Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Tribuna da Imprensa: Os irmãos Batista, do grupo JBS, confessam fraude e lucros ilícitos, no assalto aos Fundos

Quinta, 15 de setembro de 2016
Michel Temer, ainda "apenas" vice e presidente do PMDB, foi chamado para resolver o problema.
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Da Tribuna da Imprensa Sindical
Por Helio Fernandes
Surgiram há alguns anos, com publicidade cara e espalhafatosa. Exibiam artistas famosos, para promoverem a condição de processadores de carne. Durou muito tempo, gastaram fortunas para venderem o que chamavam de Friboi. E pessoalmente manterem nas manchetes, os irmãos Joesley e Wesley Batista. Conseguiram, e a JBS passou a ser considerada, pelo menos no noticiário incentivado, "como a maior empresa do Brasil".

No mês passado, comentei com exclusividade, um pedido dos irmãos Batista, aos sócios, acionistas e fornecedores da própria JBS. Queriam "autorização para executarem uma RECUPERAÇÃO empresa". Achei estranho, que a "maior empresa do Brasil," estivesse nessa condição de precisar se recuperar. Agora, publicamente, a explicação direta e indireta.

O Ministério Publico Federal, executou a Operação Greenfield, que deu prejuízos colossais, aos 4 maiores Fundos do Brasil: Banco do Brasil, Caixa Econômica, Correios, Petrobras. A JBS foi incluída entre os grupos que assaltaram e provocaram perdas avaliadas entre 50 e 60 bilhões.

Isso vem de anos e anos. E os funcionários, dessas 4 grandes estatais, perdem mensalmente, pelo menos 30 por cento, do que deveriam receber como aposentadoria. Dinheiro deles, recolhido a vida inteira.

O Ministério Público conseguiu bloquear de varias empresas, em bens moveis e imóveis, 8 bilhões de reais. Entre essas empresas, a JBS, dos irmãos Batista. Por ordem da Justiça, os Batista foram imediatamente afastados dos cargos que ocupavam. O caso passou a ser publico, mas tratado discretamente, os Batista são importantes e poderosos. Como mostraram com a "proposta indecente" copiada do filme famoso.

Foi logo aceita, o que é um absurdo. Devem depositar 1 bilhão e 500 milhões, com a explicação-compromisso: "É um depósito preventivo, para o caso de sermos condenados" Assim que for feito o deposito, reassumirão os cargos, e terão os bens desbloqueados que representam muito mais do que o total do deposito.

Esses Batista são também grandes doadores de campanhas eleitorais. Que só foram descobertos e revelados publicamente por este repórter, a partir de um acaso e de uma relação fortuita e ocasional. A JBS DOOU 50 milhões para o PMDB nacional. Não tendo ficado muito claro, deputados e senadores, se julgavam donos do dinheiro.

Michel Temer, ainda "apenas" vice e presidente do PMDB, foi chamado para resolver o problema. Isso ele faz bem. Foi na empresa, conseguiu uma declaração dos generosos doadores: "Metade é para deputados, metade para senadores". Tudo bem, constatou que os Batista haviam "doado 470 milhões para vários partidos na campanha de 2014". E mais importante: conheceu o poderoso Presidente do Conselho de Administração.

Seu nome: Henrique Meirelles, sua palavra, em qualquer caso, era incisiva e definitiva. Lógico, nenhum dos dois sabia o que aconteceria com a conspiração parlamentar. Um presidente, o outro Ministro da Fazenda. Assim que foi convidado, antes da posse, fui o primeiro a anunciar: surgiu mais um presidenciável para 2018, se é que chegaremos lá.

Assim que foi tornado publico, o rombo da JBS nos Fundos, Meirelles, chamuscado, declarou publicamente: "Eu era um simples funcionário". Depois que cumpriu no Banco de Boston, uma carrreira financeira sempre ascensional, e com a vida garantida, veio para o Brasil, tentar outra carreira: a política. Generosamente, o povo de Goiás lhe deu 183 mil votos, na eleição de 2002. Mas não chegou a tomar posse.

No aeroporto encontrou com Lula, eleito presidente, na quarta tentativa. Não se conheciam. Lula convidou-o para Presidente do Banco Central, aceitou na hora. 4 anos de fracasso, não foi nem relacionado para o segundo mandato. Riquíssimo mas desempregado, a presidencia do Conselho de Administração da "maior empresa do Brasil" que maravilha viver.

