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(Millôr Fernandes)

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Ao isolar Celina Leão e outras lideranças Rollemberg não melhorará a sua imagem

Quinta, 2 de fevereiro de 2017
Sem liderança e sem governabilidade, Rollemberg não andará para frente

Por Edson Sombra/Fotos: Blog do Callado e Aldo Moreira

Não é de hoje que o governador Rodrigo Rollemberg (PSB) tenta se aproximar de algumas lideranças políticas fortes na capital para tentar surfar nas boas ondas. Ainda na campanha, colou seu discurso no do então candidato ao Senado, José Antônio Reguffe (sem partido) e no já senador Cristovam Buarque (PPS), ainda antes do desgaste do “golpismo”.

No segundo turno das eleições, jogou charme e levou a caçula do ex-governador Joaquim Roriz, a deputada distrital Liliane Roriz (PTB), para apoiá-lo, mesmo de forma velada, o que ocorreu. Para isso, fez visitas de cortesias ao ex-governador Roriz, que passa por constante acompanhamento médico.

Rollemberg sabe, no entanto, que agora o cenário é diferente. Isolado politicamente, o governador começa a remexer no tabuleiro de possíveis aliados para tentar reverter a péssima imagem que colou no gestor socialista.

O maior exemplo foi nesta quarta-feira (31), durante a abertura dos trabalhos legislativos da Câmara Distrital. Afastado do parlamento desde que tomou posse, com desentendimentos corriqueiros e marcantes, Rollemberg acenou que pretende se reaproximar de alguns distritais.

De forma longa e enfática, o discurso do governador também se firmou no posicionamento de manter isoladas lideranças que não devem manter relações amistosas com o Executivo, como é o caso da ex-presidente da Casa, Celina Leão (PPS), que ajudou a eleger o governo socialista.

Para firmar o discurso, Rollemberg enalteceu o trabalho de Liliane Roriz e elogiou sua conduta. A avaliação é que o governador marca, com isso, o afastamento definitivo de Celina, já que Liliane é tida como a responsável pela derrocada da parlamentar e de outros distritais combalidos pela Operação Dracon.

Além disso, o gesto do socialista de nomear Paulo Fona como secretário de Comunicação do governo também reforça a intenção de Rollemberg de se reaproximar do clã rorizista. Fona é um dos assessores ainda próximos ao ex-governador e foi porta-voz durante as gestões rorizistas. Outro aliado de Roriz mantém-se firme na atual gestão: José Flávio de Oliveira continua tocando o relacionamento com a Câmara Legislativa. "Fona não fará milagre enquanto muitos dos auxiliares do governo agirem dentro do governo contra o próprio governo".

A independência de alguns dos secretários e assessores, descompromissados ou sem entendimento político, somados ao estilo de governar de Rollemberg estão cristalizando no subconsciente da opinião pública que o governo do socialista se encontra em estado terminal irreversível. 

Ainda no discurso, Rollemberg direcionou boa parte de seus elogios também ao ex-colega de Senado, Reguffe, mesmo após o senador ter criticado abertamente a gestão do socialista. É uma bandeira de paz, disseram alguns analistas.

É natural que agora, na segunda metade do mandato, Rollemberg tente juntar os cacos de uma série de erros e equívocos que o deixaram sem margem de popularidade para governar. Só há dúvidas se a estratégia surtirá efeito.

O eleitor de Reguffe se mistura ao que elegeu Rollemberg. No entanto, hoje cobra do parlamentar uma postura mais enfática e crítica sobre a atual gestão. Geralmente calado e pouco polêmico, Reguffe atendeu os pedidos de seus eleitores e começou a atacar Rollemberg.

Sobre a aproximação com o clã Roriz, há também ressalvas. O eleitor rorizista vem de uma outra ala da população. Não foi ele que elegeu Rollemberg. Uma parte, pode até ter sido. Mas longe da totalidade. Aliás, Roriz possuía um candidato nas últimas eleições: era Jofran Frejat (PR).

As sinalizações de Rollemberg precisam deixar de ser verbais, ele tem que passar para a prática. Opinião popular não mudará com elogios rasos e insipientes. A população quer ver em ação o que o governo realmente tem feito de bom para as cidades. O discurso de austeridade não cola mais. O de falta de dinheiro, também não.

Trocar cargos de destaque, trazer nomes estratégicos em detrimento do abandono de aliados antigos não são nem de longe soluções para resolver as grandes barreiras sofridas pela atual gestão. Há de se cobrar mais de outros secretários. 

Rollemberg tem que ouvir mais e aceitar o que falam os seus críticos, expurgar de seu governo aqueles que nos bastidores o criticam e lhe encobrem verdades duras, parar de prestigiar outros que também não enxergam ou fingem não enxergar o caos vivido no Distrito Federal e o bajulam. 

Sem liderança e sem governabilidade, Rollemberg não andará para frente. Baterá a cabeça, como vem fazendo, até o fim de mandato. Interessante seria realmente uma reforma administrativa em todo o governo para que, com isso, possa cobrar ações mais enérgica das pastas. Isso, claro, se for a intenção da atual gestão.

Porque se não a for, melhor mesmo deixar seus assessores acomodados nas cadeiras, gabinetes e ar condicionado. Afinal, as eleições estão logo ali e muitos deles serão candidatos.