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(Millôr Fernandes)

sábado, 9 de julho de 2016

Centrais sindicais rechaçam proposta escravocrata da CNI, jornada de 80 horas "é provocação"

Sábado, 9 de julho de 2016
Tribuna da Imprensa Sindical
 Daniel Mazola
Na manhã desta sexta (8), após encontro com o presidente interino Michel Temer, o presidente da CNI, Robson Braga Andrade, disse que a indústria está “ansiosa” por medidas “duras” – como a reforma da previdência e alterações na legislação trabalhista – e citou como exemplo a França, afirmando que lá é permitido trabalhar até 80 horas por semana.

São escravocratas e mentirosos, porque é evidente que a França não adotou as 80 horas semanais e as mudanças na legislação, que é de 35 horas semanais, tem que passar no Legislativo e por conta disso os franceses estão quebrando o pau por lá há pelo menos dois meses.
Para rechaçar as deploráveis declarações da representação do patronato, seis das principais centrais sindicais do país emitiram nota de repúdio. No texto, as entidades afirmam que “propor uma jornada de 80 horas semanais é uma provocação ao povo brasileiro (...) isso significaria atraso social, cultural e econômico, submetendo a classe trabalhadora a condições desumanas”.

Assinado pela União Geral dos Trabalhadores (UGT), Central Única dos Trabalhadores (CUT), Central dos Tralhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Força Sindical, Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB), Nova Central Sindical dos Trabalhadores (NCST), o texto diz que a afirmação do empresário é “estapafúrdia” e “faz lembrar a situação da classe operária do século 19”. Segundo os sindicalistas a fala é lamentável e vai na contramão de todos os estudos sobre o trabalho no país.

O presidente da UGT, Ricardo Patah, comentou assim a proposta: “A simples menção de uma barbaridade dessas é um retrocesso enorme, que irrita, de um lado, e radicaliza, por outro, os trabalhadores”, afirmou. “No caminho de propostas deste tipo, logo os empresários vão querer impor a volta do pelourinho e da chibata, tratando os trabalhadores como escravos (...) É uma provação muito baixa e vil, que merece ser denunciada e rechaçada com todas as forças”, acentuou o sindicalista.

O fato é que sem a mínima desfaçatez a CNI botou a bunda na janela, e logo em seguida as centrais sindicais não perderam a oportunidade e passaram-lhe a mão nos fundilhos. Talvez assim, com esse pesadelo profundo, o Movimento Sindical volte a construir uma pauta unitária em benefício dos trabalhadores e consequentemente do desenvolvimento econômico do Brasil.

Confira a íntegra da nota dos trabalhadores:

Propor jornada de 80 horas semanais é uma provocação ao trabalhador brasileiro

Nós sindicalistas repudiamos a sugestão, proferida pelo presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Braga de Andrade, nesta sexta-feira (8), após uma reunião com o presidente interino Michel Temer e cerca de 100 empresários do Comitê de Líderes da MEI (Mobilização Empresarial pela Inovação), segundo a qual o Brasil deveria ampliar sua carga horária de trabalho em até 80 horas semanais e de 12 horas diárias para classe trabalhadora.

Neste momento em que as centrais sindicais buscam um diálogo, a fim de estabelecer um consenso benéfico para todos, tal afirmação, que faz lembrar a situação da classe operária do século 19, surge como uma provocação estapafúrdia ao povo brasileiro.

O que os trabalhadores querem e precisam é andar para frente, não retroceder na história. Neste sentido aproveitamos a oportunidade para reafirmar nossa bandeira pela redução da jornada de trabalho de 44 para 40 horas semanais, sem redução de salário.

A proposta da jornada de 80 horas semanais vai na contramão de todos os estudos sobre o trabalho no Brasil. Pesquisas do Dieese, por exemplo, apontam que a adoção das 40 horas semanais poderá gerar mais de 2 milhões de novos postos de trabalho. Na mesma linha, estudos do Ipea apontam que uma jornada de 12 horas semanais seria suficiente para produzir a mesma riqueza produzida com uma jornada legal de 44 horas.

A elevação do nível de emprego e dos salários irá beneficiar todo o país e promover o crescimento da economia brasileira, fortalecendo o mercado interno, ampliando o consumo e estimulando os negócios no comércio e na indústria.

A adoção de uma jornada de 80 horas semanais, por outro lado, causará um atraso social, cultural e econômico, submetendo a classe trabalhadora a condições desumanas afetando (1) sua saúde e qualidade de vida; (2) sua possibilidade de escolaridade e conhecimento; (3) e reduzindo seu tempo de vida social e cultural.

Acreditamos que a redução da jornada de trabalho sem redução de salário é indispensável para ampliar a oferta de emprego, na medida em que os ganhos de produtividade – fruto do desenvolvimento tecnológico e de formas mais avançadas de gerenciamento – requerem essa mudança. Qualquer medida contrária só ampliará a precarização e retirará direitos consagrados pela luta histórica da classe trabalhadora.

As centrais sindicais conclamam à classe trabalhadora e ao conjunto do povo brasileiro para que se mantenham alertas, vigilantes e mobilizados para a luta contra o retrocesso neoliberal neste difícil momento da vida nacional, marcada por uma brutal ofensiva dos capitalistas contra o Direito do Trabalho, a democracia e a soberania nacional.

Adilson Araújo, Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB)
Antônio Neto, Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB)
José Calixto Ramos, Nova Central Sindical dos Trabalhadores (NCST)
Paulo Pereira da Silva, Força Sindical
Ricardo Patah, União Geral dos Trabalhadores (UGT)
Vagner Freitas, Central Única dos Trabalhadores (CUT)