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(Millôr Fernandes)

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Saúde: DF perde 571 leitos de internação

Segunda, 19 de setembro de 2016
A capacidade de internação no Distrito Federal recuou 8,3% nos últimos cinco anos. No mesmo período, a população cresceu, em média, 13,4%. As unidades públicas foram as que mais sofreram com o fechamento das vagas
 
Fontes: Por OTÁVIO AUGUSTO - Correio Braziliense //// Blog do Sombra

Nos últimos cinco anos. os hospitais públicos e particulares da capital federal extinguiram 571 leitos de internação. O recuo de 8,3% é quase o dobro da média nacional, de 4,6%. No período, segundo dados do Cadastro Nacional dos Estabelecimentos de Saúde (CNES), do Ministério da Saúde, passou de 6.799 vagas, na rede pública, para 6.228. O serviço fica ainda mais desequilibrado com as unidades que não deixaram de existir, mas estão bloqueadas por deficit de recursos para manutenção. O mais recente levantamento da Secretaria de Saúde mostra que 225 leitos estão nessa condição — sendo 97 de Unidade de Terapia Intensiva (UTI).

A interpretação dos números do setor revela um cenário tão desorganizado que é preciso repensar a concepção da assistência, segundo análise de especialistas consultados pelo Correio. A situação fica ainda mais desarmônica com o crescimento da demanda. Entre 2010 e o ano passado, os hospitais gerais do governo (urgência e emergência) perderam 10,1% dos leitos. Saíram de 4.244 vagas para 3.812. As unidades especializadas diminuíram 7,4% — com 5.242 ante 5.665.

A rede privada, apesar de ser acometida por menos problemas, enfrenta conjuntura semelhante. Sozinha, ela representa uma retração de 4,3%. Entretanto, os índices dos hospitais gerais da iniciativa privada são os únicos que apresentam um tímido crescimento. Nessas unidades, o volume de leitos aumentou 0,6%, com a criação de apenas nove leitos entre 2010 e 2015. Eram 1.421 vagas e agora são 1.430. Contudo, os hospitais de especialidades particulares acumulam a maior retração: 11,9%, com menos 113 leitos.

O maior problema, de acordo com Vitor Gomes Pinto, integrante do Observatório da Saúde e especialista em gestão pública, é a desproporção da oferta frente à procura. Ele examinou os números a pedido da reportagem. “Diminuir oferta é uma estratégia suicida. Os efeitos disso ficam na lista de espera por procedimentos eletivos, por exemplo, para cirurgias. Com isso, temos uma crise maior ainda, aliada aos outros fatores que prejudicam a assistência”, avalia.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) contabilizou 2.570.160 habitantes no DF em 2010. No ano passado, a população da capital alcançou 2.914.830 pessoas — crescimento médio de 13,4%. A Secretaria de Saúde mapeia os atendimentos da cidade. A pasta garante que 75% dos moradores recorrem ao sistema público. Apesar do panorama, em cinco anos, das 571 vagas de internação fechadas nos hospitais do DF, 467, ou seja, 81,7%, ocorreram na rede pública.

Manutenção

Francisco Balestrin, presidente da Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp), garante que a principal causa de fechamento de leitos está relacionada ao custeio das unidades. Segundo ele, o governo preocupa-se em criar espaços, mas não se atenta para o financiamento da manutenção. “Esse é um problema generalizado. Se tornou um ciclo vicioso. Diminuem-se os leitos, aumenta-se a demanda, não se atende à totalidade e isso aumenta filas e tudo fica desordenado. Vamos ter uma legião de gente doente sem condições de tratamento”, crítica.

Para o presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM), Carlos Vital, os dados revelam uma realidade que, diariamente, aflige médicos e pacientes em unidades hospitalares de todo o país. “A insuficiência de leitos para internação ou realização de cirurgias é um dos fatores que aumenta o tempo de permanência dos pacientes nas emergências. Por falta desses leitos, os pacientes acabam ‘internados’ nas emergências à espera do devido encaminhamento ou referenciamento”. Segundo Vital, a falta de leitos para internação é considerada a principal causa da superlotação e do atraso no diagnóstico e no tratamento, que, por sua vez, aumentam a taxa de mortalidade.

Três perguntas para

Daniel Seabra,

subsecretário de Atenção Integral à Saúde

A falta de leitos degringola todo o sistema. O que fazer para atenuar os prejuízos?

Certamente seria melhor para o paciente a gente ter mais leitos disponíveis. Diante da impossibilidade de investimento no momento, temos estimulado o reforço da atenção primária, o que acaba diminuindo a necessidade de internação desses leitos.

Especialistas dizem que o erro do governo é ampliar a rede sem condições financeiras de manter a manutenção dos leitos. Qual é o maior gargalo na sua avaliação?

A saúde implica uma série de fatores. O erro de planejamento pode ocorrer. Sabemos que há dificuldades de planejar globalmente. Temos trabalhado isso. Nossa intenção é gastar mais tempo planejando para a execução ser mais benfeita.

Quais são os impactos do bloqueio e do fechamento de leitos na saúde pública?

Nas cirurgias eletivas, por exemplo, infelizmente, a fila e o tempo de espera ficam maiores. A gente vai atendendo à medida que temos possibilidade. Obviamente, a gente entende que os pacientes gostariam de ser operados mais cedo, mas não conseguimos atender na velocidade que gostaríamos. Os casos de urgência e emergência têm prioridade.

Penúria no Sistema Único

O Brasil perdeu 20.906 leitos de internação entre 2010 e o ano passado. Somente o Sistema Único de Saúde (SUS) encerrou o funcionamento de 20.134 vagas. A rede privada, por sua vez, criou 772 unidades — alta de 1%. O setor fechou 2015 com 116.995 lugares para internação. O Ministério da Saúde diz que, atualmente, o SUS conta com 491.660 leitos disponíveis em todo o Brasil, sendo 338.346 exclusivamente públicos.