Portanto, haja o que houver, com esse passado e currículo, pode ser tudo, menos "simples funcionário". E não tem o mínimo de constrangimento ou de convicção. Basta ver o que disse ontem á tarde, na TV: "Os empresários e consumidores estão retomando a confiança. E a economia dá sinais inequívocos de crescimento"

Tudo na contramão de economistas independentes. E analistas, não ligados a grupos econômicos, que afirmam: "Estamos com 12 milhões de desempregados, podemos chegar a 14 milhões". O desemprego, é a face mais cruel e desumana do capitalismo.

A posse da Advogada Geral. Lula denunciado, pela Lava-Jato

Dona Gracie Mendonça, assumiu no lugar do dinamitado Ministro anterior. Ela é respeitada. Mas o discurso e as presenças inusitadas, não. Textual: "Tenho o propósito de manter a elucubração, (que palavra) com o Supremo". Em vez de propósito, o desproposito. Ela não percebeu, mas estava confrontando o mais alto tribunal do país. Os dois têm pouca coisa a ver ou qualquer relacionamento, por menor que seja.

Desde que assumiu o cargo, defende a União, mesmo contra a comunidade. O Supremo defende SEMPRE.  Obrigatoriamente, a comunidade, mesmo que fique contra a União. Os processos que estão perdidos ha anos, no Supremo, sem julgamento, constituem desvios de poder. Os Ministros sabem, que teriam que votar dando ganho de causa, por unanimidade, á comunidade. Ou seja, ao cidadão.

Quanto ás presenças, poderia fazer uma lista enorme. Mas vou me restringir a 2 Ministros do Supremo, Gilmar Mendes e Dias Toffoli. Não podiam estar ali de maneira alguma. E sabem disso. Mas não resistem ao poder iluminativo dos holofotes.

Lula denunciado, na Lava- Jato.

Já era esperado por ele e seus advogados. Havia alguma duvida em relação ao tempo e se ele seria denunciado sozinho.Ou na companhia da mulher, Dona Leticia, como aconteceu. Também ninguém esperava que o Procurador Chefe do Ministério Publico de Curitiba, Dalton Lavagnoll, tivesse tanta cobertura da mídia, principalmente da televisão, que é instantânea.

No seu estilo, não deixou de usar uma palavra que fosse. Textual e retumbante, com repercussão assombrosa: "Lula é o comandante maximo do esquema de corrupção, investigado na Lava-Jato". O ex-presidente facilitou demais o trabalho da investigação. A respeito do triplex e do sitio de Atibaia.

As denuncias, depoimentos, e delações, foram devastadores. E a imprudência de Lula, sem a menor explicação. E sem qualquer necessidade. Lula poderia comprar o sitio e o tríplex, com dinheiro próprio.

O país tem que esperar o capitulo final, que pareceu sempre imprevisível e que não se concretizaria. Agora, praticamente concretizado.

Trump e Maduro: fascistas e indefensáveis

Alem de tudo que se sabe da vida dele, do que mostrou assustadoramente, na campanha, surgem mais fatos desabonadores. O ex-secretario de estado, o Republicano Collin Powell, afirmou publicamente: "Trump é uma desgraça nacional". Ele é repudiado, dentro e fora do país. Agora, o Ministério Publico de Nova Iorque abriu investigação para apurar denuncias de irregularidades, na Fundação que leva seu nome.

Como essa Fundação se destina á caridade e tem isenção total de impostos, desvio de dinheiro ou irregularidade, é considerado corrupção. O ex-prefeito de Nova Iorque, mostrou na campanha de Hillary Clinton, que Trump enriqueceu,” lesando muita gente". Fez um libelo terrível. Obama, em plena campanha da candidata Democrata, t em sido aplaudidíssimo. O que não é comum nos EUA, para um presidente, que  tem menos de 4 meses para deixar a Casa Branca.

Maduro não assume o Mercosul. Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, assinaram ontem um acordo: seria insensato e incompreensível, entregar a presidência de um órgão democrático, a um ditador assumido e confessado. Como a presidência é exercida durante apenas 6 meses, em rodízio, os 4 trabalharão juntos. E o próximo presidente, é o que estará na vez. Depois de Maduro, nada contra a Venezuela.

