Terça, 21 de junho de 2016
Carolina Gonçalves - Repórter da Agência Brasil
O
presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), voltou a
afirmar hoje (21) que não vai renunciar ao cargo. Ele minimizou rumores
de que estivesse considerando esta saída para tentar um acordo que
pudesse, caso seja condenado, abrandar sua pena.
Semana
passada o Conselho de Ética aprovou, por 11 votos a nove, a perda do seu
mandato. Em entrevista coletiva no Hotel Nacional, em Brasília, Cunha
também afastou qualquer intenção de fazer delação premiada. “Não
renunciarei e não tenho o que delatar. Não cometi qualquer crime”,
afirmou.
O peemedebista disse que a “boataria” é resultado de um
momento confuso e complexo vivido pela Câmara e disse que, “por sua
culpa”, esses rumores não vão continuar. “É natural, depois de ficar
tanto tempo sem falar, acabar alimentando esta boataria”, completou.
Cunha
marcou a coletiva para, segundo ele, retomar a comunicação direta com
veículos de comunicação e evitar “prejuízos” que estaria sofrendo em seu
direito de defesa por ter adotado a estratégia de se manifestar, nas
últimas semanas, por notas ou pelas redes sociais.
“Foi opção
minha [vir sozinho], porque não estou vindo fazer um ato solene. Estou
retomando um contato rotineiro com vocês. Pedi que não viessem. Vou
voltar a falar com regularidade”, disse, destacando que os custos com
aluguel do salão do Hotel Nacional e a estrutura usada para a coletiva
foram pagos com recursos próprios.
Impeachment
Em
mais de uma hora de exposição, antes de começar a responder perguntas
de jornalistas, Eduardo Cunha reafirmou que não aprovou o processo de
impedimento da presidente afastada Dilma Rousseff pela perda de apoio. O
peemedebista reiterou que foram integrantes do Executivo, entre eles o
então ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, que ofereceram apoio no
Conselho de Ética em troca do arquivamento do pedido.
“Não sou nem herói nem vilão no processo de impeachment.
Apenas cumpri meu papel. Tenho a consciência tranquila de que livrar o
Brasil da presidente Dilma Rousseff e do PT será uma marca que terei
orgulho de carregar”, acrescentou.
Waldir Maranhão
Sobre
a decisão do presidente interino da Câmara, Waldir Maranhão (PP-MA),
que ontem (20) desistiu da consulta que havia encaminhado à Comissão de
Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, Cunha anunciou que vai recorrer.
A consulta questionava o rito de cassação de parlamentares na Câmara e
se o texto a ser apreciado pelo plenário é o parecer do relator ou um
projeto de resolução sobre a decisão do colegiado. Maranhão explicou que
a consulta já foi respondida pela comissão em pelo menos duas
oportunidades – em março de 1994 e setembro de 2005.
Maranhão era
considerado aliado de Cunha. Por isso, a medida acabou sendo apontada
como uma “traição” por alguns parlamentares adversários do peemedebista.
Para Cunha, a diferença entre as decisões consideradas “favoráveis” a
ele foram elaboradas pela Mesa Diretora da Casa. “As duas decisões que
ele assinou, recebendo prontas, foi do cancelamento do impeachment e esta. Quem tem de responder é ele”, afirmou.
Cunha
deixou o local da entrevista sob gritos de “Fora Cunha! e Bandido!” de
um grupo de manifestantes que, durante toda a entrevista coletiva,
protestou com vuvuzelas do lado de fora do hotel.
Supremo
A
defesa de Cunha tem prazos para tentar reverter a situação do deputado
tanto na Câmara quanto no Supremo Tribunal Federal (STF). Na Corte
Suprema, termina hoje o período para que ele se defenda do pedido de
prisão impetrado pela Procuradoria-Geral da República. No dia 14,
ministro do STF Teori Zavascki, relator da Operação Lava Jato, negou os
pedidos de prisão para o presidente do Senado, Renan Calheiros
(PMDB-AL), do senador Romero Jucá (PMDB-RR) e do ex-senador José Sarney
(PMDB-AP).
Cunha considerou “absurdo” o pedido e voltou a
apontar “seletividade” do procurador-geral, Rodrigo Janot, em relação
aos casos que o envolvem. No pedido, Cunha destacou e rebateu os pontos
usados como argumento, como o Ato da Mesa Diretora da Câmara que manteve
seus direitos após o afastamento.
“Vai pedir minha prisão por um
ato da Mesa? Fui eu? Chega a ser ridículo atribuir a mim atos de
terceiros”, criticou, alertando que, como parlamentar, tem direitos
mantidos. Cunha afirmou que apenas funcionários de seu gabinete estão à
sua disposição e disse que a residência oficial usada por ele tem custos
“de qualquer forma. Não muda por eu estar ou não estar lá.”
Nomeações
O
peemedebista, também acusado de indicar nomeações do governo interino
de Michel Temer, entre eles o de Alexandre de Moraes, voltou a
classificar como absurdo o argumento e debochou, afirmando que ninguém
que tenha trabalhado com ele em algum momento de sua história poderá ser
nomeado.
Sobre o fato de ter anunciado que iria frequentar a
Câmara mesmo afastado, Cunha disse que tem direito de se defender
politicamente e para isso precisa estar na Casa, como ocorreu no
Conselho de Ética, quando ele próprio apresentou sua defesa antes de ter
o pedido de cassação aprovado.
Nessa segunda-feira, o presidente
afastado da Câmara entrou com recurso no STF, questionando o alcance da
decisão de Teori Zavascki. O objetivo de Cunha é voltar à Câmara para
se defender pessoalmente no processo de cassação.