Domingo, 28 de agosto de 2016
Elaine Patricia Cruz - da Agência Brasil
O ácido acetilsalicílico (AAS), conhecido como aspirina, é
utilizado para prevenir o infarto, a doença vascular periférica ou o
acidente vascular cerebral (AVC). No entanto, o uso constante e diário
da aspirina costuma provocar complicações gastrointestinais nestes
pacientes. Mas um estudo desenvolvido por pesquisadores brasileiros
concluiu que tomar aspirina a cada três dias pode ser tão eficiente
quanto na prevenção dessas doenças e também evita as complicações
gastrointestinais causadas pelo uso diário do medicamento.
O
estudo foi coordenado por Gilberto De Nucci, professor da Faculdade de
Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e do
Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP).
“De uns 35 anos para cá, verificou-se que a aspirina tem um efeito
benéfico seja no tratamento do infarto seja como profilaxia do infarto. O
problema de usar aspirina é que ela tem um efeito colateral importante,
causando irritação no estômago. Essa irritação pode não dar sintomas e o
paciente pode apresentar uma hemorragia gástrica”, explicou.
O
que se fazia até então para reduzir esses efeitos colaterais, segundo De
Nucci, era reduzir a dose de aspirina. “Toda a literatura [médica] dos
últimos 35 anos procurava reduzir a dose de aspirina para minimizar o
risco da hemorragia gástrica. Mas demonstramos a segurança desse sistema
terapêutico”, disse. “Tem pacientes que não tomam aspirina, e que
deveriam tomar, porque [a aspirina] apresenta risco de hemorragia muito
alto. Mas agora demonstramos que esse esquema terapêutico é tão benéfico
quanto os anteriores com a vantagem demonstrada de não causar nenhuma
irritação”, ressaltou.
O estudo, desenvolvido por cerca de um
ano, teve apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo
(Fapesp) e da Biolab Farmacêutica e foi publicado no The Journal of
Clinical Pharmacology.
A pesquisa
O ácido
acetilsalicílico evita que as plaquetas se agrupem e obstruam os vasos
sanguíneos. Por isso é que popularmente se diz que o AAS “afina” o
sangue. Por outro lado, ao mesmo tempo, a aspirina atua na mucosa
gástrica, diminuindo a produção de prostaglandinas – substâncias
lipídicas que protegem o estômago e o intestino.
Durante o estudo
de doutorado de Plinio Minghin Freitas Ferreira, na USP, sob orientação
de De Nucci, 24 voluntários sadios foram divididos em dois grupos.
Metade deles recebeu AAS todos os dias durante um mês. A outra metade
recebeu o medicamento a cada três dias e, no intervalo dos dias, apenas
placebo (substância sem efeito direto em doenças, simulando um
medicamento). Neste período, os voluntários passaram por diversos exames
como endoscopia, biópsia gástrica, teste de agregação plaquetária e
medição do nível de prostaglandina, por exemplo. “Quando fizemos esse
estudo, verificamos que, quando tomada a aspirina de três em três dias a
eficácia para prevenir a formação do trombo era a mesma. Entretanto, a
produção de prostaglandina, quando se tomava [a aspirina] todo dia,
havia redução de 50%. Quando tomava de três em três dias, não havia
redução da produção de prostaglandina”, disse o coordenador do estudo.