Domingo, 9 de outubro de 2016
Marli Moreira - da Agência Brasil
Três pesquisadores brasileiros desenvolveram um equipamento que
pode reduzir em até dez vezes o custo dos exames de retina e ampliar o
acesso às avaliações oftalmológicas preventivas. Com a apresentação do
SRC – Smart Retinal Camera, um retinógrafo portátil, eles ganharam o
primeiro lugar na seleção brasileira para participar, nos próximos dias 8
e 9 de novembro, em Berlim, da final do The Falling Walls Lab, evento
mundial que reúne as cem melhores ideias de inovação científica em
benefício da humanidade.
O
produto, no entanto, ainda precisa passar por testes clínicos e a
expectativa dos pesquisadores é que todas as etapas para a
comercialização no mercado ocorra até o primeiro semestre de 2018.
Integrante
da equipe, o físico Diego Lencione explicou que o aparelho consiste em
um conjunto ótico e eletrônico que, acoplado a um smartphone de boa
qualidade, permite obter imagens de alta resolução do fundo do olho. Ele
garante que a qualidade é tão boa quanto a captura tradicional, feita
por meio de equipamentos mais complexos e que estão disponíveis apenas
em clínicas especializadas de oftalmologia.
A vantagem, segundo o
pesquisador, é que o procedimento com a miniatura do retinógrafo não
precisa ser feito por um profissional especializado e tem um custo ”dez
vezes menor do que o convencional”.
Na
avaliação de Lencione, isso facilita, principalmente, a vida de
moradores de comunidades carentes que vivem distante dos grandes centros
urbanos e não contam com clínicas especializadas.
“O resultado
das imagens pode ser enviado para a avaliação de um atendimento de
excelência em oftalmologia e com isso se obtém um laudo remoto de alto
nível técnico”, explicou.
Diagnóstico precoce
Segundo
um dos inventores do SRC, o diagnóstico precoce pode ajudar a prevenir
doenças mais sérias. “Fazer a triagem de pessoas com problemas de
retina e encaminhá-las o quanto antes para tratamento pode-se evitar
danos mais sérios no futuro”, defendeu.
Ele citou dados da
Organização Mundial da Saúde (OMS) que apontam que 80% dos casos de
cegueira poderiam ser evitados por meio de métodos de prevenção e
tratamento.
Segundo o pesquisador José Augusto Stuchi, também
autors do projeto, apesar de existirem mais de 6 milhões de pessoas com
algum tipo de deficiência visual no Brasil, a maioria das cidades (85%)
não conta com oftalmologistas.
Além da facilidade de
transporte do aparelho para uso em campanhas de saúde em lugares
distantes, onde não há retinógrafos, o tamanho reduzido também pode ser
útil no atendimento a crianças, acrescentou Stuchi que é graduado em
Engenharia da Computação. Ele disse que as crianças costumam ter mais
dificuldade em se posicionar corretamente com a testa, queixo e cabeça
em frente ao aparelho convencional.
“Diagnosticar desde
cedo uma doença possibilita que você previna e trate o paciente para que
ele não fique cego. Por ano, 500 mil crianças perdem a visão no mundo e
80% de todos os casos de cegueira do planeta são evitáveis”, enfatiza o
pesquisador.
Ele foi o apresentador da inovação no concurso brasileiro e deve representar o Brasil na competição mundial.
Motivador
Stuchi
contou que o projeto surgiu há dois anos. Além dele e do físico Diego
Lencione, também participou do projeto o eletricista Flavio Vieira. Os
três são ex-estudantes da Universidade de São Paulo (USP). O interesse
em desenvolver esse tipo de equipamento surgiu a partir do irmão de
Diego que tem problemas de visão causados por deslocamento de retina.
Para
desenvolver o produto, eles fundaram a startup Phelcom, em março deste
ano, e contaram ainda com o financiamento do Programa Pesquisa Inovativa
em Pequenas Empresas (PIPE) da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado
de São Paulo (Fapesp).