Quarta, 6 de julho de 2016
Flávia Villela - Agência Brasil
Dez pessoas foram presas hoje (6) na Operação Pripyat,
que desarticulou uma organização criminosa que desviou dos cofres
públicos cerca de R$ 48 milhões por meio de lavagem de dinheiro e
fraudes licitatórias decorrentes de contratos da Eletronuclear entre
2008 e 2014. Ao todo, seis funcionários da Eletronuclear, empresa
subsidiária da Eletrobras, foram presos preventivamente. Eles foram
encaminhados para o sistema prisional e serão ouvidos ao longo da
semana.
Dentre os presos está o ex-presidente da
Eletronuclear Othon Luiz Pinheiro, que já cumpria prisão domiciliar. Ele
recebeu aproximadamente R$ 12 milhões, de acordo com as investigações
da Polícia Federal e do Ministério Público Federal, que apontam que os
funcionários presos e um clube de empreiteiras atuavam para desviar
recursos da Eletronuclear, principalmente os destinados às obras da
Usina Nuclear de Angra 3.
O procurador da República Lauro Coelho
Junior explicou que os presos preventivos eram altos funcionários que
faziam parte do núcleo operacional financeiro da organização criminosa.
“Somente pela construção da Usina de Angra 3, a Andrade Gutierrez
recebeu da Eletronuclear R$1,202 bilhão. Cerca de 2% iam para o núcleo
político da organização, 1% para Othon Luiz e 1,5% para os diretores que
foram presos hoje”.
O presidente da estatal, Pedro José Diniz
Figueredo, foi afastado devido à suspeita de que ele favoreceu Pinheiro e
interferiu no andamento das investigações internas conduzidas pela
Comissão Independente de Investigação instituída pela Eletrobras.
A
operação envolveu 130 agentes federais no Rio de Janeiro e em Porto
Alegre. Também foram cumpridos três mandados de prisão temporária e nove
de condução coercitiva, além de 26 mandados de busca e apreensão.
Também
foram presos preventivamente os diretores afastados da estatal Luis
Antonio de Amorim Soares, José Eduardo Brayner Costa Mattos, Edno
Negrini, Persio José Gomes Jordani e dos superintendentes afastados Luiz
Manuel Amaral Messias e José Eduardo Brayner Costa Mattos. O empresário
Adir Assad, preso pela Operação Saqueador, também teve mandado de
prisão preventiva, acusado de lavar dinheiro para a Andrade Gutierrez no
esquema com a Eletrobras .
Empresas envolvidas
Os
presos temporários são pessoas ligadas às empreiteiras Flexsystem, WW
Refrigeração, Eval – Empresa de Viação Angrense, Legend, SP
Terraplanagem e JSM Engenharia. Essas empresas intermediaram o repasse
de propina paga pela empresa Andrade Gutierrez, investigada na Operação
Lava Jato.
As investigações começaram com a apuração do conteúdo
de quebras de sigilo bancário e fiscal da empresa Flexsystem, cujo
endereço registrado é uma residência no Joá, bairro nobre da zona sul do
Rio de Janeiro.
Desdobramentos da Lava Jato
A Operação Pripyat é desdobramento no Rio de Janeiro da 16º fase da Operação Lava Jato,
denominada Radioatividade. As suspeitas em relação a Andrade Gutierrez
foram confirmadas pelas colaborações premiadas dos ex-executivos
Rogério Nora, Clóvis Primo, Flávio Barra e Gustavo Botelho, que
revelaram o pagamento de propina para os funcionários da Eletrobras.
O
procurador chamou de audácia da organização criminosa, que mesmo depois
de ser alvo da Operação Radiotividade, continua a influenciar a
Eletronuclear e atrapalhar a elucidação do esquema.
A Andrade Gutierrez informou que não se pronunciará sobre o caso.
A
Eletronuclear, em comunicado ao mercado, disse que tomou conhecimento
pela imprensa "de suposta operação da Polícia Federal, iniciada na
manhã de hoje, envolvendo o ex-presidente da Eletronuclear Othon Luiz
Pinheiro da Silva e outros. A Companhia está verificando o episódio
noticiado pela imprensa e manterá o mercado informado".
A Eval –
Empresa de Viação Angrense não quis se pronunciar. A JSM Engenharia
informou que não tem nenhum contrato de licitação com a Eletronuclear e
que provavelmente houve erro de digitação na sigla. Os contatos
disponíveis na internet das empresas Flexsystem Engenharia, VW
Refrigeração, SP Terraplanagem e Legend estão desatualizados.
O
advogado do empresário Adir Assad, Miguel Pereira Neto, informou que só
se pronunciará depois de ter acesso aos autos do processo.
As defesas dos demais presos não foram encontradas até a publicação do texto.