Domingo, 8 de maio de 2016
Aline Leal - Repórter da Agência Brasil
Uma
terapia desenvolvida pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia
(Inct) em Nanobiotecnologia, que cura um tipo de câncer de pele em cães,
pode ser grande passo para a descoberta da cura de alguns tipos de
câncer humanos. Nos testes clínicos feitos em cachorros, a terapia
fotodinâmica, que envolve uma emulsão com uso de nanotecnologia e a
aplicação de um fotossensibilizador, tem curado os tumores malignos,
dispensando quimioterapia, radioterapia e cirurgia, que muitas vezes são
mutiladoras.
“Nós conseguimos a cura do
hemangiossarcoma cutâneo em sete cães que tiveram esse tratamento”,
relatou a veterinária Martha Rocha, que desenvolve a técnica como
trabalho de doutorado na Universidade de Brasília (UnB). A pesquisadora
explica que a terapia consiste na aplicação de uma emulsão no tumor. A
fórmula é ativada com o uso de um fotossensibilizador – no caso, uma luz
vermelha que poduz radicais livres que matam as células cancerígenas.
De
acordo com o coordenador do Inct em Nanobiotecnologia e orientador do
projeto, Ricardo Bentes, o tratamento já está sendo testado em câncer de
pele humano. “Estamos ajustando o fluido que será usado em pessoas. [É]
uma questão de acertar detalhes como a estabilidade do produto e em que
quantidade penetra para darmos como concluído”, disse ele.
Em
humanos, o hemangiossarcoma é mais comum em órgãos internos, onde é
difícil chegar com a luz. Porém, a técnica está sendo adaptada para a
cura do carcinoma basocelular, comum em pele humana, e que atualmente
pode ser curado principalmente com cirurgia, quimioterapia local e
radioterapia. O próximo passo, segundo o pesquisador, será investir na
adaptação deste tratamento para outros cânceres humanos – nos quais a
luz possa alcançar – e patologias causadas por fungos e bactérias.
O
especialista explica que além de matar as células do tumor, esee
tratamento estimula a imunidade do organismo. “O que se busca em
tratamento para câncer é a imunoterapia; é fazer com que o organismo
reaja contra o câncer. Mas o que acontece quando você faz quimioterapia e
radioterapia é o contrário: a imunidade cai. Nesse caso, se ficar
alguma célula residual, o organismo está imunodeprimido, e o tumor pode
voltar com tudo e vir até mais agressivo. O que a gente percebe com a
terapia fotodinâmica é que ela faz uma imunoestimulação”, acrescentou.
Tecnologia
O
pesquisador explica que já existe uma primeira geração de
fotossensibilizadores no mercado, mas diferentemente da nova tecnologia,
a antiga exige a incidência de luz no tumor por mais tempo e também a
permanência do paciente no escuro para evitar lesões. Outra desvantagem
da primeira geração, segundo o especialista, é que ela usa um
comprimento de onda baixa, o que por vezes impossibilita a morte das
células malignas por completo. Ele salientou que “o comprimento da luz
vermelha atinge profundidades maiores do tumor”.
Segundo
Bentes, a vantagem da nova terapia é que ela não tem efeitos
colaterais, "no máximo um pouco de dor no momento da aplicação. O
paciente não vai sentir enjoo, nem perder cabelo, e assim o paciente
adere melhor ao tratamento. Além disso, o paciente faz o tratamento e
meia hora depois vai para casa, não precisa ser internado”. O professor
informou que busca parcerias com a indústria farmacêutica para
viabilizar a oferta do produto no mercado.