em
março, com redução de 0,7% no mês e de 1,8% no ano. Em relação a tudo o
que o país produz – Produto Interno Bruto (PIB) - o saldo do crédito
ficou em 53,1%, queda de 0,5 ponto percentual no mês.