Sábado, 25 de junho de 2016
Elaine Patricia Cruz - Repórter da Agência Brasil
Os
testes da terceira e última etapa da vacina contra a dengue, que já
vinham sendo feitos desde fevereiro com 1,2 mil voluntários recrutados
pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de
São Paulo (USP), começaram a ser realizados também, nessa quinta-feira
(23), com 1,2 mil voluntários na Faculdade de Medicina de São José do
Rio Preto (Famerp), no interior paulista.
O Hospital das Clínicas
e a Famerp são dois dos 14 centros de estudo credenciados pelo
Instituto Butantã - que desenvolve a vacina -, onde serão feitos os
testes da terceira etapa do projeto. Esta fase envolverá 17 mil pessoas
em 13 cidades, nas cinco regiões do país. Na próxima semana, segundo o
instituto, um centro em Manaus (AM) e outro em Boa Vista (RO) também
darão início aos trabalhos.
A última etapa da pesquisa servirá
para comprovar a eficácia da vacina. Do total de voluntários, dois
terços receberão a vacina e um terço receberá placebo, que é uma
substância com as mesmas características da vacina, mas sem os vírus, ou
seja, sem efeito. Ninguém - nem a equipe médica e nem o voluntário -
saberá quem vai receber a vacina e quem receberá o placebo. O objetivo é
descobrir, a partir dos exames do material coletado desses voluntários,
se quem tomou a vacina ficou protegido e se quem tomou o placebo
contraiu a doença.
Segundo Jorge Kalil. diretor do Instituto
Butantã, São José do Rio Preto é a única cidade sem ser uma capital que
participará desta etapa. “É o único centro que não está em uma capital.
[São José do] Rio Preto tem uma medicina de muito boa qualidade e está
em uma região onde é muito forte a dengue. Então, é lugar bom para a
gente testar [a vacina]”, disse Kalil, em entrevista à Agência Brasil.
Em
São José do Rio Preto, a vacinação e o acompanhamento dos voluntários
pela Famerp são feitos em uma Unidade Básica de Saúde. As pessoas que
participarão do teste são voluntárias, saudáveis, que já tiveram ou não
dengue em algum momento da vida e que se enquadrem em três faixas
etárias: 2 a 6 anos, 7 a 17 e 18 a 59. Eles são acompanhados pela
equipe médica por um período de cinco anos para verificar quanto tempo
dura a proteção oferecida pela vacina.
“Essa última etapa
significa que, nos 14 centros, vamos vacinar 17 mil pessoas em três
faixas etárias. Vamos começar pelos adultos, depois os adolescentes e,
em seguida, as crianças. Vamos dar a vacina em um estudo chamado de
duplo cego aleatório, ou seja, nem a pessoa que administra nem a que
recebe sabe se está tomando a vacina ou o placebo. Vamos ver os casos
que vão ocorrer naturalmente de dengue. Há um comitê de observação que
sabe quem recebeu uma coisa ou outra [placebo ou vacina], e que vai
observar, por cálculos estatísticos, para mostrar se a vacina protege e
em que percentual. Esperamos que proteja entre 80% e 90%”, acrescentou
Kalil.
Segundo ele, a última etapa de testes pode durar em torno
de um ano. "Podemos ter a resposta daqui a um ano, mas vamos acompanhar
esses indivíduos por cinco anos porque queremos saber como eles vão se
comportando nesse período: se ainda estarão protegidos contra a dengue e
se haverá necessidade de uma dose de reforço no futuro”, disse.
O
instituto estima que a vacina esteja disponível para registro até 2018.
“Essa vacina é importante para o mundo todo. Há 3 bilhões de pessoas no
mundo que têm risco de contrair a dengue e existem no Brasil, por ano,
mais de 3 milhões de casos da doença, com mortalidade relativamente
elevada”, acrescentou o diretor do instituto.
A vacina
A
vacina contra a dengue tem potencial para proteger contra quatro vírus
da doença com uma única dose. Ela é produzida com vírus vivos, mas
geneticamente enfraquecidos. Com os vírus vivos, a resposta imunológica é
maior, mas como eles estão atenuados, não há potencial para provocar a
doença.
Nas etapas anteriores, a vacina foi testada em 900
pessoas: 600 na primeira fase de testes clínicos, feita nos Estados
Unidos, e 300 na segunda etapa, realizada na cidade de São Paulo em
parceria com a Faculdade de Medicina da USP (por meio do Hospital das
Clínicas e do Instituto da Criança) e com o Instituto Adolfo Lutz.
Segundo
Kalil, as demais fases de testes demonstraram que a vacina tem se
comportado bem. “Se pegarmos todos os casos das outras fases, quando
olhamos o nível de anticorpos neutralizantes produzidos, ou seja, o
número de anticorpos que não deixam o vírus proliferar, vemos que ela
induziu uma resposta muito forte contra os quatro sorotipos. Além de
anticorpos, a vacina induz uma resposta celular, ou seja, a vacina
ensina linfócitos chamados T a se defenderem do vírus e isso é um
coadjuvante muito importante da resposta antiviral”, comentou.