Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

sábado, 10 de dezembro de 2016

Direitos Humanos: Maior acervo on-line sobre ditadura brasileira é relançado em São Paulo

Sábado, 10 de dezembro de 2016
Bruno Bocchini - Repórter da Agência Brasil
O portal Memórias da Ditadura, o maior acervo on-line sobre a história da ditadura no Brasil, de 1964 a 1985, foi relançado hoje (10) na capital paulista. A partir de agora, o site passa a contar também com dados e informações da Comissão Nacional da Verdade (CNV). O portal, desenvolvido pelo Instituto Vladimir Herzog, tem acesso gratuito e todo o conteúdo é de domínio público.

“É um portal que traz a história da época da ditadura, e a maneira que ele é construído é para tentar fazer uma conexão do passado com o presente. Até porque vários temas daquela época estão voltando agora”, disse o diretor executivo do Instituto Vladirmir Herzog, Ivo Herzog.

Entre os novos temas presentes, estão a criação de mecanismos de prevenção e combate à tortura, a reforma na polícia, na segurança pública, e no sistema prisional. Também têm assuntos específicos, como as mulheres, os indígenas e a comunidade LGBT. O site passou a contar ainda com uma área exclusiva sobre a educação na ditadura, que está dividida em quatro partes: educação pré golpe; educação básica na ditadura; universidades e ditadura; e mercado editorial.

O portal, que hoje conta com mais de 1 milhão de caracteres, havia sido lançado originalmente no fim de 2014, quando a Comissão Nacional da Verdade ainda não tinha encerrado os trabalhos e produzido os relatórios finais. “A gente trouxe agora, essa área nova da CNV, mas também as várias comissões estaduais e municipais, e as de fora do país, para que as pessoas entendam o tema, o que é uma comissão da verdade, qual o papel dela”, afirmou Herzog.

O site, que atualmente chega a registrar picos de cerca de 20 mil acessos diários, tem mais de mil itens (posts) publicados, com centenas de imagens, centenas de vídeos e mais de 1 milhão de caracteres. 

“O foco é um foco educacional, é um foco de formação. Além de ser uma grande base de consulta, a gente tem áreas com propostas de atividades para educadores. A gente tenta dar direcionamento para como usar esse material dentro da sala de aula”, destacou o diretor executivo do instituto.

O novo portal pode ser acessado em www.memoriasdaditadura.org .

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Veja também: Memorial da Resistência expõe cartas de presos da ditadura

Bruno Bocchini - Repórter da Agência Brasil
O Memorial da Resistência, na capital paulista, coloca em exposição, a partir de hoje (10), cerca de 70 correspondências trocadas entre presos políticos da ditadura, seus parentes e amigos entre os anos de 1969 a 1974. Carta Aberta – Correspondências na Prisão traz mensagens que foram mantidas guardadas pelos próprios ex-presos e familiares por mais de quatro décadas.

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Exposição Carta Aberta
-Correspondências na Prisão
DIvan Trimigliozzi/Memorial
da Resistência
“Você percebe que essas correspondências eram uma forma de eles permanecerem conectados com o lado de fora [da prisão], e também de saber notícias do que estavam acontecendo”, ressalta a curadora e coordenadora do Memorial da Resistência, Kátia Filipini.

O conteúdo das correspondências mostra que os presos buscavam, nas primeiras mensagens, não deixar os parentes preocupados, apesar da situação que encontravam no cárcere. Segundo a curadora, é possível depreender das mensagens que eles e familiares, na tentativa de diminuir o risco de a correspondência ser bloqueada pela censura, evitavam alguns assuntos nas cartas, como a tortura.
“O que você vai perceber é que, em nenhum momento, no início da prisão, eles falam da questão da tortura. Se estavam presos na Oban [Operação Bandeirante] eram torturados, mas eles não falam para os familiares. Já em cartas posteriores, diziam que os primeiros momentos foram terríveis, mas em nenhum momento eles entram em detalhes”, disse Filipini.

A curadora ressalta que apesar de as cartas tratarem predominantemente da ansiedade pela liberdade e da angústia da prisão, os presos políticos mostravam, nas mensagens, convicção de sua ação. “Em nenhum momento eles se arrependem. Eles acreditavam que estavam tentando mudar o regime”.

A exposição ocorre no Memorial da Resistência de São Paulo, Sala 2 – 3º andar, Largo General Osório, 66 – Luz. A mostra estará aberta até 20 de março de 2017. Informações adicionais podem ser encontradas em memorialdaresistenciasp.org.br.