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(Millôr Fernandes)

quinta-feira, 30 de março de 2017

GDF causa transtorno para 30 mil moradores de Samambaia com lixão

Quinta, 30 de março de 2017

Do Blog do Sombra
Por Edgar Gonçalves Foto: Reprodução/Divulgação

Moscas e o fedor de lixo ditam a rotina de 30 mil moradores das quadras 800 e 1000, da Expansão de Samambaia. Devido à infestação do inseto, a Escola Classe 831 fechou as portas nesta quarta-feira (29) para dedetização. Comerciantes se desdobram para não terem seus produtos contaminados. O problema é mais grave num raio de 3 Km, onde estão instalados um frigorífico para o abate de suínos e frangos, uma fábrica de adubo de esterco dos animais, a Estação de Tratamento de Esgotos da Caesb e o novo aterro sanitário do Serviço de Limpeza Urbana (SLU).


Os reflexos da praga de moscas são vistos em todas as quadras 800 e 1000. Na entrada do mercado de Hamilton Gomes, 37 anos, existe “cemitério” de moscas, que morreram após a aplicação de inseticida. Mesmo varrendo o estabelecimento três vezes ao dia, os insetos se acumulam. Não por coincidência, os produtos mais vendidos são os pesticidas, que estão em falta na prateleira. No açougue foram instalados três ventiladores para espantar os bichos.

Na padaria, as moscas ficam ainda mais à vontade. Os sucos e pães doces são os principais alvos, obrigando os funcionários a se revezar entre a produção e a função de abanar os insetos para evitar que eles invadam as vitrines. Um pesticida é aplicado duas vezes no período da manhã e duas à tarde. “Se fizer o suco e deixar destampado, as moscas chegam antes. Se o ambiente estiver escuro e você ligar o celular, elas vêm pra cima de você”, disse Nilda
Evangelista, 38 anos.

No início da tarde, um cartaz afixado no portão de entrada da Escola Classe 831, advertia: “Hoje não haverá aula. Motivo: infestação de moscas”. O colégio atende alunos da educação infantil – de 0 a 6 anos. Moradores contam que, na semana passada, seus filhos se queixaram de ter encontrado moscas na merenda da escola.

Vilões – A Expansão da Samambaia começou a ser habitada em 2008. Os moradores afirmam que o problema do excesso de moscas na região existe há seis anos e só tem piorado nos últimos tempos. Porém, apontam vários fatores – desde a Unidade de Gerenciamento de Lodo, da Caesb, o frigorífico JBS/Seara, a fábrica de adubos da Bonasa, até o recém-criado aterro sanitário do SLU.

O líder comunitário Délcio Pereira afirma que o problema está no adubo da Bonasa. “Os moradores já não aguentam mais. Vamos nos mobilizar, procurar o Ministério Público, a Secretaria de Saúde e todos os órgãos competentes que possam nos ajudar. Vamos lutar para que tirem este adubo daqui”, disse.

Os resíduos sólidos gerados pelo abate de suínos e aves são encaminhados à Fábrica de Composto Orgânico (Bonafértil), que fica a menos de 1 Km das quadras 800 e 1000. Segundo um agricultor da região, que preferiu ser identificado apenas como Luciano, responsável pelo adubo, o espaço já funcionava quando os moradores chegaram ao local.

“Esta não era uma região para ter casas. O problema não é exclusivo do adubo. Temos um programa de controle de moscas e cobrimos o esterco com lona. Duvido que nossos vizinhos tenham o mesmo cuidado. Os próprios moradores jogam lixo no meio da BR, criam cavalos… Na época de chuva e calor, as moscas fazem a festa”, disse Luciano.

Aterro – O Governo de Brasília inaugurou o aterro sanitário de Samambaia no dia 17 de janeiro deste ano para substituir o lixão da Estrutural, considerado o maior da América Latina. Desde então, caminhões do Serviço de Limpeza Urbana (SLU) levam os resíduos sólidos para Samambaia. A instalação tem capacidade para armazenar 20 milhões de toneladas nos próximos 13 anos.

Três meses antes da inauguração do aterro, no dia 17 de outubro de 2016, a Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb) inaugurou a Unidade de Gerenciamento de Lodo, a menos de 500m da fábrica de adubos e a 1 Km do aterro.

Por meio de nota, o SLU informou que todos os resíduos depositados diariamente no Aterro Sanitário são cobertos para evitar a proliferação de vetores, como pássaros, ratos e moscas. “Diante da reclamação, o SLU vai verificar a necessidade de a operação do aterro sanitário prever a cobertura dos resíduos em frequências menores, minimizando, dessa forma, o tempo de exposição”, diz o texto.