Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

sábado, 18 de fevereiro de 2017

Opinião: meus novos amigos

Domingo, 18 de fevereiro de 2017
Da Ponte
Direitos Humanos. Justiça. Segurança Pública 

A fome, o desemprego, o abandono das crianças, a má qualidade da educação e saúde não vão acabar se você se omitir


Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil

Há três dias, ganhei dois novos amigos: o Brendon e o Michel.
Eu os encontro na esquina da rua Apinajés com a avenida Sumaré. Eles chegam ao meio dia e tiram das mochilas aquelas bolinhas que muitas crianças ficam equilibrando nos faróis para, em seguida, pedir algum dinheiro para os motoristas que estão no farol.
Ontem o Brendon me surpreendeu. Ele estava com um papelão com este texto: “Deus Ajuda – Me ajude, preciso comprar material escolar”.
Conversei com o Brendon e com o Michel. Eles me disseram que moram na Favela da Água Branca e que chegam nessa esquina perto do meio dia e vão embora quase seis da tarde.
Hoje, conversei de novo com o Brendon e perguntei se faltava muito para ele comprar o material escolar. Ele respondeu que faltavam os cadernos e o estojo.
É muito triste ver essa cena. Crianças pobres pedindo dinheiro para sobreviver e também ajuda para comprar material escolar e estudar.



É mais triste ainda ver o governo federal reduzindo investimentos em educação no congelamento por vinte anos dos gastos públicos e saber que o atual prefeito de São Paulo anunciou que vai tirar o leite das crianças com mais de sete anos.
Também fica a pergunta: por que o jornalismo não entrevista hoje as crianças para que ela contem suas vidas? Os veículos somente divulgam as informações oficiais sobre a redução de gastos com de educação, saúde e com o leite.
Quem sabe ao conhecer a vida dessas crianças os brasileiros possam ver as consequências na vida real das medidas que vêm sendo aprovadas e que prejudicam os mais pobres do país.
Que jornalismo é esse que não ouve os atingidos pelas medidas aprovadas nos últimos meses? Com certeza, nas redações, muitos jornalistas tentam fazer essas reportagens, mas são impedidos pela linha editorial de rádios, televisões, jornais e sites que mais parecem porta vozes do governo federal, da prefeitura e do governo do Estado de São Paulo.
Lutar contra  a injustiça, a violação dos Direitos Humanos não é uma atitude partidária. É uma atitude humanitária de quem não se conforma com a desigualdade em nosso país.
Reclamar, dizer que não vale a pena discutir política, que nada dá certo no Brasil, que todo mundo é corrupto não vai tornar nosso país mais justo. Ao contrário, vai permitir que a desigualdade aumente no Brasil.
Então pense, participe, se mobilize. Porque a fome, o desemprego, o abandono das crianças, a má qualidade da educação e saúde não vão acabar se você se omitir.

* Elias Novellino é professor de jornalismo na PUC-SP e chefe de reportagem na Record TV.7/02/17 por