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(Millôr Fernandes)

quarta-feira, 22 de março de 2017

Deputados viram réus por corrupção e continuarão a decidir o nosso destino, e o futuro do Distrito Federal?

Quarta, 22 de março de 2017
Do Blog do Sombra
Foto: Metrópoles

Segundo o Ministério Público, Celina Leão, Raimundo Ribeiro, Júlio César, Bispo Renato e Cristiano Araújo são corruptos, praticaram o gravíssimo crime de corrupção passiva.

Por Edson Sombra

O que se espera de homens e mulheres que ocupam cargos públicos é comprometimento com a coisa pública. O atributo mínimo de um deputado deve ser a honestidade. Em 2016, nada menos que 05 (cinco) deputados distritais foram acusados de CORRUPÇÃO, de desviar dinheiro da combalida saúde pública do Distrito Federal.

Segundo o Ministério Público, Celina Leão, Raimundo Ribeiro, Júlio César, Bispo Renato e Cristiano Araújo são corruptos, praticaram o gravíssimo crime de corrupção passiva.

Desde que a acusação surgiu, os deputados sofreram medidas judiciais, como interceptações telefônicas, grampos ambientais, quebras de sigilos bancários, buscas e apreensões e conduções coercitivas. Diversas testemunhas foram ouvidas. Os, hoje, réus por corrupção se dizem inocentes e perseguidos por parte da imprensa, pelo Ministério Público e pelo governador do DF.

Os deputados acusados de corrupção contrataram alguns dos advogados mais caros da cidade. Disseram que iam desconstruir uma farsa e provar as armações do Ministério Público e do Governo do DF. Contrataram alguns blogs sujos da cidade para espalhar acusações e os defenderem nos espaços alugados, que apelidaram de imprensa alternativa. A política distrital é suja e, como se percebe, segundo o Ministério Público do DF é corrupta. Não há nada de novo entre a corrupção e jornalistas vendidos. O dinheiro sujo abre pontes e deixam todos calados e de quatro diante da roubalheira.

Mas a cantilena dos distritais, acusados de corrupção, tinha encontro marcado com a Justiça. A denúncia e as provas que a acompanham seriam enfrentadas pelos Desembargadores do TJDFT, que teriam a triste missão de dizer se existem indícios suficientes de que os deputados distritais são corruptos e se desviaram dinheiro da saúde. Os deputados Celina Leão e Cristiano Araújo tentaram evitar o encontro de suas versões e das provas com o Judiciário. Foram até o Supremo Tribunal Federal e se fizeram acompanhar da OAB/DF, mas o encontro não foi adiado. O julgamento foi mantido para o dia 21 de março de 2017.

A OAB/DF, parceira dos advogados contratados à peso de ouro, se mostrou solidária com os acusados de corrupção. Juliano Costa Couto compareceu a sessão de julgamento e deu um forte e caloroso abraço em acusados de corrupção. Durante o julgamento, o Desembargador José Divino de Oliveira chegou a se confessar surpreso com a atitude da Ordem dos Advogados do Brasil.

O relator do processo, Desembargador José Divino de Oliveira, com a simplicidade e honestidade que o caracteriza, afirmou que estava triste em julgar a ação, tão sensível ao contribuinte do DF.

A Vice-Procuradora Geral de Justiça Selma Sauerbroon afirmou que as provas são robustas e que os deputados distritais, acusados de corrupção, tentaram obstruir as provas. Pediu que eles fossem proibidos de colocar os pés na Câmara Legislativa do Distrito Federal.

O advogado do deputado Raimundo Ribeiro disse, da tribuna, que a decisão dos Desembargadores poderia significar a morte política dos deputados acusados de corrupção. A frase foi infeliz, porque a corrupção na saúde significa a morte física para as vítimas.

O relator do processo afirmou, quanto à acusação de corrupção, endereçada aos deputados Celina Leão, Raimundo Ribeiro, Júlio César, Bispo Renato e Cristiano Araújo que encontrou na denúncia “plausibilidade, justa causa e indícios de materialidade e autoria”. Afirmou, sobre os atos de corrupção apontados pelo Ministério Público, que “a coisa é dramática”.

O Desembargador Belinatti, ao apresentar um voto de 19 páginas, afirmou que “a operação Drácon descortinou um esquema de corrupção envolvendo deputados distritais e servidores”. Segundo Belinatti houve “uma negociação ilícita de emendas parlamentares mediante solicitação de vantagem indevida”. Afirmou que os indícios são veementes e que as investigações continuam, porque há muito mais coisas para aparecer.

A denúncia foi recebida e os deputados distritais Celina Leão, Raimundo Ribeiro, Júlio César, Bispo Renato e Cristiano Araújo agora são réus pelo infamante crime de corrupção, praticado, segundo a denúncia, com dinheiro destinado ao pagamento de Unidades de Terapia Intensiva (UTI). Enquanto eles são processados por corrupção com dinheiro de UTI’s, o brasiliense pobre continua morrendo por falta de vagas de leitos de UTI’s. A relação entre a acusação e as mortes é direta.

A deputada distrital Celina Leão, acusada de corrupção com dinheiro da saúde, logo após soltou uma nota à imprensa, dizendo que a decisão do Tribunal de Justiça foi equivocada, que não existem provas, ou melhor, que as provas que existem deixam clara a sua inocência. Disse que o julgamento foi politizado e que a população está sofrendo com a injustiça que ela (Celina Leão) está sofrendo. Agradeceu a Deus.

Agora a Câmara Legislativa do Distrito Federal terá que dar uma resposta à sociedade. 05 deputados distritais são acusados de cometerem atos de corrupção com dinheiro da saúde pública. Corrupção na saúde! Será que os deputados distritais honestos – sim, eles existem – vão tolerar conviver com quem é acusado de roubar a saúde? Será que o espírito de corpo vai prevalecer sobre a decência?

Manter os processos de quebra de decoro parlamentar parados vai trazer à sociedade a clara percepção de que os 24 deputados distritais, que representam o povo, são tolerantes com a corrupção, são lenientes com a pior espécie de corrupção, aquela que rouba recursos da saúde e mata as pessoas.

Os sindicatos ligados à saúde pública também não mais possuem o direito de se aliar com deputados distritais réus por corrupção na saúde, sob pena de verem os seus discursos esvaziados. Quem defende a saúde pública não pode tolerar nem mesmo a suspeita de corrupção em tal setor, muito menos a suspeita veemente, decorrente do recebimento da denúncia.

Deputados, réus por corrupção, do ponto de vista social e político, não podem ser protagonistas do processo legislativo, da formação e discussão de leis que influenciarão os nossos destinos. Tolerar a corrupção é nos tornarmos, igualmente, corruptos, causadores de mortes.