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(Millôr Fernandes)

sábado, 7 de maio de 2016

Fonte do Panama Papers denuncia "corrupção massiva e generalizada"

Sábado, 7 de maio de 2016
Em comunicado, 'John Doe' destaca que serão necessárias décadas para serem revelados todos os “atos sórdidos” da sociedade de advocacia que “usou a sua influência para escrever e distorcer leis em todo o mundo por forma a favorecer os interesses de criminosos”.
6 de Maio, 2016
Num comunicado de 1800 palavras intitulado “As Revoluções serão digitalizadas”, publicado pelo jornal alemão Süddeutsche Zeitung e pelo Consórcio Internacional de Jornalismo de Investigação, a fonte do “Panama Papers” destaca que “a desigualdade de rendimentos é uma das questões definidoras do nosso tempo”, sendo que a sua “aceleração súbita” decorre da "corrupção massiva e generalizada".

“Mais do que apenas uma engrenagem na máquina de 'gestão de riqueza', a Mossack Fonseca usou a sua influência para escrever e distorcer leis em todo o mundo por forma a favorecer os interesses de criminosos durante décadas”, lê-se no texto assinado com o nome de código 'John Doe' (Zé Ninguém).

“As empresas fictícias estão frequentemente associadas a crimes de evasão fiscal, mas o Panama Papers revelou, sem sombra de dúvida, que, ainda que não sejam ilegais, estas são usadas para a prática de uma panóplia de crimes graves que vão muito além da fuga fiscal”
“As empresas fictícias estão frequentemente associadas a crimes de evasão fiscal, mas o Panama Papers revelou, sem sombra de dúvida, que, ainda que não sejam ilegais, estas são usadas para a prática de uma panóplia de crimes graves que vão muito além da fuga fiscal”, acrescenta a fonte.

Sublinhando que não trabalha “para nenhum governo nem para nenhuma agência secreta, nem diretamente nem indiretamente”, o informador esclarece que decidiu denunciar a Mossack Fonseca porque considera “que os seus fundadores, empregados e clientes devem ter de responder pelo seu papel nestes crimes".

“Vai levar anos, possivelmente décadas, para que toda a extensão dos atos sórdidos da empresa seja revelada. Enquanto isso, um novo debate global já começou, o que é encorajador”, avança.

“O discurso mediático focou-se até aqui naquilo que é legal e permitido pelo sistema. O que é permitido é, de facto, escandaloso e tem de ser mudado”, defende a fonte, adiantando, contudo, que a sociedade de advogados, os seus fundadores e funcionários violaram repetidamente inúmeras leis à escala mundial.

No comunicado, o informador afirma-se disponível para cooperar com a justiça mas, para tal, pede mais proteção para os informadores, lembrando a perseguição de que são alvo Edward Snowden, Bradley Birkenfeld e Antoine Deltour.
“O discurso mediático focou-se até aqui naquilo que é legal e permitido pelo sistema. O que é permitido é, de facto, escandaloso e tem de ser mudado”
"Chegou o tempo de agir", destaca, exortando a Comissão Europeia, o Parlamento britânico e o Congresso dos Estados Unidos e aos diversos países a agirem rapidamente não só para protegerem as fontes, mas para que sejam adoptadas medidas para pôr fim aos "abusos mundiais dos registros de comércio".

O denunciante lamenta que, durante cinquenta anos, os poderes executivo, legislativo e judiciário em todo o mundo tenham falhado completamente no que respeita a enfrentar os paraísos fiscais.

No que respeita aos bancos, entidades reguladoras e autoridades fiscais, a fonte do “Panama Papers” deixa a crítica: "As decisões escolheram como alvos os cidadãos com baixos e médios rendimentos, poupando os mais ricos”.

Assegurando ainda que disponibilizou os documentos a “vários grupos de media”, que optaram por não os publicar, o informador lamenta: “Os media falharam”.

A fonte dos “Panama Papers” tece também críticas às sociedades de advogados, salientando que “os advogados tornaram-se tão profundamente corruptos que é imperativo introduzir grandes mudanças na profissão”.

O informador fala numa “erosão completa de padrões éticos”, que levou a “um novo sistema que ainda chamamos capitalismo, mas que equivale a escravidão econômica”.

“Neste sistema - o nosso sistema - os escravos não têm conhecimento tanto do seu estatuto como dos seus amos, que existem num mundo à parte, onde as algemas intangíveis são cuidadosamente escondidas entre resmas de 'juridiquês' inacessível”, escreve.

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