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(Millôr Fernandes)

segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Investigações da Lava Jato estão chegando cada vez mais perto de Temer

Segunda, 16 de janeiro de 2017
Da Tribuna da Internet
Carlos Newton

Com mesóclise e tudo o mais, o ditado antigo ensina com total sabedoria: “Dize-me com quem andas e dir-te-ei quem és”. No caso do presidente Michel Temer, o fato concreto é que ele sempre foi cercado de más companhias em sua trajetória política. Seus principais amigos e interlocutores não deixam margem a dúvidas – Romero Jucá, Henrique Eduardo Alves, Eduardo Cunha, Eliseu Padilha, Renan Calheiros, Jáder Barbalho, Sérgio Machado, Edison Lobão, José Sarney, Valdir Raupp e Geddel Vieira Lima, entre outros. Mais parece a escalação do time principal da seleção dos corruptos do PMDB, uma espécie de Barcelona da vigarice política, com Moreira Franco, Sérgio Cabral, Jorge Picciani, Luiz Fernando Pezão e outros destaques no banco dos reservas.

Todos esses políticos têm muita coisa em comum, especialmente as citações em depoimentos dos delatores da Lava Jato, um fato que se tornou tão corriqueiro que o presidente Temer nem leva em conta na folha corrida (êpa!), digo, no currículo de seus ministros e colaboradores.
TEMER A SALVO? – Até agora, o presidente Temer vinha sendo colocado à margem das denúncias de corrupção propriamente ditas. Numa das principais delações, feitas por Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro, e que até parece ter sido engavetada ou esquecida, Temer foi citado pedindo “doação oficial”, ou seja, não existiu ilicitude.
Depois disso, o presidente foi mencionado mais negativamente na denúncia da Odebrecht, por ter feito um pedido concreto de R$ 10 milhões para caixa 2 do PMDB, numa operação operada diretamente por Eliseu Padilha, atual chefe da Casa Civil, que é um dos imexíveis do governo, pois balança mas não cai. As acusações a Padilha se acumulam, já está com bens bloqueados pela Justiça de Mato Grosso, mas continua sendo o homem forte de Temer, uma espécie de Rasputin sem barba.
APERTANDO O CERCO – Mas as investigações da Lava Jato agora começam a apertar o cerco a Temer. O relatório da Operação Cui Bono? (“A Quem Beneficia?”, em latim), envolve um dos vice-presidentes da Caixa Econômica Federal, Roberto Derziê de Sant´Anna, como participante do esquema de corrupção.
Derziê é diretamente ligado a Temer, embora a assessoria da Presidência da República declare que o chefe do governo não tem proximidade com Derziê nem foi o responsável pela nomeação dele na Caixa. Mas deve ser candidatura à Piada do Ano, porque Derziê sempre foi íntimo de Temer, que o indicou para a Caixa na sua cota pessoal de vice-presidente, no governo de Dilma Rousseff.
Em 2015, quando Temer foi nomeado por Dilma para comandar a Secretaria de Relações Institucionais, sua primeira providência foi requisitar Derziê para assessorá-lo no Planalto. Depois, quando Temer saiu desse cargo, Derziê voltou para a Caixa e só foi demitido no ano passado, como represália da então presidente Dilma por Temer ter apoiado o processo do impeachment. E agora em dezembro, o presidente da República nomeou o amigo novamente para a vice-presidência da Caixa, são fatos que não há como negar, chega a ser patética a tentativa da assessoria do Planalto, era melhor não dizer nada.
TEMER, O ESQUECIDINHO – Como se sabe, o presidente da República está com lapsos de memória, outro dia até citou o cruzeiro como moeda nacional, parece que contraiu a mesma doença da ministra da AGU, Grace Mendonça, deve ser contagiante. Mas a Polícia Federal lembra de tudo, sabe que Derziê realmente é amigo pessoal de Temer, que o indicou para a Caixa no governo Dilma e depois o nomeou novamente, já na condição de presidente da República.
O executivo é incriminado na parte do relatório da PF que detalha a operação para a liberação de um crédito de R$ 50 milhões para uma empresa da família Constantino, controladora da Gol Linhas Aéreas. Fica claro que Derziê operava sob as ordens diretas de Geddel Vieira Lima.
E a situação de Temer agora se torna delicadíssima, porque o grupo Constantino já resolveu colaborar com a força-tarefa, para se dizer vítima de extorsão pela quadrilha formada por Geddel, Cunha e Derziê, tudo pode acontecer. E mesmo assim la nave va, nem Fellini sabe para onde.