Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Mães e Anistia Internacional promovem ato contra violência policial no Rio

Quinta, 23 de fevereiro de 2017
Akemi Nitahara - Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro - Mães e familiares de jovens negros mortos por policiais protestam contra a violência, com ativistas da Anistia Internacional, na Candelária (Fernando Frazão/Agência Brasil)
Anistia Internacional, mães e parentes de jovens negros mortos por policiais protestam contra a violência, em frente à Igreja da Candelária                                   Fernando Frazão/Agência Brasil

Como parte dos eventos de lançamento do relatório O Estado dos Direitos Humanos no Mundo 2016/2017, que ocorreu ontem (21), a Anistia Internacional promoveu hoje (22) um ato com familiares de jovens mortos pela polícia, no Rio de Janeiro, em São Paulo, na Bahia, Jamaica e nos Estados Unidos. O ato começou na Candelária e seguiu em passeata até a Cinelândia, onde ocorreu o debate Mulheres negras na resistência e mobilização por direitos humanos.


No trajeto, que seguiu pela Orla Conde e não interrompeu o trânsito, as mães gritavam palavras de ordem pela desmilitarização da Polícia Militar e os nomes dos filhos assassinados. O grupo de teatro Cia do Tumulto acompanhou o grupo fazendo intervenções em que questionavam: "É por ser pobre ou por ser negro?" e "você carrega a maldita cruz do preconceito no peito?"

Segundo a diretora executiva da Anistia Internacional no Brasil, Jurema Werneck, em 2016 a violência policial cresceu tanto que o tema rendeu um relatório exclusivo do órgão.

"Os números estão aumentando, e esse ato quer chamar a atenção para isso, que é um problema continental", segundo Jurema. Ela disse que desde as Américas passam por situação muito grave. "É a região do mundo em que esse problema é mais grave. Não é à toa que a luta também está articulada", acrescentou.

Jurema destaca que todos os participantes do ato, em sua maioria mulheres, entraram no ativismo pelos direitos humanos depois de passar pela tragédia pessoal de perder um filho, um parente.

Ela ressaltou que a fala comum das mulheres é que não eram ativistas, mas se alguém que toma a decisão de lutar por justiça quer dizer "ativista", então elas abraçam o termo com muita honra. "Elas foram levadas à luta por uma situação trágica, mas não recuaram, são incansáveis. Os parentes não vão voltar, mas elas lutam pra que isso não aconteça mais. A dimensão da generosidade da luta delas vale a pena ser destacada".

Depoimentos e revolta
Uma delas é Ana Paula Oliveira, mãe de Johnatha, assassinado em 2014. Ela destacou que, como as outras mães presentes ao ato, só consegue se levantar todos os dias porque tem uma missão. Ana Paula disse que "só existe investigação por causa da nossa luta. Nós saímos do Judiciário como se não fosse nada. A primeira coisa que perguntam na delegacia é se o filho tinha passagem [pela polícia]. Chega de arquivamento! Se fosse uma criança branca, da zona sul, assassinada, não era tratada dessa forma. Chega desse sistema racista"!