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(Millôr Fernandes)

quarta-feira, 18 de maio de 2016

Ministro (da Saúde) de Temer diz que o país não pode garantir direitos constitucionais

Quarta, 18 de maio de 2016
Da Tribuna da Internet

Barros é mais um ministro de Temer a fazer declarações absurdas

Pedro do Coutto 
Parece incrível, mas foi o que afirmou o deputado Ricardo Barros, ministro da Saúde do governo Michel Temer, em entrevista à repórter Cláudia Collucci, Folha de São Paulo de terça-feira, manchete principal da edição. Claro. O destaque é compatível com o impacto negativo que as afirmações despertam.

“O Brasil – sustentou – não vai mais conseguir sustentar todos os direitos determinados pela Constituição, como o acesso universal ao sistema de saúde. Precisará rever o modelo no futuro”. Ricardo Barros, reeleito diversas vezes, encontra-se no quinto mandato. É engenheiro civil. Falou na necessidade da adoção de um novo modelo para a saúde pública. Qual poderá ser? – cabe a pergunta.

Sim, porque se ele diz que as obrigações deverão ser repactuadas, pelo fato de o Estado não ter mais capacidade de sustentá-las, que dirá a população, cuja mão de obra ativa, na escala de 50%, segundo o IBGE ganha de um a três salários mínimos e enfrenta um desemprego na escala de 11%?


BRIGA INÚTIL?

Para Ricardo Barros, cuja entrevista provavelmente desagradou fortemente ao presidente Michel Temer, “não adianta lutar por direitos que não poderão ser entregues pelo governo”.

Segundo ressaltou,” não há capacidade financeira suficiente que permita suprir todas as garantias constitucionais”. Na sequência, entretanto, frisou a necessidade de ser alcançado um ponto de equilíbrio entre o que o Estado tem condições de suprir e o que a população tem direito de receber.

Direito de receber? A sociedade brasileira paga impostos para isso. A colocação do ministro Ricardo Barros é simplesmente primária. Vamos colocar um outro enfoque: e se o cidadão, desempregado, não tiver dinheiro para pagar o aluguel? Que fazer? Como proceder?

Direitos constitucionais têm que ser respeitados. Entre eles o da propriedade privada. Além do mais, as pessoas somente recorrem ao SUS quando se encontram doentes, elas mesmas, ou quando buscam atendimento para suas famílias, seus filhos e filhas. Ninguém vai procurar um posto de saúde por prazer. Vai porque se encontra sob riscos e dores de vários tipos.

ENORMES FALHAS

O sistema apresenta enormes falhas, pacientes deitados no chão, falta de vagas nas UTIs, socorro precário, falta de medicamentos e de médicos. Marcar um exame de imagem, por exemplo, é tarefa que demanda meses e decepções frequentes. As emissoras de televisão exibem seguidamente casos absurdos de falta de atendimento.

São episódios revoltantes que se repetem ao infinito. Sobretudo cruéis, porque a imensa maioria da população brasileira não possui recursos para recorrer às redes privadas. Quanto custa uma consulta? Um exame de sangue ou imagem, medicamentos? Pessoas viajam às vezes quilômetros em busca do direito constitucional de procurar salvar suas vidas. E vem o ministro da Saúde defender uma repactuação de despesas?

ABSURDO COMPLETO. 

Uma atitude que deve cobrir de vergonha o presidente da República por haver nomeado para um cargo tão vital um político insensível à realidade social que deve predominar na consciência e nos atos dos que integram o poder público.

Poder público é para poder servir à população e não aterrorizá-la com ainda mais restrições. Principalmente no que se refere à saúde, que representa também o direito à vida. Ameaçando instituir mais encargos para o povo, o ministro Ricardo Barros pode ocupar qualquer cargo no governo Michel Temer, menos o Ministério da Saúde no qual, infelizmente, se encontra.