Segunda, 18 de julho de 2016
Da Tribuna da Imprensa Sindical
Por LEONARDO SAKAMOTO - Via blog do autor
E
se os discursos usados para convencer os trabalhadores que a legislação
trabalhista deve ser reduzida e as regras de aposentadorias alteradas
no meio do jogo fossem aplicados de uma outra forma?
“O
Brasil precisa, urgentemente, da socialização dos meios de produção.
Garantir que a coletividade e não indivíduos controlem indústrias,
fazendas, bancos aumentará nossa competitividade e nos empurrará ao
futuro.''
“Já passou da hora do país refletir seriamente a respeito da concentração do capital na mão de algumas poucas famílias.''
“Os
ricos devem entender que ninguém vai mexer nos seus direitos, mas o
confisco de bens ocorrerá em nome de um bem maior, do crescimento do
país. Precisam compreender que, sem essas mudanças, talvez não existirá
mais um país.''
“Sem
uma reforma profunda que distribua a terra e crie comunas
autogestionadas, o país não fará frente aos desafios do século 21.''
“A
legislação que trata da propriedade privada no Brasil remonta o início
do século 20. Ela precisa ser atualizada para o bem de todos.''
Alguém
que vai a público professar tais discursos é, hoje, tratado como
lunático, processado como incitador de violência, preso como subversivo.
Afinal, está tentando acabar com a ordem estabelecida e pulverizar
direitos garantidos. Tachado de “ideológico'', é relegado à latrina da
sociedade. O contrário, contudo, é visto como uma surpreendente
normalidade, como algo “natural'' ou “lógico''.
Não
existe posicionamento sem ideologia. Nossa ideologia vai conosco para
toda parte. Essa matriz de interpretação do mundo que abraçamos,
consciente ou inconscientemente, diz muito sobre como vemos os fatos e o
que eles significam para nós e para os outros.
Aliás,
não há discurso mais ideológico do que aquele que diz que não possui
ideologia. Ao tentar naturalizar relações sociais, culturais e
econômicas como se fossem “naturais'' ou “lógicas'' ele está
construindo, na verdade, uma complexa rede de estruturas.
Para
que alguém continue ganhando e alguém continue perdendo. Para que todos
achem isso normal. Ou, no limite, para que você seja tão bem doutrinado
que se torne um cão de guarda daquele que te explora.
Em
tempos difíceis economicamente, saídas que rifam direitos dos mais
pobres e preservam os dos mais ricos (que tal aumentar impostos e taxar
dividendos?) são vendidas como a única alternativa para preservar a
qualidade de vida de muitos. Quando elas, por sua própria natureza,
significam a proteção de poucos.
Uma
discussão ampla e que envolva todos ao invés de medidas tomadas de cima
para baixo seria um ato sensato. Mas a sensatez anda sumida por aqui.
Como bem disse Paulo Freire, todos são orientados por uma base ideológica. A discussão é se a sua é includente ou excludente.
Mas
se as pessoas que mais precisariam fazer essa reflexão chamam Paulo
Freire de “lixo'' e “burro'', será uma grande caminhada até que percebam
o tamanho da corrente que prende seus pés.