Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

domingo, 22 de maio de 2016

Tempo de intolerância

Domingo, 22 de maio de 2016
Por Siro Darlan, desembargador do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro e membro da Associação Juízes para a Democracia

O planeta está andando na contramão. Os estudantes ocupam as escolas e a polícia os expulsam. Mais da metade da população é de mulheres e nenhuma representação feminina no governo interino. O Brasil precisa de educação e cultura para seu desenvolvimento civilizatório e o governo provisório, sob a tutela do judiciário, extingue o ministério da Cultura. A fogueira está novamente armada para queimar livros e pessoas. O recado da grande mídia e do poder financeiro, articuladores dessa nova ordem social, é de que a violência recrudescerá.
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Por outro lado o povo, já experiente com governos de exceção, não está disposto a enfrentar outro regime de força, e resistirá. A caça as bruxas já começou e aqueles que pensam diferente que se acautelem. Já há servidores públicos sendo processados por haverem se manifestado a favor da manutenção da democracia e do respeito à Constituição. O discurso é que precisam punir para exemplar que quando anunciaram que “Cala a boca já morreu” era pra ter entendido o recado que quem mandaria no país não admitiria divergências nem diversidades. Só não entendeu quem não quis.
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A cultura para essa gente é um risco porque o povo pode entender que o seu não é o de bobo da corte, mas protagonista das mudanças. E isso é muito subversivo. Assim como o juiz que não reza conforme a cartilha pode ter sua Toga maculada através de processos constrangedores e “punições exemplares” o recado será dado para os demais. Aqui nesse rebanho só ovelhas amestradas! Aqueles que posam de Toga, que é o símbolo da autoridade do juiz que somente pode trajar em atos oficiais, não estão fazendo uso político desse símbolo, porque todos fazem parte do rebanho.
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Outras manifestações fora do “Índex” são consideradas politico partidárias e o Inquisidor instaura o “Auto de Fé” e, pronto o indiciado já está apto para vestir o “Sambenito”, ficando conhecido por suas opiniões e decisões independentes como um herege. Contudo, o sistema segue na mesma direção e assim como tantos outros foram vencidos, e o céu voltou a brilhar, “Amanhã será um novo dia” e a arte e a Justiça triunfarão.