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(Millôr Fernandes)

segunda-feira, 27 de março de 2017

"Ainda temos uma chance de passarmos sem o risco de ficar sem água", diz especialista

Segunda, 27 de março de 2017
Do Portal Gama Cidadão
e
Gazeta de Taguatinga


O especialista em Hidrologia, coordenador e professor do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária, da Universidade Católica de Brasília (UCB), Marcelo Resende, fala sobre as medidas do governo para amenizar o racionamento de água e otimizar o abastecimento do Distrito Federal.

A ampliação dos reservatórios garante uma tranquilidade no racionamento de água?
Isso já havia sido decidido há muitos anos, mas agora está sendo colocado em prática por conta da crise. Está sendo necessária a retirada da água do Lago Paranoá, o que, inclusive, está sendo feito de forma muito apressada. Eu acho que se deveria, talvez, preservar o projeto anterior, que previa muito mais um processo de tratamento da água, melhor do que será feito agora. Está prevista a criação de uma estação de tratamento de água do Lago Paranoá, bem maior e com maior capacidade de purificação. Então, essa é uma medida realmente de urgência, para que possamos chegar até a estação chuvosa do final do ano sem muitos problemas.

E a outra ideia é trazer a água do Lago Corumbá IV, em Luziânia. A princípio essa medida abasteceria a região sul do DF, que corresponde às cidades de Santa Maria, Gama e Recanto das Emas. Essa é uma medida interessante, pois a água é de boa qualidade. Porém, o problema de se trazer a água do Lago Corumbá IV é que deverão ser criados sistemas de bombeamento elevatórios, pois a água de lá encontra-se em uma região mais baixa do que o Distrito Federal e isso gera um custo, o que tornaria a água bem mais cara. Mas, são as únicas saídas que temos, pois já estamos com o Sistema Descoberto e Santa Maria em colapso e a população do DF crescendo, o que resulta numa maior demanda de água. Se nós pudéssemos evitar a questão de fluxo migratório e outras ações para que nossa população não aumentasse, nós talvez não estivéssemos nessa dificuldade.

Professor, nós podemos colocar a culpa desse racionamento no governo?
É culpa dos governos, não somente do atual. Primeiramente pela falta de planejamento. Parte da culpa é climática sem dúvidas, nós tivemos estações, principalmente essa última, com pouca chuva. A falta de educação da própria população no uso da água também contribui, pois há um grande desperdício da água. Veja bem, será necessário criar multa para que o cidadão aprenda a usar a água de maneira racional, o que é um absurdo, pois nós já deveríamos ter essa conscientização! Outro fator preocupante é o uso e a ocupação desordenada da Bacia do Descoberto, onde encontram-se aterros de nascentes, o que reduz a vazão da água dos rios, levando a uma redução da taxa de água que chega até o lago e aumentando a taxa de sedimentos que chega à bacia. Então, há uma série de coisas negativas para o lago.

Professor nós corremos o risco de ficar sem água?
O risco agora está um pouco mais baixo com a medida de retirada da água do Lago Paranoá, pois teremos um sistema de transbordo da água do Sistema Santa Maria para o Descoberto. Dessa forma, o Santa Maria será menos demandado, porque toda a área ao redor do Lago Paranoá dependerá somente dele. Essa medida irá amenizar um pouco a situação, então, vejo que ainda temos uma chance de passarmos sem o risco de ficar sem água. Mas, se piorar, iremos passar por um racionamento mais sério, a Caesb já considera aumentar para dois dias o corte de água.

As obras para otimizar o abastecimento no DF ficarão prontas ainda este ano?
A de retirada de água do Lago Corumbá IV não, mas a do Lago Paranoá sim. A previsão é de que fique pronta até maio, pois na realidade é uma obra bem mais simples. Já a outra, que é a construção de uma estação de tratamento, por mais que esteja em processo acelerado, não será para este ano.



Foto: Faiara Assis

Da Redação do Gazeta de Taguatinga - 22/03/2017