Domingo, 3 de julho de 2016
Da Tribuna da Internet
Pedro do Coutto
A corrupção no Brasil, gigantesca, realmente demonstra não ter
limites, e creio mesmo que nos últimos anos bateu não só o recorde
nacional, mas também o mundial. Reportagens de O Globo, da Folha de São
Paulo e de O Estado de São Paulo, neste sábado, destacam as revelações
do ex-vice-presidente da Caixa Econômica Federal, Fábio Cleto, nomeado
para o posto no governo Dilma Rousseff por indicação do deputado Eduardo
Cunha. Incrível.
O assalto teve com alvo o Fundo de Investimento do FGTS, constituído
pelas contribuições das empresas sobre as folhas de salário e uma vez
depositadas passam as contas individuais dos trabalhadores. A Caixa
Econômica Federal, como todos sabem, é administradora dos recursos.
A reportagem mais detalhada foi de Jailton de Carvalho, André de
Souza e Vinicius Sassine, que saiu no O Globo. Porém, matéria de Hélio
Wizack, na Folha de São Paulo destaca um ponto importante da questão. O
Fundo de Investimento apresentou uma lucratividade de 6,8% no ano
passado, o que representa uma perda real. já que a inflação, de acordo
com o IBGE. alcançou 10,6% no período.
POLITIZAÇÃO – A administração pública, vê-se hoje,
está politizada no mau sentido da palavra porque foi através de
indicações pessoais que os ladrões cometeram assaltos em série, a
começar pelo superfaturamento de contratos entre empresas particulares e
a Petrobrás. No caso do FGTS, segundo o relato de Fábio Cleto, a
percentagem sobre os roubos era dividida semanalmente em locais
escolhidos pelo deputado Eduardo Cunha.
Para denunciar Cunha, Fábio Cleto acusou a si mesmo, repetindo assim o
episódio que explodiu os escândalo do Mensalão no primeiro governo
Lula, ocasião na qual, para acusar José Dirceu de chefe do esquema, o
deputado Roberto Jefferson acusou a si próprio. Do episódio ambos foram
condenados.
Agora existe a delação premiada, lei de 2014, e o panorama mudou um
pouco. Os delatores têm direito à redução de penas, e, com isso maior
volume de informações vem à tona, tornando transparentes as manobras
ocorridas sordidamente nos bastidores.
CUNHA NA PIOR – Se a situação de Eduardo Cunha já
era crítica, com o relato de Fábio Cleto tornou-se pior. Aliás, está
piorando dia a dia a situação dos ladrões. É verdade que nem todos irão
para a cadeia, mas é difícil se livrarem das condenações penas e das
prisões. O lance da obtenção de habeas corpus deixou de ser uma etapa
tradicional e escapista no panorama brasileiro.
Até mesmo o despacho do desembargador Ivan Athiê, liberando para a
prisão domiciliar as prisões de Carlinhos Cachoeira e Fernando
Cavendish, esbarrou, talvez por coincidência, na falta de tornozeleiras
exigidas para os acusados, condicionante colocada no despacho do
desembargador da 3a. região.
Fernando Cavendish, inclusive, ao desembarcar no aeroporto Tom Jobim
receberia a tornozeleira e iria para sua propriedade particular, seu
domicílio. Porém em vez disso foi transferido de Água Santa para o
presídio de Bangu.
HAVERÁ RECURSO – O Ministério Público Federal vai recorrer na segunda-feira contra a decisão de Ivan Athiê.
A polícia do RJ alegou falta de recursos para adquirir as
tornozeleiras exigidas. Sem dúvida, um toque de humor, no meio de um
quadro dramático ocupado e manipulado por ladrões de casaca, como o
caso, por exemplo, das obras do Porto Maravilha no centro da cidade.
Em tudo isso, fica demonstrado no processo múltiplo que se desenrola o
peso de uma nova força que surgiu num momento adequado – a presença da
Procuradoria Geral da República e da Justiça. Os acusados sequer estão
escapando pelos tornozelos.