Maduro diz, "é campanha contra mim, pelo fato de ser herdeiro de um líder socialista como Chávez". Maduro não sabe nem que é socialismo. Vou dar apenas um exemplo. Em 1922, Mussolini, que era socialista, proprietário e diretor do jornal diário, "Il Poppolo di Roma", tomou o poder na Itália. Alguns anos depois, era o maior aliado do nazista Adolf Hitler. O "socialista" Mussolini, terminou a vida, pendurado pelo povo, de cabeça para baixo, num varal de secar roupa.

PS- A denuncia contra Lula, apanhou todos desprevenidos. Muitas versões. Mas o fato mais importante acontecerá amanhã: o discurso do ex-presidente, na reunião do partido.

PS2- Do PT, me dizem: "Não denunciaram o ex-presidente, tentam impedir que ele seja novamente presidente". Isso é a palavra de ordem da cúpula do partido.

PS3- No Planalto-Jaburu, duas conclusões. Satisfação, com a possível eliminação de um adversário. A segunda: receio com alteração das ruas, o que não favoreceria quem está no Poder. Principalmente quem é indireto.


PS4- Surpreendentemente, de Curitiba, admitem que o Juiz Sergio Moro pode não aceitar a denuncia. Isso me disse alguém favorável á aceitação, embora seja apenas observador.



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Eduardo Cunha é um retrato enxovalhado e estraçalhado, intimida, mas não assusta

Ha 50 anos, o genial Barão de Itararé, fez uma frase, que define o Eduardo Cunha de hoje: "Quem com ferro fere, com ferro será conferido". Conferido, abandonado, cassado. A sessão definitiva foi surpreendente, inusitada, estranha, inesperada. Para os dois lados. Nada do que estava previsto, aconteceu. E o imprevisto prevaleceu, não premeditado, mas rigorosamente verdadeiro.

Marcaram a sessão para as 7 da noite, inédito. Mas era o receio da falta de quórum, que assustava a todos. E levou Rodrigo Maia á declaração e decisão: "Só abrirei a sessão com a presença de 400 deputados". Abriu com menos. E logo suspendeu. O numero longe dos 400, provocou intranqüilidade.

As televisões, e seus comentaristas auto-proclamados medalhas de ouro, confundiram e complicaram tudo. Não acertaram uma. Na véspera e no próprio dia, com grande audiência, transformaram boatos em fatos, sem que milhões, em casa, entendessem alguma coisa. Arrogantes, prepotentes e suficientes, colocaram como chave para compreender o que aconteceria, a palavra RENUNCIA. Não foi pronunciada uma vez sequer.

A segunda insistência durante o dia todo, e até mesmo no transcorrer da sessão: a possível votação elevada a FAVOR de Cunha, o que levou Maia a contradições. Isso foi dissipado e destruído, com um simples olhar para o painel eletrônico. Ninguém esperava ou imaginava, que aparecesse aquele total, rigorosamente impensável e desproporcional: 450 a 10. Apenas 9 abstenções. Normal. E dos 513, compareceram 470. Ausentes apenas 8 por cento, mais do que compreensível.

Insistiam também, que Eduardo Cunha poderia ser beneficiado pelo fatiamento,
que favoreceu Dona Dilma. Durante uma semana isso foi discutido. Até este repórter, considerou que haveria debate sobre o assunto. Sem sucesso.
   
Nem o incansável e inefável Marun, tocou no assunto. Por tres vezes tentou conseguir punição "mais branda'". Para isso, lia artigos do regimento interno. Que Cunha ia passando para ele. E recebia sempre a resposta do presidente Maia: "A questão está superada".

 A sessão foi encerrada exatamente á meia noite. Com a cassação anunciada 6 minutos antes. E o resultado foi tão destruidor, que a calma (aparente) dominou o espetáculo. A perda dos Direitos Políticos, que normalmente seria de 8 anos, foi fixada em 10 anos, até 2027.

(Na ditadura, todos os cassados perdiam os direitos por 10 anos. Este repórter, cassado em 1966, deveria terminar em 1976. Em 1977, o MDB lançou minha candidatura a senador em 1978. O Ministro da Justiça, Gama e Silva não autorizou o registro, com a explicação: "As cassações agora são para sempre". E isso ficou valendo. Não só para mim, atingindo todos os cassados).

