Sexta, 15 de julho de 2016
Do MPF
Grupo simulava consultoria financeira a agentes públicos e usava empresas fantasmas para lavar o dinheiro desviado
O Ministério Público Federal (MPF) denunciou à Justiça, em duas
ações penais, 43 pessoas por crimes como corrupção ativa e passiva,
lavagem de dinheiro e organização criminosa, apurados no âmbito da
Operação Miquéias.
Entre os denunciados estão Fayed Antoine Traboulsi, apontado como o
líder da organização criminosa, além de Carlos Eduardo Rocha Marzola e
Flávio Júnior de Carvalho – que, segundo o MPF, também tinham papeis de
destaque no esquema. A lista inclui ainda o ex-policial civil Marcelo
Toledo Watson e os delegados Sandra Maria da Silveira e Paulo César
Boberg Barongeno, citados como os responsáveis pelo vazamento das
informações das investigações aos envolvidos.
Pela participação no esquema, os três agentes policiais já foram
denunciados ao Tribunal de Justiça do DF pelos crimes de ameaça,
desacato e violação de sigilo funcional. No caso de Sandra, há ainda
outra denúncia, de corrupção passiva. As investigações revelaram que ela
recebeu R$ 50 mil de Fayed Traboulsi como pagamento pelos serviços
prestados.
As denúncias são mais um capítulo do escândalo que começou a ser
investigado em 2009, pela Polícia Civil do Distrito Federal, a partir da
descoberta de indícios de movimentações financeiras milionárias em
empresas fantasmas. Quatro anos mais tarde, o caso passou à esfera
federal, em decorrência da constatação de que também houve a prática de
crimes financeiros.
Já sob a coordenação do MPF e da Polícia Federal, em setembro de
2013, foi deflagrada a Operação Miquéias, com a prisão de 27 pessoas e o
cumprimento de dezenas de mandados de buscas e apreensão. O objetivo
era desmantelar um esquema criminoso que desviava recursos de institutos
previdenciários municipais por meio da cooptação de gestores municipais
e da lavagem de dinheiro. A estimativa dos investigadores é que o grupo
tenha movimentado cifras milionárias durante quase uma década.
Como funcionava o esquema - Nas ações enviadas à
Justiça, o procurador da República Wellington Divino Marques de Oliveira
detalha a participação de cada um dos envolvidos e a forma como se deu a
execução dos crimes. Em um dos trechos, ele cita as conclusões de
inquérito instaurado em 2013, a partir de uma auditoria do Ministério da
Previdência Social. Na época, muitos municípios aplicavam recursos do
Regime Próprio de Previdência Social (RPPS) em fundos de investimentos
de crédito privado pouco atrativos – o que, conforme revelaram as
investigações, resultou em prejuízos financeiros. A escolha dos
investimentos era feita a partir de orientações de “empresas de
consultoria financeira”.
O aprofundamento da apuração levou os investigadores até a empresa
Invista Investimentos Inteligentes, de propriedade de quatro dos
denunciados e que era utilizada para a cooptação dos agentes públicos
responsáveis pela administração dos fundos previdenciários. “Uma vez
feito o contato, os prefeitos/gestores eram corrompidos pelo
oferecimento de retorno financeiro pessoal (geralmente em um percentual
da quantia investida) e acabavam por concordar em investir nos fundos
apresentados pela Invista”, detalha um dos trechos da ação.
O procurador frisa ainda que o contato com o agente público era feito
normalmente por “mulheres muito bonitas” ou por lobistas que
apresentavam os fundos de investimento. Para dar mais credibilidade ao
negócio, era comum a presença de um auditor fiscal da Receita Federal, a
quem cabia fornecer informações privilegiadas sobre a situação dois
fundos.
O que se seguia à assinatura dos contratos era uma sequência de
irregularidades que incluíam a desvalorização dos fundos, a emissão
irregular de títulos e depósitos dos valores aplicados pelos municípios
em contas bancárias abertas em nome de fantasmas. A etapa seguinte eram
os saques de grandes quantias em espécie e a distribuição dos valores
entre os envolvidos no esquema criminoso, incluindo os gestores dos
regimes de previdência.
Durante as investigações feitas pela Polícia Civil do Distrito
Federal, o monitoramento de integrantes da organização criminosa
comprovou a movimentação financeira do esquema. O irmão do doleiro Fayed
Louis Traboulsi foi um dos monitorados. A suspeita é que, em um único
dia, em 2009, ele tenha sacado R$ 240 mil, valor distribuído entre os
envolvidos.
Outros crimes - Na ação judicial, o MPF destaca a
existência de “crimes antecedentes” como tráfico de drogas, corrupção,
violação de sigilo funcional e outros, já denunciados ou ainda em fase
de investigação. Além disso, o MPF ressalta que, em decorrência da
grande quantidade de envolvidos nas práticas criminosas, aquelas pessoas
cujas provas apontam a participação apenas como “laranjas” não foram
incluídas nas denúncias encaminhadas neste momento à Justiça Federal. Já
a opção de dividir os casos em duas ações distintas tem o objetivo de
facilitar e agilizar o andamento dos processos. Das 43 pessoas
denunciadas, três delas, aparecem nas duas ações.
Em função das ramificações e da quantidade de pessoas envolvidas, a, a
Operação Miquéias já teve outros desdobramentos que resultaram em ações
judiciais bem como outras medidas investigativas, inclusive, atingindo
pessoas com prerrogativa de foro por função.
Relação de denunciados
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Fayed Antoine Traboulsi
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Marcelo Toledo Watson
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Carlos Eduardo Rocha Marzola
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Flavio Junior de Carvalho
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Francisco de Melo da Cruz
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Louis Antoine Traboulsi
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Carlos Felipe Rocha Marzola de Carvalho
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Mozart Medeiros Filho
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Gutembergue Santiago do Nascimento
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Sanjer Inácio da Silva
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Ana Cristina Barbosa Oliveira
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Ivanise Kechaloski
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Marcos Neves Bresaola
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Flavia Peralta de Carvalho
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Luiz Romildo de Melo
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Luis Fernando Cassela
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Márcia Regina Flausion Traboulsi
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Sandra Maria da Silveira
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Paulo Cesar Bober Barongeno
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Sylvio Costa Junior
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Carlos Eduardo Carneiro Lemos
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Guilherme Oliva Souza
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Paulo Augusto Freitas de Souza
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Getúlio Francisco Coelho
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Luciane Lauzimar Hoepers
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Almir Fonseca Bento
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Isabela Helena Carneiro de Barros
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Fernanda Cardoso
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Cynthia Cabral Soares da Cruz
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Alline Teixera Olivier
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Idailson José Vilas Boas Macedo
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Emerson Rodrigues dos Reis
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Gustavo Alberto Starling Soares Filho
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Danielle Vasconcelos Correia Lima Leite
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Andréa de Fátima Ribeiro Pinto
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Marcelo Rodrigues de Godoy
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Leomar Alves da Cruz
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Cristiano Sá Freire Lefreve
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Abílio Siqueira Filho
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Thays Cardoso Martins
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Zaqueu Maciano da Silva
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Robson Silva dos Santos
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Rosimaire Attiê