Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

domingo, 7 de agosto de 2016

Lamúrios de carpideiras

Domingo, 7 de agosto de 2016
Do Blog do Vlad
Por Vladimir Aras Procurador da República, Professor de Processo Penal e pesquisador da área de lavagem de dinheiro, criminalidade organizada e cooperação penal internacional.
 
Não conheci Eusélio Oliveira. Mas sei como se sente sua família. Eusélio foi morto em 1991 no Ceará, num crime que continua impune (aquipor obra e graça das centopeias recursais tão comuns na Justiça brasileira. Recursos sem fim. Instâncias a perder de vista. Prescrição. Esquecimento. Impunidade. 

Naquela época, já se matava muito no País. A regra hoje é a mesma. O Brasil assiste a mais de 50 mil mortes intencionais a cada ano. Não há modelo de justiça criminal que dê conta disto. Não há sistema penitenciário que chegue para tantos candidatos, alguns tão insistentes. Fazem questão de uma vaga atrás das grades, mas nossa crônica ineficiência não consegue atendê-los. E seguem soltos praticando outras traquinagens violentas. Por outro lado, a superlotação carcerária é um dura realidade na maioria dos estabelecimentos prisionais. Algo há de ser feito para soltar quem não deva ali estar e fazer com que milhares de homicidas e outros criminosos violentos cumpram suas penas, devidamente.

Não se pretende condenação sem provas ou julgamentos sem defesa. Isso seria abjeto. O que se quer é o tempo adequado (e humano) da justiça, e não uma saga, quase sempre em vão, de vinte ou trinta anos à espera do cumprimento de um dever básico dos Estados democráticos de Direito: o de prover justiça, e livrar o homem de bem do intolerável ônus de buscá-la pelos seus próprios meios, seja por vindita ou nos justiçamentos públicos.