Terça, 12 de abril de 2016
Felipe Pontes e Andreia Verdélio – Repórteres da Agência Brasil
À frente da força tarefa que conduz a Lava Jato em Curitiba, o
procurador da República Carlos Fernando dos Santos Lima disse durante
entrevista coletiva para explicar a 28º fase da operação que, a essa
altura das investigações, a conclusão que se pode tomar é que o sistema
partidário brasileiro encontra-se “apodrecido”.
Para Lima, os indícios de recebimento de propina pelo ex-senador do PTB Gim Argello, preso hoje (12) pela Polícia Federal,
em troca de sua atuação política em comissões parlamentares de
inquérito que investigaram a Petrobras indicam que a corrupção
encontra-se intrínseca ao próprio exercício do poder.
“O
exercício do poder, seja por qual partido for, é que tem gerado
corrupção e essa corrupção tem como finalidade suprir o caixa de
campanhas políticas. Esses valores, boa parte foram encaminhados para
partidos da base de Gim Argello, inclusive partidos de oposição”, disse o
procurador. “A conclusão a que chegamos e a conclusão a que todos
deveriam chegar é que o sistema partidário do país está apodrecido pelo
uso do poder econômico.”
A partir das delações premiadas do dono
da empreiteira UTC Engenharia, Ricardo Pessoa, e de mensagens no celular
apreendido do ex-presidente da empreiteira OAS José Adelmário Pinheiro
Filho, conhecido como Léo Pinheiro, os investigadores da Lava Jato
apontaram indícios de que Argello teria recebido R$ 5 milhões para
interceder pela não convocação dos executivos tanto na CPI do Senado
como na CPI mista que investigou irregularidades na Petrobras, ambas em
2014.
O ex-senador do PTB teria negociado com os executivos o
pagamento de propina como doação eleitoral para os diretórios nacionais
dos partidos DEM, PR, PMN e PRTB, que faziam parte de uma coligação
eleitoral junto com o PTB. Foram pagos também R$ 350 mil a uma paróquia
frequentada por Argello em Taguatinga, que os investigadores suspeitam
ter sido usada para lavar o dinheiro.
Os procuradores afirmaram
ainda que não indícios de que os partidos ou a paróquia tinham
conhecimento sobre a origem ilícita do dinheiro, mas que as
investigações nesse sentido continuam. Os investigadores acrescentaram
que também não há, nas provas em poder da força tarefa da Lava Jato em
Curitiba, indícios do envolvimento de pessoas atualmente com foro
privilegiado.
“Nos documentos e provas que nós temos em nosso
poder, não tem nenhuma menção a alguém com foro privilegiado. Se houve
alguma menção nesse sentido no depoimento de [senador] Delcídio [do
Amaral] nós não temos conhecimento.”
Mandados
A
Polícia Federal corrigiu de 21 para 23 o número de ordens judiciais
cumpridas na manhã desta terça-feira no âmbito da Operação Vitória de
Pirros. Além da prisão preventiva do ex-senador Gim Argello, foram
presos temporariamente Paulo Roxo, assessor de Argello, e Valério Neves
Campos, secretário-geral da Câmara Legislativa do Distrito Federal. Os
detidos serão encaminhados à Superintendência da Polícia Federal em
Curitiba.
Segundo as investigações, eles eram operadores do
esquema e participavam de reuniões com os executivos das empreiteiras
para informar sobre os desdobramentos das negociações nas CPIs.
Os
mandados de condução coercitiva – quando o investigado é levado para
depor e liberado em seguida – foram para o filho do ex-senador, Jorge
Argello Júnior, que participou de reuniões com Ricardo Pessoa; Roberto
Zardi Ferreira Jorge, diretor de Relações Institucionais da OAS; Gustavo
Nunes da Silva Rocha, executivo do grupo OAS e presidente da Invepar;
Dilson de Cerqueira Paiva Filho, diretor administrativo da OAS; e Marcos
Paulo Ramalho, secretário-executivo da OAS.
Foram cumpridos ainda 15 mandados de busca e apreensão, incluindo em endereços da UTC e da OAS em São Paulo e no Rio de Janeiro.
O advogado do ex-senador Gim Argello foi procurado pela Agência Brasil,
mas não retornou as ligações até o momento. Contatadas, a paróquia São
Pedro, em Taguatinga, e a Arquidiocese de Brasília não quiseram se
manifestar sobre o assunto.