Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

2017 e a penúltima etapa da viagem de um governo kamikaze chamado Rollemberg

Quarta, 18 de janeiro de 2017

O governador precisa decidir se reassume o comando do Buriti


O governo de Rodrigo Rollemberg (PSB) se assemelha a um grande trem desgovernado. Ele precisa contar com a sorte para que os passageiros cheguem com segurança até o fim da viagem. Não será uma missão fácil.

Desde o início desta gestão, o que a população tem percebido e comentado é que o governador sempre decide seguir o caminho mais cruel. No início, era fácil justificar as ações pela "grande crise econômica jamais vivida pelo Distrito Federal”. Este discurso, no entanto, foi desfiando e já se esgotou. Já deu.

Nas ruas, é difícil ouvir alguém que esteja convencido de que a crise é o único problema. Para muitos, falta competência ao chefe do Executivo. Se não for de fato, ficará como de direito. Afinal, não há um acerto sequer de toda a equipe ao administrar as crises que não são exclusividades deste governo. Vários outros governantes já passaram pelos mesmos problemas e os exemplos mostram o que ocorreu.

Só para argumentar, nossa cidade amanheceu com as passagens mais baratas novamente. Você assustou? É verdade. A decisão de recuar no reajuste não foi de longe algo pretendido pela atual equipe de governo. Pelo contrário. Quando a Câmara Legislativa se uniu para derrubar a decisão do socialista, demonstrou que deixou de lado a tradicional submissão daquele Poder com o Executivo e preferiu ouvir a voz das ruas. Parecendo um surdo, Rollemberg há tempos não sabe o que é ouvir.

Com a arriscada estratégia de recorrer à Justiça, e judicializar seus “poderes”, o governador até conseguiu uma série de vitórias temporárias. Foi assim com o aumento dos servidores, aprovado por lei, mas que o socialista fez questão de suspender. Uma atitude para lá de arriscada, tendo em vista a grande quantidade de funcionários públicos que vivem no Distrito Federal. De lá, já ganhou muita antipatia, inclusive de eleitores. Isso só para registrar um exemplo.

Quando tomou a decisão de reajustar as passagens de ônibus e metrô, Rollemberg confiou no poder de sua caneta. Assumiu o risco. Enfrentou a população, deu as costas para a Câmara Legislativa, que marcou a independência da atual gestão. Só que desta vez, não foi como o governo esperava.

Sem dialogar, sem ouvir ninguém e sem querer aceitar a derrubada de seu decreto que aumentou as passagens do transporte pelo Legislativo, o chefe do Executivo acionou a Justiça, mas desta vez o roteiro seguiu outro rumo, Rollemberg bateu com a cara no muro. O desembargador Getúlio Moraes de Oliveira, relator da Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin), pediu ajuda ao Conselho Especial da Corte, formado por mais 17 magistrados. Juntos, eles vão decidir se o Projeto de Decreto Legislativo (PDL) aprovado pelos deputados distritais está de acordo ou não a Constituição.

Mesmo ao contrariar uma de suas principais promessas de campanha, a de não reajustar as tarifas do transporte público, e de ser autor de projetos de concessão de passe livre para vários segmentos, o socialista investiu contra a vontade da população e de sua própria história. Rollemberg parece não ver e não ouvir. Assim tem perdido cada vez mais, a credibilidade que ainda lhe resta.

Assim como outros inúmeros, o exemplo das tarifas serve apenas para ilustrar a falta de habilidade, de traquejo politico e de vontade da atual administração de tentar, ao menos, ouvir o que o povo tem a dizer. É um equívoco após o outro. A desconfiança ultrapassa o povo e começa a chegar dentro de órgãos de controle e até mesmo no Judiciário. Não é arriscado apostar na possível derrota jurídica do chefe do Executivo. Alguns desembargadores já sabem que há outras formas de atravessar essa crise.

Se for derrotado na Justiça, será a prova que faltava para Rollemberg entender que sua gestão está descontrolada. Reverter a péssima imagem que assombra sua administração passa a ser quase um milagre. 

O discurso de austeridade de Rollemberg a cada dia se desfazendo, já era. As promessas de equilibrar as contas são desmentidas a cada momento. Não se vê resultados práticos de gestão. Só há punições de todas as ordens para quem o colocou na principal cadeira do Distrito Federal. A vida útil política do governador parece que se aproxima do fim. 

Não custa lembrar que o grande trem desgovernado está nessa montanha russa por um único motivo: o socialista, por mais irônico que pareça, está próximo demais de burocratas. Está longe o bastante de quem realmente lhe garantiu um voto de confiança: o povo.

Administrar um território como o do Distrito Federal, ouvindo apenas pareceres técnicos ou mesmo a versão de quem apenas lucra com o suor do cidadão, é o maior equívoco de seu governo. O cidadão está carente de boas notícias. 

Há quem aposte que os distritais já não querem responsabilidade sobre os rumos desse trem. O governador precisa decidir se reassume o comando do Buriti - e desenvolve o papel para o qual foi eleito - ou se, mesmo sem querer, tem trabalhado para entregar de vez a cabine de comando ao Legislativo local. Porque, pelo visto, a própria Justiça já não quer ser mais co-piloto dessa viagem kamikaze. Seria demais enterrar três Poderes de uma vez só. Para eles, um é o suficiente. Resta saber qual.