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(Millôr Fernandes)

quinta-feira, 30 de junho de 2016

É o caos! É o caos, Rollemberg. Secretaria de Saúde do DF não admite marcação de consultas além de 30 dias

Quinta, 30 de junho de 2016
Do combativo Blog do Arretadinho
 
Secretaria de Saúde do DF não admite que pacientes marquem consultas médicas com mais de 30 dias de antecedência
De Brasília
Joaquim Dantas
Para o Blog do Arretadinho

"A política está comandando a Saúde no DF, pior para a população". A frase foi dita por um médico da Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal, SES/DF, enquanto me atendia durante uma consulta médica no Hospital Regional da Asa Norte, HRAN, na manhã desta quinta-feira (30).

Visivelmente aborrecido com as péssimas condições de trabalhos, o descaso com que alguns colegas dele dispensam aos pacientes do SUS e, principalmente, com as "manipulações criminosas dos protocolos médicos" por parte da SES/DF, com o devido aval do governador Rodrigo Rollemberg.

Segundo o médico que, enquanto me atendia no consultório do ambulatório do HRAN, fazia uma espécie de desabafo, "existem muitos médicos que trabalham dando tudo de si nos hospitais públicos, mas muitos outros colegas não trabalham, enrolam, para defender seus próprios interesses pessoais", contou o médico e continuou o seu desabafo dizendo que "imagine o senhor que só tem vaga para consultas médicas na Cirurgia Vascular daqui há três anos. Sabe por que? Porque um cirurgião vascular ganha em um só dia em seu consultório particular, injetando espuminha nas pernas das madames, o mesmo que ganha de salário em um mês trabalhando em um hospital público", desabafou o médico.

Ainda segundo o médico, o descaso com os pacientes não é culpa exclusiva do médico sabotador, esse descaso passa pelo diretor do hospital que "ignora" as sabotagens dos médicos porque, cada vez que o cirurgião vascular faz um atendimento, gera uma despesa com exames, equipamentos etc e essas despesas desagradam ao secretário de saúde que, por sua vez, é pressionado pelo governador para diminuir essas despesas.

Olha, sinceramente, foram tantos exemplos citados pelo médico, de como se sabota o atendimento no serviço público de Saúde, que eu tive que me segurar para não falar um sonoro "filhos da puta!".

Sabotando a ressonância
Um dos exemplos que mais me deixou estarrecido foi o que o médico relatou-me referente a ressonância magnética de fígado, que é comumente substituída pela de tórax, evidentemente porque a segunda é mais barata.

Segundo pesquisas recentes, a cada cinco pessoas, uma sofre de gordura no fígado, muitas vezes sem saber. A ‘esteatose hepática não alcoólica’ é uma condição cada vez mais comum nos países ocidentais e provoca aumento do fígado e mudança em sua coloração, com grandes chances de evoluir para uma hepatite gordurosa e cirrose hepática caso não seja diagnosticada e tratada a tempo. 

Em termos de diagnóstico e acompanhamento, o uso da ressonância magnética como identificador da quantidade de gordura presente nas células encontradas no fígado, é a mais recente e eficiente novidade. Acontece que segundo o médico, na maioria das vezes, os radiologistas omitem a existência do software disponível na rede pública para a realização do exame. As justificativas para tal atitude, ainda segundo o que relatou-me o médico, são duas. A primeira é a de que o SUS só paga a ressonância de tórax e a segunda é a de que muitos radiologistas encaminham os pacientes para a rede particular, onde muitos radiologistas são os proprietários.

Sabotando a marcação de consultas
Ao final da consulta o médico entregou-me uma solicitação de retorno para daqui a 3 meses, entretanto, alertou-me que o setor de marcações de consultas só está confirmando as datas para, no máximo, 30 dias, mesmo o sistema estando habilitado para marcações de até um ano após a data de marcação.
[Clique na imagem para ampliá-la]
Encaminhamento médico para o retorno daqui a 3 meses
De posse do encaminhamento dirigi-me ao setor indicado pelo médico e, exatamente como ele havia me alertado, o funcionário que faz as marcações e que identificou-se como "Toddy", recusou-se a fazer a marcação do retorno para daqui a três meses, recomendando-me que voltasse ao ambulatório no final de agosto ou início de setembro deste ano para fazer a marcação. Diante da negativa do funcionário em marcar a consulta, mesmo diante de meus protestos, solicitei ao mesmo que colocasse, por escrito, no verso do encaminhamento o motivo pelo qual não estava sendo feita esse tipo de agendamento. O motivo ele também não colocou.

[Clique na imagem para ampliá-la]
Recomendação do funcionário do setor de marcação de consultas, no verso do encaminhamento de retorno, para
o meu retorno ao setor no final de agosto ou início de setembro
Segundo o angustiado médico que me atendeu, os agendamentos acima de 30 dias não estão sendo feitos "porque acumulam-se muitas marcações de consultas ao final e o governo não quer admitir, principalmente para a imprensa, que a falta de médicos é uma realidade", simples assim.

Estamos pagando uma mesma conta várias vezes. Pagamos para manter um sistema falido, o salário do médico, a compra de equipamentos que não são utilizados  e a pior delas, para não ter o atendimento.