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(Millôr Fernandes)

sábado, 23 de julho de 2016

'Não sou eu que estou dizendo. É Deus', diz pastor acusado de homofobia por placa

Sábado, 23 de julho de 2016
Ele pendurou em frente a igreja trecho do Levíticos, da Bíblia. MP investiga caso
Do www.correio24horas.com.br (Bahia)
Por Alexandre Lyrio

Ele diz que Jean Wyllys é “digno da misericórdia divina”, bota fé nas lutas de Bolsonaro e Magno Malta e faz cara de nojo ao narrar uma cena de novela em que viu “dois homens se pegando”. “Afff. Não sei como um homem é capaz de se pegar com o outro. Você gosta de homem?”, me perguntou o pastor Milton, que pendurou na fachada de sua igreja uma placa com uma inscrição considerada homofóbica por moradores de Porto Sauípe, distrito de Entre Rios, a 70 quilômetros de Salvador. 
Pastor Milton (Foto: Alexandre Lyrio/CORREIO)

“Em que sentido, pastor?”, retruquei. “No sentido sexual mesmo”. “Não, não, pastor. Eu gosto de mulher. Mas se gostasse de homem isso não faria a menor diferença”. Ontem, no final da tarde, a placa continuava lá. E, se depender dele, vai ficar ali por muito tempo. “Não vou me intimidar. Não tem lei que tire essa placa daí. Conheço a constituição. Tenho direito à liberdade de expressão”, afirmou o líder religioso.

Como mostra a foto, a placa cita trecho do livro de Levítico, capítulo 20, versículo 13, do Velho Testamento. “Se um homem tiver relações com outro homem, os dois deverão ser mortos por causa desse ato nojento; Eles serão responsáveis pela sua própria morte”. O pastor nega que os dizeres incitem a violência, a homofobia ou incentivem a discriminação.

“Não sou eu que estou dizendo. É Deus. Aí tem que pegar Deus e botar atrás das grades. Diante de Deus, o homossexualismo é pecado. Mas isso não quer dizer que os homossexuais têm que ser mortos. Eles precisam ser salvos. Ali é o ponto de vista de Deus”, diz o pastor. “Mas, o cidadão comum que lê isso aí não pode interpretar como um incentivo à homofobia?”, indaguei.

“Não, não. Mais de 80% da nossa população é católica ou protestante. Todo mundo tem a Bíblia. Se fosse na época do Velho Testamento, era para ser morto mesmo. Apedrejado! Deus condena o homossexualismo, o lesbianismo”, repetiu várias vezes. “Se naquela época era para ser apedrejado, hoje é para ser o que?”. “Hoje é para ser salvo”, insistiu.

“Mas, de tantos escritos e livros da Bíblia, porque destacar este?”. “Porque a coisa tá mudando muito rápido. Os programas de televisão incentivam. Para uma criança, um menino desse aí, isso é normal. Os gays tão morrendo tudo de Aids e ninguém faz nada”, disse o pastor, novamente demonstrando um semblante de nojo. “Falo assim porque quando eles morrerem vão paro o inferno. Eu quero que eles sejam salvos”.

Milton França, 58 anos, é do bairro da liberdade, em Salvador, e mora há seis anos em Porto Sauípe. Ele fazia parte da Congregação Batista Bíblica Salém, que existe há 23 anos. Há um ano, decidiu abrir uma igreja independente e criou o Templo Bíblico Batista Salém. Além dessa placa, há outra que também foi fixada na frente do tempo religioso com a frase em tom de ameaça: “Você é livre para fazer suas escolhas, mas não é livre para escolher as consequências”. 

Veja trecho da fala do pastor:

Quem pode sofrer as consequências do seu ato é o próprio pastor. A promotora Márcia Teixeira, que coordenada o Centro de Apoio dos Direitos Humanos do Ministério Público da Bahia, encaminhou denúncia para o promotor criminal de Entre Rios, que vai analisar o caso e pode indicar a abertura de inquérito policial.

