Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

Não haverá segurança jurídica para os vendilhões da Pátria

Sexta, 3 de fevereiro de 2017
Da Tribuna da Imprensa Sindical
José Carlos de Assis

Com a eleição de Eunício de Oliveira para a presidência do Senado, e de Rodrigo Maia para a presidência da Câmara reconstituiu-se a Aliança partidária entre o PMDB e o PFL (Dem) que conduziu os primeiros vagidos da democratização após a ditadura de 64. Como âncora da campanha das diretas o PMDB tinha direito de nascença à Presidência da República, mas o acaso matou Tancredo Neves para colocar em seu lugar José Sarney, que encarnava em si mesmo, como prócer do PFL travestido em PMDB, a aliança PMDB-PFL.

Não deu certo. Brigas fisiológicas entre os dois partidos de sustentação acabaram por liquidar o Governo Sarney, que sequer teve condição de apoiar um candidato a sua sucessão. O pomo da discórdia política havia sido as eleições de 86, quando, embalado no sucesso inicial do Plano Cruzado, o PMDB ganhou todos os governos estaduais, exceto um (Sergipe), e ampla maioria na Câmara e no Senado. Contudo, isso fez recrudescer o conflito por espaço fisiológico no Governo, estando na origem da ruptura entre PMDB e PFL.

Tudo isso é para dizer que a atual base fisiológica do Governo é extremamente frágil, como todas as bases fundadas em interesses exclusivamente individuais. Quando os tambores convocarem o povo para as próximas eleições gerais – ou mesmo antes, numa eventual eleição indireta -, ninguém vai segurar a boiada fisiológica. A questão então não é mais espaço, mas espaço para ter espaço. Temas sensíveis para a opinião pública como reforma da Previdência e reforma da legislação trabalhista sairão do campo estritamente ideológico e passarão a incorporar as regras do fisiologismo eleitoral.

Portanto, que os cidadãos decentes do país contenham sua ira: brevemente chegará a hora da desforra. Os vendilhões da Pátria - aqueles que estão entregando mais de R$ 100 bilhões de graça para as empresas de telecomunicações, que estão entregando o controle da Vale ao capital privado, que já entregaram grande parte do pré-sal às petrolíferas internacionais -, não serão os ganhadores eternos do jogo. Em favor dos traidores da Pátria não há segurança jurídica. Quando o poder voltar à mão do povo, talvez via um PMDB regenerado e com alguns aliados não corrompidos, os nacionalistas irão à forra.