Incertezas e inconseqüências, da cassação e perda dos Direitos  

O ex-presidente da Câmara não tem mais poder. Por enquanto, está no caminho de Curitiba, mas vai lutar o mais que puder para não chegar lá. Anteontem, eu disse aqui, que o primeiro recurso que o Supremo presidido por Carmen Lucia terá que examinar, deverá ser de Eduardo Cunha. Ontem, já se reuniu com advogados, para identificar o tipo de recurso. Contra a cassação ou para permanecer com os direitos políticos.

No discurso durante a cassação, acusou o "PT, de ter contribuído, para a aglutinação dos votos contra mim". Tolice. O PT, PC do B, e PDT, têm 80 deputados, todos compareceram e votaram. Estavam obrigados a isso. Se ficassem ausentes, como se explicariam?

Não esquecer: Cunha é réu duas vezes no Supremo. Como não tem mais fôro privilegiado, nada mais compreensível, que esses processos sejam enviados ao juiz Moro. Por determinação do Ministro Zavascki. Ou pedido expresso do Procurador Geral da Republica. Mesmo sendo cassado, e encurralado de muitas maneiras, o Planalto se preocupa com ele.

Cunha tem confidenciado a amigos: "As ruas têm gritado três palavras de ordem. Duas já foram completadas. Falta à terceira". Como não entendessem, explicou com naturalidade: "È o FORA, DILMA, seguido do FORA, CUNHA, e agora, o FORA, TEMER. Os dois primeiros, conseguiram. Tentarão o terceiro,com a minha ajuda direta". Seu alvo principal, hoje, é o presidente indireto. Deixou claro esse 
propósito, no dia 12. Temer sabe disso.

Reforma política, tímida e lenta

A Comissão de Constituição e Justiça, aprovou ontem, duas medidas defendidas por este repórter ha 20 anos. E por todos que almejam por um país governável. O fim das coligações partidárias, mais conhecidas como "voto proporcional". E o fim do escabroso e tenebroso Fundo Partidário. Que carrega com ele, a publicidade "gratuita" de radio e televisão. 

Este sofreu restrições. O primeiro começará a valer, depois da eleição de 2018. Com tanto tempo, terão esquecido. Ou anulado. A reforma política, é prioridade total e absoluta. Mas como tem que ser feita pelo Congresso, percam as esperanças. Presidencialismo-Parlamentarismo, só no Brasil.

Bloomberg: livro de Cunha

O ex-presidente foi personagem do famoso canal de noticias. Do conhecido ex-prefeito de Nova Iorque, por 12 anos. Ontem, noticiava: "Livro de Cunha tem potencial, para provocar danos a muitos políticos". Não revelou quando o livro estará á disposição do publico. E lógico, dos mais interessados e citados.

Cassação: o mercado parece que não gostou

A Bovespa caiu mais de 3 por cento. Petrobras sozinha teve queda de quase 7 por cento. E não foi por influencia dos preços de Londres ou Nova Iorque. Ficaram inalterados. O dólar também subiu. Profissionais, ganharam muito dinheiro. Sem o menor risco.

Debate irônico (?), Cunha - Renan

O presidente do Senado, vibrou e não escondeu, com a cassação do ex-presidente da Câmara.Mas não quis falar. Pressionado pelos jornalistas, respondeu: "Não sou especialista em Eduardo Cunha. E muito menos amigo". O ex-presidente cassado soube e respondeu: "Espero que os ventos que vão soprar contra Renan, não sejam tempestade".

PS- Já publiquei e registrei: os Procuradores da Lava-Jato, não estão interessados numa suposta delação de Cunha. E acrescentaram: aceitaríamos um depoimento da mulher, Claudia Cruz. 

PS2- Ontem voltaram a falar no assunto. Não consegui confirmação. Mas continuo não acreditando. Cunha tem tantos processos, acusações e processos, que para obter um resultado razoável, terá que depor vários anos. Não necessariamente em liberdade.


PS3- Textual de Cunha, no depoimento de anteontem: "Recebi 53 pedidos de impeachment, contra a ex-presidente. Só abri um, apesar de dizerem que eu era um perseguidor". Ele acredita que os brasileiros são idiotas. E que se entendesse, poderia iniciar 53 processos de impeachment.