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(Millôr Fernandes)

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Defesa de Lula entra com ação no CNMP contra procuradores da Lava Jato; e Okamotto diz que OAS foi a primeira empresa que encontrou para arcar com a guarda do acervo de Lula

Quinta, 15 de setembro de 2016
André Richter e Elaine Patricia Cruz - Repórteres da Agência Brasil

A defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva informou hoje (15) que entrou com uma representação no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) contra a atuação dos procuradores da força-tarefa da Operação Lava Jato.

Na representação, os advogados afirmam que os procuradores do Ministério Público Federal Júlio Carlos Motta Noronha, Roberson Pozzobon e Deltan Dallagnol “transgrediram os deveres funcionais” de seus cargos durante a entrevista em que anunciaram ontem (14) a denúncia contra o ex-presidente.

Os advogados consideram que os procuradores anteciparam juízo sobre a condenação de Lula e violaram a política de comunicação do Ministério Público. Segundo defesa do ex-presidente, a norma determina que uma denúncia não pode ser divulgada de uma maneira que signifique condenação antecipada dos envolvidos.

“Os termos midiáticos cunhados pelos procuradores estão reproduzidos desde ontem nas capas dos veículos nacionais e estrangeiros, com o nítido objetivo de manchar a reputação do ex-presidente e promover o linchamento de sua figura, processo deliberado de condenação pública”, argumentam os advogados de Lula.


Referência ao mensalão

A defesa também critica a parte da denúncia em que os procuradores fazem referência ao esquema de corrupção investigado na Ação Penal 470, o processo do mensalão, pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

“Os procuradores ainda buscaram promover uma revisão da operação que resultou na Ação Penal 470 (mensalão), já definitivamente julgada no STF e que jamais teve Lula como envolvido, apenas para tentar macular a honra e a imagem do ex-presidente.”


Segundo o advogado Cristiano Zanin Martins, os procuradores cometeram “grave desvio funcional” com as declarações sobre Lula na apresentação na denúncia. “Chamaram uma coletiva e usaram recursos públicos para tratar de um assunto que sequer estava na esfera de atribuição deles. Eles cometeram, a meu ver, um grave desvio funcional, que está sendo hoje comunicado ao conselho”, disse o defensor, após pronunciamento de Lula, em São Paulo.


Zanin disse ainda que os integrantes do MPF erraram ao imputar juízo de valor aos investigados, ferindo o princípio constitucional de presunção de inocência. “Nenhum membro do Ministério Público pode antecipar juízo de valor com relação a investigações não concluídas.”


Ontem (15), Lula foi denunciado à Justiça Federal por lavagem de dinheiro, corrupção passiva e falsidade ideológica, por supostamente ter recebido vantagens indevidas referentes à reforma de um apartamento triplex em Guarujá, no litoral paulista. A denúncia também inclui a mulher de Lula, Marisa Letícia da Silva.
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OAS foi a primeira empresa que encontrei para arcar com acervo, diz Okamotto

Por Elaine Patricia Cruz – da Agência Brasil
O presidente do Instituto Lula, Paulo Okamoto, confirmou hoje (15) que procurou a construtora OAS para arcar com os custos de preservação do material do acervo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo Okamoto, a OAS foi a escolhida por ter sido a primeira empresa que encontrou para fazer isso.

“Foi o primeiro empresário que conheci e que eu vi ali na hora. Se fosse o da Rede Globo, poderia ter pedido para a Rede Globo. Se tivesse aparecido do Pão de Açúcar, seria para o Pão de Açúcar. Tentamos achar outras alternativas, mas não foi possível”, disse Okamotto. “Eu realmente pedi para a OAS e, se isso for um crime, então você me fala qual a pena que eu sou obrigado a cumprir porque eu sempre disse que fui pedir apoio para a OAS”, disse.

De acordo com ele, como o Estado não tem condições de comportar isso, o destinatário precisa bancar os custos de preservação desse material. “E eu fui buscar a OAS e pedir apoio para ver se eles podiam me ajudar para preservar aquele acervo”, disse Okamotto.

Junto com Lula e Marisa Letícia, Okamoto também foi denunciado ontem (14) por procuradores da República por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no âmbito da Operação Lava Jato.
Questionado se não seria “delicado” pedir colaboração a uma empresa que tem contratos com o governo, Okamotto respondeu: “Me indique uma empresa com que o governo não tem relação, de uma forma ou de outra”.

Para o Ministério Público, o pagamento feito à OAS para a Granero, que armazena o acervo do ex-presidente, foi uma forma de lavagem de dinheiro. “A Granero pediu para fazer um contrato de locação que tivesse garantias. Então, tinha que ter uma pessoa que ganhasse o suficiente para garantir o aluguel de R$ 21 mil. Eu não tinha, pessoalmente”, disse Okamoto.

Okamoto acompanhou o discurso do ex-presidente Lula, em um hotel na capital paulista, em que criticou a ação do Ministério Público Federal (MPF).

Após o discurso de Lula, Okamotto convidou o juiz Sérgio Moro, que decidirá se aceita a denúncia do MPF, a conhecer e visitar o acervo.

O acervo, segundo Okamoto, consiste em “centenas e centenas de caixas, que tem milhares de cartas e documentos, com cartas de pessoas pedindo coisas, agradecendo, criticando”. Além das cartas, há bonés, roupas, artesanatos, “centenas de bíblias” e fotos.

“Podia jogar isso fora? Podia. Mas o Estado organizou aquelas cartas e quando as pessoas saem da Presidência da República, as pessoas dão aquele documento ao acervo presidencial que é privado, mas é de direito público. Eu não posso nem vender”, disse.