quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

Cida Torneros: Desde Alcatraz até os dias de Alcaçuz, vai raiar a liberdade no horizonte?

Quinta, 19 de janeiro de 2017
Alcaçuz



De Alcatraz a Alcaçuz*
Maria Aparecida Torneros
Da história do presídio por onde andou até Al Capone, na ilha localizada na baía de São Francisco, restam lendas e muitas verdades incontáveis.
Por aqui, à beira do Atlântico, na capital do Rio Grande do Norte, cidade que já abrigou bases militares americanas nos idos da segunda grande guerra, temos a nossa Alcaçuz.
Por lá, no momento, também há uma sangrenta guerra.
Desde Alcatraz até Alcaçuz, uma simbologia desumana ou bestial cerca de muros ou de águas, o crime que não se quer regenerar.
Uma entrada de tropas militares nesta guerra carcerária deva ser um recurso emergencial decidido pelos comandantes da defesa Nacional.
Onde está nossa liberdade mesmo? Num hino que prega que ela já raiou no horizonte do Brasil. É cantilena?
Senhores, por favor, bestializar criaturas é mais fácil que investir em educação por certo.
Desde a tal crise de 29 que a economia selvagem do capitalismo egoísta vem formatando sociedades cada vez mais armamentistas e guerreiras.
Alguns dirão que isso acontece na humanidade há milênios.
Com certeza. Mas as cabeças pensantes tentaram nos passar a hipótese de sociedades justas com oportunidades de igualdades.
O que se constata é o crescimento ou surgimento de facções desde as práticas corruptas dos engravatados até as corruptelas dos delitos cometidos por pequenos aviões adolescentes.
Assim costumam chamar os meninos cooptados para a venda avulsa das drogas.
Estas são fonte de altas rendas no mundo inteiro.
O sistema finge que combate enquanto o consumo cresce e o crime avança.
Seres que um dia se diziam humanos tem suas imagens transmitidas ao vivo por televisões cujos repórteres descrevem cenas animalescos para o público constatar o que tá careca de saber.
Armas, drogas, celulares, tudo está ao alcance dos humanos revelados e lhes chegam através de mãos ao alcance. Ou compram ou ameaçam ao passo que o baile continua.
Como se fossem macaquinhos em exposição, eles são exibidos alvoroçados, trepando em telhados, degolando e sendo degolados.
Terror é pouco. Nada supera o poder emblemático dessas cenas. Nem o que se contou das lutas no Coliseo romano de homens enfrentando ferozes animais.
Um sadismo absoluto em meio a um bando de governantes idiotizados. ( Talvez vendidos?)
A pergunta que não quer calar? Até quando construiremos mais presídios do que escolas?
Senhor Deus dos desgraçados…lembrei Castro Alves. É delírio ou é verdade? Terrorismo midiático ?
Incompetência absoluta de programação para recuperar presidiários?
Total incapacidade de ocupa-los em atividades e doação de suas vidas ao caos sem chance de não serem manipulados pelas ditas facções de tanto poder e tamanho espírito organizado?
Somos o que? Uma plêiade de eleitores vis? Nossos escolhidos nomeiam péssimos chefetes para cuidar da segurança como um todo?
Nossos juristas e togados ficam de prontidão ou permanecem em suave recesso?
Oro pelos criminosos também. Pelas vítimas e familiares mais ainda.
Desculpem-me Santos e até Cristo, mas o que devo rezar por esta manada de governantes que parecem mais perdidos do que cegos em tiroteio?
Peço vênia ao Conselho Nacional de Justiça ora presidido por uma mulher mineira e discreta.
Seja macha, Carmen Lúcia. Assuma o que o Brasil espera.
Use a melhor das armas. Ame nosso povo e organize o galinheiro. Tire do puleiro quem só grita, canta de galo, mas não age.
Seja justa. Use mesmo saia justa. Agregue seus pares. Os ímpares também . Se for preciso.
Chame as mulheres. Crie grupos para dar aulas de humanidade nos cárceres.
Talvez Deus até ajude. Porém, cara senhora que disse os versos de Caetano, se alguma coisa está fora da ordem, vamos realinhar forças e honrar esta nação brasileira. Ainda dá tempo.
Alcatraz ficou pra traz. Virou ponto turístico. Alcaçuz e tantas outras prisões nacionais na verdade nos tornam reféns da infecção generalizada que se abate em nossa sociedade de poetas vivos e inocentes mortos diariamente nas ruas, nas cidades, nos campos, nos céus e mares.
Nos ares há profunda tristeza de ver gerações perdidas. Vamos resgatar pessoas ou vamos fazer vista grossa ou fazer de conta que tudo certo como dois e dois são cinco?
Esse Sol vai raiar ou permaneceremos na louca escuridão?
Cida Torneros, jornalista e escritora. Mora no Rio de Janeiro, onde edita o Blog da Cida.


Alcatraz

Texto e fotos extraídos do Blog Bahia em Pauta. Com a autorização da autora do artigo.