Sexta, 24 de junho de 2016
Do MP do Estado de Minas
Yara Aquino - Repórter da Agência Brasil
Relatório final do Ministério Público do Estado de
Minas Gerais sobre o rompimento da barragem do Fundão, da mineradora
Samarco, em Mariana (MG), aponta que o desastre teria sido motivado por
obras na barragem. O rompimento ocorreu no dia 5 de novembro de 2015
espalhando lama e rejeitos de mineração e deixou 19 pessoas mortas,
causou destruição da vegetação nativa e poluiu a bacia do Rio Doce.
O
relatório diz que, em 2013, na elevação aproximada de 864 metros, o
eixo da barragem foi recuado. Segundo informações obtidas em relatórios
técnicos, este recuo foi implantado com a finalidade de possibilitar os
trabalhos de reparo na galeria secundária que apresentava sérios
problemas de vazamento. De acordo com os mesmos relatórios técnicos, os
alteamentos (elevação) da barragem continuaram nesta região do recuo.
“Como
consequência da mudança no eixo e a criação do recuo, a nova seção da
barragem acima da elevação 864 metros passou a ter na sua fundação zonas
ou camadas onde os rejeitos eram menos resistentes e menos permeáveis
do que o previsto no projeto original”, registra o relatório. “A
barragem continuou a ser alteada ao longo do recuo até novembro de
2015”.
Em outro ponto, o relatório registra que “a ruptura da
barragem teve início no chamado recuo, na região próxima à ombreira
esquerda, de forma abrupta, sem qualquer sinalização e rapidamente se
expandiu para todo o corpo da barragem”.
O relatório descarta que
o rompimento possa ter sido causado por terremoto, vibrações de
explosivos utilizados na operação da mina e vibrações produzidas
pelos equipamentos operando sobre ou próximos a barragem.
Avaliação
O
relatório é feito pelas empresas Geomecânica e o Norwegian Geotechnical
Institute, que foram contratados para fazer uma avaliação sobre as
causas principais e periféricas da ruptura da barragem.
O texto
registra esperar que esses resultados e conclusões devem servir de base
para aprimorar as técnicas usuais, desenvolver novas técnicas,
reformular normas, códigos e leis para que as barragens de rejeito, não
só no Brasil, mas no mundo, sejam mais seguras e sustentáveis.
Procurada,
a Samarco respondeu que “não teve acesso ao relatório do Ministério
Público do Estado de Minas Gerais e, portanto, não pode comentá-lo”.
O
relatório foi entregue ontem (23) à Comissão Extraordinária da Barragem
da Assembleia Legislativa de Minas Gerais pelo promotor Carlos Eduardo
Ferreira. A Assembleia também deverá apresentar um relatório próprio.
Tragédia
Além
das mortes, o rompimento da barragem de rejeitos da mineradora Samarco
arrasou os distritos de Bento Rodrigues e Paracatu e levou lama para a
bacia do Rio Doce. Mais de 30 municípios de Minas Gerais e do Espírito
Santo foram afetados e houve danos profundos ao meio ambiente, desde
Mariana até o litoral capixaba.