“A liberdade religiosa não autoriza ninguém a fazer apologia ao crime”, defende a promotora. Caso haja uma condenação criminal por incitação ao crime, o pastor pode ser condenado à pena de 3 meses até 2 anos de prisão. O presidente da Comissão de Diversidade Sexual da Ordem dos Advogados da Bahia (OAB-BA), Filipe Garbelotto, criticou a postura da igreja.

Para Garbelotto, a igreja alterou a tradução da frase para estimular a violência. “Não é uma mera reprodução do que está escrito na Bíblia. O texto foi modificado. Ele (o pastor) edita o texto para deixá-agressivo. Está clara a incitação à violência. Ele convoca para que os homossexuais sejam mortos. Isso extrapola qualquer limite da expressão de liberdade religiosa”, afirmou.

O canal LGBT Me Salte, do CORREIO, consultou dez bíblias – com variadas traduções físicas e on line – e em todas a frase é escrita de outra maneira. Na tradução da bíblia por João Ferreira de Almeida, que é uma das mais respeitadas, o trecho diz: “O homem que se deitar com outro homem como se fosse uma mulher, ambos cometeram uma abominação, deverão morrer, e seu sangue cairá sobre eles”. No local, porém, o pastor mostrou à nossa reportagem uma bíblia com escritos idênticos aos da placa.

O presidente da comissão da OAB ressalta ainda que o pastor responsável pela igreja, deve responder civil e criminalmente por isso. “Isso que aconteceu da porta pra fora da igreja é reflexo do momento de preconceito que estamos vivendo na nossa sociedade. A OAB está acompanhando o caso para que haja punição”, explicou o advogado.

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O texto abaixo, reproduzido do Blog do Arretadinho, foi incluído nesta postagem às 12h38, e se refere à postura homofóbica do tal pastor baiano.

Placa de igreja diz que gays devem morrer

Ministério Público apura igreja que colocou placa indicando que gays devem morrer
“Se hum homem tiver relacionamento com outro homem, os dois deverão ser mortos por causa desse ato nojento; Eles serão responsáveis pela sua própria morte”. Essa frase, com forte teor de ódio e homofobia, foi pendurada na frente da Congregação Batista Bíblica Salem, no distrito Porto Sauípe, da cidade de Entre Rios, no litoral norte da Bahia. A ação da igreja está sendo alvo de investigação do Ministério Público da Bahia (MP-BA).

A frase, que foi fixada na fachada da igreja tem causado polêmica na cidade. “Eu fico assustado de ser gay e morar aqui em Porto de Sauípe. Quem escreve uma frase dessas e coloca na porta de um igreja é capaz de fazer qualquer coisa”, conta um jovem gay que mora na localidade, que pediu para não ser identificado.

Outra moradora da cidade, que é lésbica, afirma que o clima está tenso na localidade. “A qualquer momento podemos ser atacadas por uma dessas pessoas. Nossa região sempre foi de paz. Nunca teve dessas coisas de agressão por conta de orientação sexual”, afirma.

Além dessa placa, que consta no livro Levítico da Bíblia, há outra que também foi fixada na frente do tempo religioso com a frase em tom de ameaça: “Você é livre para fazer suas escolhas, mas não é livre para escolher as consequências”.

Segundo a promotora Márcia Teixeira, que coordena o Centro de Apoio dos Direitos Humanos do Ministério Público da Bahia, a denúncia foi encaminhada para  o promotor criminal responsável pela região de Porto Sauípe, que fica na cidade de Entre Rios, que vai analisar o caso e pode indicar a abertura de inquérito policial.

O Blog Me Salte do Correio 24 Horas  tenta, desde ontem, contato com a Igreja, mas nenhuma das ligações foram retornadas pelo pastor Milton Santos, que é responsável pelo templo religioso. Ao portal Blasting News, o pastor disse que “a intenção da publicidade não é incentivar agressões aos homossexuais, mas sim demonstrar a insatisfação de Deus com a vida que estas pessoas “escolheram””. “Os gays não devem ser mortos, devem ser salvos, pois já estão mortos espiritualmente”, disse à reportagem do portal.

Fonte: Correio 24 Horas